quarta-feira, 29 de setembro de 2010

CAIO FÁBIO RIDES AGAIN

Bom, é verdade... Já fazia um bom tempo que eu não postava nenhum texto de Caio Fábio aqui neste modesto blog.

Mas, apesar dos pesares, o homem ainda tem coisas a dizer e, como ele faz isso melhor do que eu, tomo a liberdade de usar seus textos.

Paz e Bem!
O PIOR E O MELHOR DA EXISTÊNCIA!... você quer?

Nada pode fazer maior mal mental e espiritual a um ser humano individualmente do que o ódio que se veste de auto-piedade.
Sim, pois pelo ódio todas as ações de um homem se fazem justas aos seus próprios olhos. Ora, um homem justo aos seus próprios olhos vira satanás; sim, se torna o acusador da vida e de tudo o que nela exista...
Quando o ódio se veste de auto-piedade, então, dois demônios para a alma nela se instalam, fazendo surgir um “terceiro termo psicológico”, que é o ódio amargurado.
Digo isto por admitir que exista o ódio ativo e valentemente perverso, que é o ódio que sentem e praticam os fortes de desgraçado espírito, e a História na maior parte das vezes é, foi e será feita de tais ambições do ódio que se vinga dos que odeia pelo ódio —; ao mesmo tempo tenho que também admitir a existência do ódio fraco, que é aquele que se veste de pena de si mesmo, o qual gera não apenas a inviabilidade de que qualquer coisa dê certo para tal pessoa, mas, além disso, inviabiliza qualquer existir ao lado de tal pessoa; a qual, pela auto-piedade existe para sofrer a vida, e, por isto, mais odiará a humanidade e tudo o que seja caminho de paz; visto que em tal pessoa até os “amigos de ódio” são seus inimigos de existir; isto se não viverem para levá-lo nas costa; e mais: sempre como quem serve; pois, se for como amizade que ajuda, até esses sofrerão o ódio do recalcado que em razão da auto-comiseração odeia até ter que precisar de qualquer ajuda.
Gente assim sofre não de uma doença, mas de todas; visto ser habitada pela enfermidade/causa/essencial de todas as enfermidades na vida.
De outro lado cada dia vejo que as pessoas mais livres para ser e viver, são justamente aquelas que já morreram; e que tratam toda agressão humana como o fazem os defuntos.
Sim, simplesmente não podem mais falir, nem brigar, nem se ofender, e nem se fazerem escravos de nenhum existente/supostamente/vivo.
A ênfase do Evangelho é no morrer a fim de que se possa viver; posto que o existir sem o morrer para o mundo, apenas cria a existência de um ser cativo de medos, opiniões, impressões e do desejo de se impor e de se fazer vivo pela sua supremacia aparente imposta sobre os de-mais...
Houve um tempo em que eu fui um homem muito vivo, mesmo enquanto pregava a morte para que se entrasse na vida.
Graças a Deus, porém, morri e continuo a morrer todos os dias; e quanto mais morto me manifesto em relação ao mundo, mas sinto a vida de Deus me possuir; e ainda: mais me sinto sem medo de nada; mais me torno fraco e forte; sem nada, mas possuindo tudo.
Mas a verdade é que a gente só morre quando morre mesmo; posto que para se provar a vida plena não se pode estar apenas meio-morto.
Ora, esse morrer ou é um atropelamento do amor de Deus sobre a nossa supostamente viva existência; ou então ele acontece como quebrantamento; que é a benção apenas dos bem-aventurados que se tornam humildes de espírito, ou que por já serem humildes de espírito se tornam bem-aventurados.
Assim, o caminho para a vida é feito de morte para o mundo e suas importâncias e guerras, ao mesmo tempo em que em tal caminhar não pode haver jamais nem ódio e nem auto-piedade; mas tão somente a vontade ávida de se crescer em amor e verdade valente na manifestação de ser em Deus e diante dos homens.
Tal homem pode ser forçado a deixar a Estrada milhões de vezes, mas jamais mudará o seu Caminho!
Esses que assim são [...] — são vitoriosos contra a morte e contra a vida; contra anjos, principados, potestades e poderes; contra o presente, o passado, as alturas e os abismos; sim, pois tais pessoas andam apenas o seu caminho em Deus; sempre sabendo que nada pode separá-los do amor de Deus; e, portanto, fazendo deles gente não apenas vitoriosa segundo Deus, mas, além disso, também pessoas que vivem sem medo algum diante dos homens; e, por isto, sem serem mexidos na direção de seu andar.
Saiba isto:...
Qualquer incompetência amorosa, positiva e solicita será sempre mais útil à vida do que maior genialidade que seja amargurada, odienta e cheia de auto-piedade!
Antes de entender isso não peça ajuda a Deus por nada; nem busque Nele qualquer coisa; pois, creia: Jesus disse que nem Deus consegue ajudar aqueles que quando vêem alegria, choram, e quando vêem dor, gargalham.
Faça morrer sua vida neste mundo; e abrace a morte para o mundo como o diploma que o habilita à verdadeira Vida; aquela que não vem do mundo, mas da confiança contente no amor de Deus — ainda que não lhe haja qualquer afirmação de crédito humano.

