terça-feira, 25 de janeiro de 2011

MANUAL DE REDAÇÃO

Quando era estudante de jornalismo, eu aprendi que os repórteres tinham de escrever os seus textos de forma direta e clara, indo rapidamente ao ponto.

Isso acontece por dois motivos básicos: devido à padronização dos jornais (todos eles se parecem, cada vez mais) e à pressa do leitor, que mal lê uma reportagem inteira, ficando limitado ao título do texto e aos dois primeiros parágrafos, no máximo.  

Essa regra era tirada dos dois manuais de redação jornalística considerados de qualidade à época: o de A Folha de S. Paulo e o de O Estado de S. Paulo

O que escrevo neste blog é um não-exemplo de como deve ser um texto jornalístico. 

Mais uma ilustração de lixo na área, este tirado de A Folha, em texto escrito por Josias de Souza (o mesmo jornalista que ressucitou o termo bugrada, em texto sobre os eleitores de Dilma Roussef): 
  
Último mês de Lula teve desemprego ao redor de 5%

Nem só de armadilhas fiscais é feita a herança do governo Lula. A gestão Dilma Rousseff levará à vitrine um rubi do testamento.


Lapidada nas oficinas do IBGE, a pedra só virá à luz nesta quinta-feira (27). Mas já brilha em gabinetes da Fazenda.
A taxa de desempreso de dezembro de 2010, último mês da presidência do ex-soberano, ficou em torno dos 5%.
Em novembro, a média nacional ficara em 5,7%. Já era, então, o índice mais baixo dos dois reinados de Lula. 
O desemprego caiu um pouco mais graças a um fenômeno típico dos finais de ano: o incremento das contratações temporárias, sobretudo no comércio.
Sabe-se que a taxa de janeiro de 2011 deve registrar uma alta. Mas a equipe de Dilma, mãos postas, trabalha com uma hipótese otimista.
Imagina-se que boa parte dos contratos transitórios do Natal passado vai se converter em registros definitivos que sobreviverão ao Carnaval. A ver.
Ok. Vamos aos comentários...

Em primeiro lugar, é importante perceber que se trata de uma nota, ou seja, de um texto curto. Em segundo lugar, Souza tem a liberdade para escrever qualquer bobagem...

Mas...

1. Porque o real tema da nota só surge no terceiro parágrafo? 

O tema do texto é de que o desemprego, no último mês do governo Lula, deve bater em 5%, segundo análises do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Entretanto, o jornalista de A Folha prefere começar o seu texto com uma leve insinuação crítica ao recém-iniciado governo Dilma.

"Nem só de armadilhas fiscais é feita a herança do governo Lula. A gestão Dilma Rousseff levará à vitrine um rubi do testamento".

Em bom jornalismo, isso se chama nariz-de-cêra. E não serve pra nada, além de mostrar as preferências do autor do texto. 


E todo mundo sabe que os jornalistas de A Folha servem de papagaio-de-pirata paras as opiniões do clã Frias. 

Mas, tem mais...

2. Um dos elementos mais importantes de um bom texto, seja ele qual for, é a contextualização. O leitor não é obrigado a saber de tudo e cabe ao jornalista situá-lo no tema que está sendo tratado.

Exemplo: ao citar Souza, eu mencionei que ele já havia se referido aos eleitores de Dilma Roussef como bugrada, um termo pejorativo. Por essa menção, o leitor deste blog já sabe que qual campo se situa o jornalista de A Folha

No mínimo, no campo dos preconceituosos... 

A contextualização ajuda a situar o leitor no assunto. E fornece mais informações, de modo que quem lê possa formar opiniões.

Assim, se realmente quisesse ter escrito um texto informativo, Souza poderia, por exemplo, ter mecionado que a taxa de desemprego em 2002, último ano da Era FHC, ainda segundo o IBGE, a taxa de desemprego roçava em 9,2%. 

Ou seja, no final da Era do Tucanato, em cada dez brasileiros aptos a trabalhar, nove estavam desempregados.

Mas para que citar essa informação?

E desde quando os jornais querem informar alguém? O objetivo deles é convencê-los de que a opinião deles está certa...

Mesmo que a realidade vá para o outro lado.

A ver...

Paz e Bem! 

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