ORAÇÃO

"Ó Senhor, quão maravilhosa é Vossa face, a qual um jovem, se ele se esforçasse por imaginá-la, conceberia como a de um jovem; um adulto, como a de um homem; um velho, como a de um velho! Quem poderia imaginar este único padrão, o mais verdadeiro e o mais adequado de todos os rostos – de todos e de cada um – este padrão que é tão perfeitamente de cada um como se não fosse de nenhum outro? Ele teria que ir além de todas as formas de rostos que podem ser formados, bem como de todas as figuras. E como poderia ele imaginar um rosto quando ele tem que ir além de todos os rostos, e de todas as semelhanças e figuras de todos os rostos e de todos os conceitos que podem ser formados acerca de um rosto, e de todas as cores, adornos e toda a beleza de todos os rostos? Por conseguinte, aquele que avança para observar Vosso rosto, enquanto ele formar qualquer conceito Dele, está longe de Vossa face. Porque todo conceito de face não alcança, Senhor, a Vossa face, e toda beleza que pode ser concebida é menor que a beleza de Vosso rosto; todas as faces têm beleza, mas nenhuma é a própria beleza, mas Vossa face, Senhor, tem beleza, e por ter beleza é ser. Ela é, portanto, a própria Beleza Absoluta, que é a forma que dá existência a cada forma bela. Oh, rosto extraordinariamente gracioso, cuja beleza todas as coisas às quais é permitido admirá-lo não se cansam de admirar! Em todos os rostos é visto o Rosto dos rostos, por trás de um véu e de um enigma; não obstante desvelado, ele não é visto, até que acima de todas as faces um homem penetre em certo segredo e silêncio místico onde não há nenhum conhecimento ou conceito de rosto. Esta névoa, nuvem, escuridão ou ignorância em que penetra aquele que procura Vossa face quando ultrapassa todo conhecimento ou conceito, é o estado sob o qual Vossa face não pode ser encontrada a não ser velada; mas a própria escuridão revelará que Vossa face está ali, além de todos os véus".

Nicolau de Cusa, De Visione Dei