Nele, que ensinou isto e praticou o que ensinou, sendo Ele o Caminho por ser o Único que nunca foi desviado do Caminho, da Verdade e da Vida,

Caio

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Resenha:A natureza do estudo da religião: o papel da explicação”, de Donald Wiebe

Introdução

O presente trabalho tem como objetivo oferecer uma resenha sobre o capítulo 3, “A natureza do estudo da religião: o papel da explicação”, extraído do livro “Religião e Verdade”, de Donald Wiebe.
No Brasil, o livro foi publicado com o título “Religião e Verdade: Rumo a um paradigma alternativo para o estudo da religião”, pela Editoral Sinodal, do Rio Grande do Sul, uma editora de inspiração luterana.
Neste trabalho, a título de sistema de exposição, serão abordados os seguintes temas: uma breve exposição da biografia do autor, em termos acadêmicos; a proposta de seu trabalho de pesquisa, com subseqüentes desenvolvimentos e as considerações finais.

O autor

Wiebe é professor da Trinity College, em Toronto, no Canadá. Suas áreas de interesse no que tange à pesquisa científica são a Filosofia das Ciências Sociais, Epistemologia, Filosofia da Religião, História do Estudo Acadêmico e Científico da Religião e Método e Teoria no Estudo da Religião.
Entre suas principais publicações a respeito do estudo científico do fenômeno religioso, destacam-se obras como The Politics of Religious Studies: The Continuing Conflict with Theology in the Academy (A política dos estudos religiosos: o continuo conflito com a Teologia na academia), de 1999 ; Beyond Legitimation: Essays on the Problem of Religious Knowledge (Além da legitimação: ensaios sobre o problema do conhecimento religioso, de 1994; The Irony of Theology and the Nature of Religious Thought (A ironia da Teologia e a natureza do pensamento religioso), de 1991 e Religion and Truth: Towards and Alternative Paradigm for the Study of Religion (Religião e Verdade: Em busca de um novo paradigma para o estudo da religião) de 1981.

A necessidade da teoria

O principal tema tratado no capítulo que será examinado neste texto diz respeito à questão da necessidade, da parte das Ciências da Religião, ou seja, do conjunto multidisciplinar de ciências que têm o fenômeno religioso como seu objeto de estudo, da formulação de uma teoria explicativa sobre o fenômeno que busca analisar.
Segundo Wiebe, é necessário abandonar a tradicional visão de que não é possível oferecer uma explicação científica – ou uma teoria científica – sobre a religião, sem correr o risco de reduzir o fenômeno a algo sem importância.
Ao adotar esta linha de argumentação, o autor coloca-se em oposição às tradicionais interpretações do fenômeno religioso, que consideravam a religião segundo dois principais pontos de vista.
O primeiro, de que a religião é uma ilusão. Entre os defensores dessa linha interpretativa, podemos citar autores tão diferentes entre si como Karl Marx – para quem, a religião era uma espécie de reflexo invertido da realidade social – e o pai da psicanálise, Sigmund Freud que, em textos como “O Futuro de uma Ilusão”, por exemplo, afirma que a religião é um traço da personalidade neurótica.
A segunda linha interpretativa afirmava que, mesmo não sendo uma ilusão, o estudo científico da religião deveria buscar compreender de que forma o fenômeno religioso oferecia pistas para a interpretação da realidade social, uma vez que a religião existiria mediante causas específicas e, portanto, teria uma espécie de funcionalidade. Nesta linha, podemos citar autores como o filosófo Ludwig Feuerbach e o sociólogo francês Émile Durkheim.
Segundo Wiede, é impossível oferecer um estudo científico acurado sobre o fenômeno religioso sem se levar em conta a interpretação do fenômeno feitas pelos sujeitos religiosos, ou seja, os crentes de determinada tradição.
Além de defender a visão de que a opinião dos crentes teria a mesma validade que a interpretação de um observador externo, Wiede também defende que o estudo da religião pode ter mais eficácia se for realizado pelo que os sociólogos – e os antropólogos, antes deles – definiram como “observador participante”.
Para o autor, a posição do observador participante, que ocupa uma posição “dentro” da tradição religiosa, mesmo que esta posição ainda tenha um caráter marginal, a bem da objetividade científica, oferece melhores condições para o levantamento de dados empíricos e, mais adiante, para sua necessária interpretação.

