segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

MACHISTA, EGOÍSTA E OUTRAS COISAS DETESTÁVEIS

Isso acontece todos os dias...

"Você se lembra de como viemos parar aqui?", ele me perguntou, fixo em mim com seus olhos cheios de névoa. Eu estava deitado em uma rua, perto da calçada. Minha camisa branca, cinza agora.

"Não", eu respondi. 

O cara deu de ombros e se virou, ao que parece, tentando achar alguma ponto de orientação.

E eu, eu nem sabia que cidade era aquela. 

Eu o conheci em um bar, como deveria de ser. Calado, concentrado na bebida. Cabelos caídos no rosto. Amargo e velho. Como eu serei um dia, talvez. Mas, graças a Deus, não provavelmente.

Hoje, sou jovem e amargo.

- Ela me abandonou, ele disse, contando a verdade, depois de meia hora de conversa sem importância.

"Só pode ser", eu pensei. 

É preciso passar por uma temporada de coração partido, auto-estima na sarjeta, para se reconhecer outro quebrado ao meio. 

- É! Elas são foda!, eu disse, tentando ser solidário - Mas, me conta: o que você fez?

Sempre tem uma droga de motivo, desde andar por aí com outra, sem ter o cuidado necessário para esconder o feito, ou alguma bobagem, como a nossa tão baixa estima pelas sessões de terapia de casal, feitas a cada vez que algo quebra ou simplesmente não dá certo. 

- Como assim?, ele começou...

- Sou seu amigo! Pode me falar... 

- Comi uma colega do trabalho, lá da empresa...

- Ah! E foi mais de uma vez?

Ele pareceu se incomodar com a pergunta. Eu mudei o tom.

- E como a mulher descobriu?

Outra vez, o olhar vermelho incomodado.

- Não era minha mulher. Era minha namorada...

- Tá. E como ela descobriu?

- E-mails. Orkut. Essas merdas...

Não comecei um discurso sobre a necessidade de ser discreto quando se usa a internet, ainda mais quando se está por aí aprontando. Fiquei quieto. Até que eu disse:

- É. É foda.

- É uma merda, ele concordou. 

- E quando foi que ela te chutou?

Mais uma vez, péssima escolha do que dizer. Ele ficou irritado, mas estava chapado demais pra brigar. Só afundou ainda mais na cadeira. 

Era triste de se ver.

-  Bom, foi um prazer conversar contigo. Talvez ela volte...

- Ela não vai voltar..., ele disse. 

-  Bom, tudo bem, né? Não precisa ficar assim por causa de UMA mulher... 

Sem sorriso. Sem nada. Apenas tristeza entorpecida. 

Uma típica cena de filme. O cara leva um fora dela. E vai pra um bar se embebedar. Sem amigos, sem esperança, sem sorrisos e sem futuro.

- Você tá de carro?, eu perguntei - Vamos a um bar de verdade...

- Bora.

Ele se levantou na segunda tentativa. Peguei a chave do carro.

E seguimos em frente. Até a manhã fatídica. Perdidos em alguma rua. Em alguma cidade.

Eu me levantei e o segui. Antes que ele fizesse mais alguma bobagem, mas ele andava rápido demais. Eu estava mancando, sei lá porquê.

Finalmente, reavaliei nossa amizade. E percebi que não me importava.

Achei as chaves de seu carro no bolso da calça. E as joguei fora.

E segui meu caminho.

Ah, isso jamais aconteceu... Mas bem que poderia, anos atrás. As personagens são típicas e estão aí fora aos montes. O cenário e a situação, apenas uma desculpa para contar uma história de bêbados.

Nunca aconteceu. Mas aconteceu todos os dias.

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