Diferentes modelos explicativos 

Em sua abordagem, Wiede tece diversos comentários sobre vários tipos de modelos explicativos em uso nas ciências sociais, ao mesmo tempo que faz a diferenciação necessária em relação aos métodos de análises, necessariamente distintos, entre as ciências naturais e as ciências humanas.
O primeiro viés explicativo a ser abordado é o do modelo dedutivo-nomológico, proposto por C. G. Hempel e outros autores.
Segundo a interpretação de Wiede, o modelo de Hempel, ao determinar que um fenômeno só possa ser explicado a partir do seu enquadramento em leis gerais, de forma a assegurar sua previsibilidade, não pode ser utilizado satisfatoriamente nas Ciências Humanas, uma vez que não leva em conta a interpretação que os agentes fazem de suas próprias ações e, uma vez que nossas ações, são em grande parte, justificadas por escolhas de cunho pessoal (mesmo que socialmente determinadas, em certa medida), esse modelo explicativo seria falho.
Outra observação importante na análise de Wiede diz respeito à necessária natureza triádica (com três eixos), da explicação, ou teoria. Supõe-se que a explicação é o ato de alguém explicar algo a alguém.
Levando-se em conta esta proposta de estrutura triaxial da explicação, elimina-se a possibilidade da análise ser fruto de um estado mental pessoal do observador, sem validade científica posterior.
Outro modelo explicativo analisado - e criticado – por Wiede diz respeito à interpretação dos fenômenos sociais - e aqui incluímos a Religião – a partir da observação de determinadas causas externas; ou seja, a partir da determinação de sua funcionalidade, como queria Durkheim.
Para Wiede, o problema desse viés interpretativo reside na “arrogância intelectual” do observador, que desconsidera, ou vê como de menor importância, as explicações e análises feitas pelos sujeitos de suas próprias ações.
Segundo o autor, a acusação de que determinados sistemas religiosos de outras culturas eram simplórios e primitivos – como defendido por estudiosos das religiões comparadas no começo dos contatos com outras culturas – não resistiu à uma análise mais aprofundada dessas mesmas culturas.
Aqui, existe espaço para uma crítica implícita ao pretenso “evolucionismo cultural” da Humanidade, que, acreditava-se, teria ascendido das religiões primitivas rumo ao Cristianismo europeu, considerado como a forma mais desenvolvida de Religião.
Outra abordagem explicativa analisada por Wiede é a proposta por Smart, em seu esquema de “explicações inter-religiosas” e “explicações extra-religiosas”.
Segundo Smart, “uma explicação interna tipicamente implica a tentativa de demonstrar a conexão explicativa de um elemento, ou elementos, numa dimensão da religião, com um elemento, ou elementos, em outra dimensão da religião”. E, “as explicações externas tentam demonstrar como elementos religiosos são modelados por estruturas que em si mesmas não se enquadram totalmente dentro do território demarcado pela definição de religião”.
De acordo com Wiebe, uma explicação de um determinado fenômeno religioso – e ele cita a criação do Dogma da Trindade (Deus como três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo) dentro do Cristianismo primitivo como exemplo – necessitaria combinar as duas possibilidades explicativas, de forma a oferecer um quadro completo de análise.
Desta forma, ao combinar fatores externos e internos na interpretação do fenômeno religioso, o cientista da Religião poderia combinar diversas disciplinas na tentativa de elaborar um quadro explicativo sobre o seu objeto. Assim, os estudos poderiam combinar Teologia, História e Economia, por exemplo, além de uma infinidade de outras subdisciplinas, como a Filosofia e a Psicologia.

Considerações Finais

A proposta de uma teoria explicativa da Religião apresentada por Wiebe, ao levar em conta diversos fatores, com, por exemplo, a necessidade de se levar em conta o conhecimento dos sujeitos religiosos sobre a sua fé e prática, ao mesmo tempo em que defende a multidisciplinaridade do estudo da Religião, pode ser considerada como um exemplo do atual “estado da arte”, ou seja da forma como os estudos acerca do fenômeno religioso são feitos atualmente. 
A combinação de disciplinas – mesmo que tão diferentes entre si, como a História e a Teologia, por exemplo - na análise do objeto é evidentemente necessária, caso se queira tentar oferecer um quadro de análise o mais completo possível.


Thiago Fuschini
Mestrando em Ciências da Religião

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Onde estavam os supostos democratas na era FHC?


À medida que as possibilidades de vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno se tornam mais reais, a sensibilidade às “ameaças à democracia” fica crescentemente aguçada. E distorcida. No caso do Brasil de hoje, as ameaças, segundo grupos da oposição, provêm, paradoxalmente, do próprio voto popular.


Essa parece ser a tese dos chamados “formadores de opinião” que querem mobilizar o País em “defesa da democracia”. Inspirados por um neoudenismo opaco e alimentados por um mal disfarçado ressentimento político, esses autodenominados “democratas convictos” insurgem-se, agora, contra a “visão regressiva do processo político”, que transforma o “Legislativo em extensão do Executivo” e “viola a Constituição e as leis”. Temem, acima de tudo, que Lula não apenas consiga eleger a sua sucessora, mas também que a situação obtenha votos suficientes para fazer uma folgada maioria no Congresso. Tal perspectiva, se concretizada, abriria, segundo esses “democratas convictos”, o caminho para o “autoritarismo” baseado no “partido único” (qual deles?) e na definitiva “fragilização da oposição”.


Como parlamentar que viveu a experiência dos 8 anos de FHC na oposição, e hoje no governo, posso avaliar o comportamento dos atuais oposicionistas, cuja dificuldade de atuar fica evidente na tentativa de golpear de forma baixa o Governo Lula, e de, ao melhor estilo lacerdista, mas sem a mesma competência e brilho, ganhar o jogo a qualquer custo, tentando impedir a continuidade desse projeto, agora sob comando de Dilma Roussef.


Tal preocupação é deveras tocante é têm sólidas raízes na história recente do Brasil. De fato, na época do regime militar, havia também muitos “democratas convictos” que se insurgiam contra a perspectiva do destino do País ser entregue ao arbítrio das massas populares “que não sabiam votar” e que se constituíam em apenas “massa de manobra para interesses populistas”.


Posteriormente, já no regime democrático, houve casos em que o voto popular conduziu a situações em que as oposições se viram extremamente fragilizadas e o governo pode promover, a seu bel-prazer, profundas reformas constitucionais e legais, transformando o “Legislativo em mera extensão do Executivo”. Esse foi o caso, por exemplo, do governo Fernando Henrique Cardoso.


Com efeito, turbinado pelo Plano Real, que produziu efeitos distribuidores de renda no curto prazo e promoveu o chamado “populismo cambial”, o governo FHC conseguiu formar uma maioria parlamentar e política que faria corar o democrata mais convicto. Na Câmara dos Deputados, o que os atuais “defensores da democracia” chamam de “partido único” tinha apenas 49 parlamentares e a oposição como um todo reunia pouco mais que uma centena de deputados. Assim, o governo FHC tinha à disposição uma maioria acachapante de quase 400 parlamentares. No Senado, a situação era pior (ou melhor, para os “democratas convictos”), o PT tinha cinco senadores e a oposição como um todo menos do que 20.


Tal maioria permitiu que, do alto da presidência da Câmara, o deputado Luiz Eduardo Magalhães operasse, alegre e profusamente, o seu famoso “rolo compressor” para aprovar reformas constitucionais e legais bastante abrangentes, sempre a serviço “dos interesses maiores do País”, é claro, como a abertura, sem critérios, das portas da economia brasileira ao capital estrangeiro, e a antinacional privatização do patrimônio público, com regras benevolentes e muitas vezes com ajuda do BNDES. E as medidas provisórias, que naquela época podiam ser reeditadas, foram usadas com proverbial prodigalidade. Obviamente, tudo isso era obedientemente ratificado pelo Senado, sem nenhum questionamento expressivo. Já ao final do primeiro governo FHC, tal maioria inconteste permitiu, inclusive, que se aprovasse a emenda constitucional da reeleição, com os aplausos entusiásticos dos que hoje se dizem “democratas convictos”, que não levantaram suas vozes contra a denúncia de compra de votos para aprovar a medida que beneficiou o sociólogo tucano e sua turma.


É de conhecimento até do reino mineral que, comparado com aquele governo, o governo Lula teve e tem uma situação politicamente bem mais difícil, especialmente no Senado. Apesar disso, o nosso governo investiu bastante no aprimoramento das instituições republicanas e na articulação entre o Estado e os movimentos sociais, com o aprofundamento da democracia. Fizemos conferências setoriais, envolvendo, entre outras áreas, saúde, educação, segurança pública, e ainda criamos o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, com a participação de empresários e trabalhadores, para a definição de importantes políticas públicas. Ao mesmo tempo, as liberdades fundamentais, como a liberdade de expressão, foram inteiramente protegidas e promovidas. Essas iniciativas, a adoção de mais transparência e o fortalecimento das instituições de controle, como a Polícia Federal e a Controladoria Geral da União, “seriam ameaças à democracia”, na leitura desses “democratas”.


Saliente-se que a extrema fragilidade da oposição da época de FHC tinha dois sérios agravantes. Em primeiro lugar, vivíamos a hegemonia inconteste do paradigma neoliberal, do pensamento único. Assim, os parcos e débeis protestos da oposição eram sempre rapidamente desclassificados como manifestações “jurássicas” e “neobobas”. Em segundo, a grande mídia, hoje confessadamente um partido de oposição, era, naquela época, um dedicado partido da situação cujo alinhamento aos desígnios governamentais só pode ser definido, a posteriori, como espartano. Curiosa essa queixa da imprensa de hoje, que viveu, com honrosas exceções, sob o manto monolítico do pensamento único neoliberal defendido pelo PDSB e PFL (atual DEM) e agora vem dizer que é ameaçada pelo governo do PT. O PIG virou um verdadeiro PRI: não quer mudanças e julga ter todo o poder para não dar satisfações a ninguém.


Tudo isso é plenamente conhecido por quem tem um pouco de memória histórica. Contudo, há um mistério que permanece insolúvel. Onde estavam os “democratas convictos” naquela conjuntura de intensa “ameaça à democracia”, segundo seus próprios critérios? Por que aplaudiram as fáceis eleições de FHC em primeiro turno e agora dizem que a eventual eleição de Dilma na primeira rodada seria um “desastre para a democracia”? Por que não consideravam a amplíssima maioria política e parlamentar que FHC dispunha no Congresso como um limitador ao exercício da democracia? Por que não se preocuparam com o isolamento e a debilidade da oposição daquele período? Por que não se insurgiram contra a inoperância do “engavetador geral da República”? Por que aplaudiram e ajudaram a promover a criminalização dos movimentos sociais? Por que o pensamento único não foi contestado?


É difícil saber onde estavam os que hoje se dizem “democratas”. Talvez a principal pista nos seja revelada por Dante. É provável que eles estivessem na sexta vala do “Malebolge”, exibindo as suas incômodas vestes de chumbo. Hoje, sem dúvida, estão sintonizados com seus patrões donos das concessões de emissoras e outros meios de comunicação, e claramente comprometidos com uma visão política pequena e distorcida de oposição ao Governo Lula.


De qualquer modo, sua alegre e livre emergência, agora exibindo plumagem específica, talvez se constitua na principal evidência do caráter democrático do Brasil, sob o Governo Lula.


Fernando Ferro é deputado federal (PT-PE), líder do partido na Câmara Federal.

domingo, 26 de setembro de 2010

AMIGOS & A PROVIDÊNCIA DIVINA

Eu acredito sinceramente na Providência Divina.

Sim, é verdade!

Isso significa dizer que eu acredito que Deus atua na minha vida, do Seu jeito misterioso, em vários momentos do dia. E nem sempre ele age em meu favor, ou, pelo menos, da forma como eu gostaria que ele agisse.

Além de nem sempre fazer as coisas do meu jeito, o que evidentemente seria bem melhor, Deus ainda prefere a atuação nos bastidores. Isso quer dizer que nunca vi oceanos se separando, ou que, em geral, poucas vezes coisas simplesmente caíram dos céus, a não ser chuva e granizo.

No meu caso, Deus nunca usou anjos para me mandar recados. Mas, uma infinidade de vezes, muitas mais do que sou capaz de contar, Deus usou pessoas em minha vida. 

Amigos que apareceram do nada em momentos dificeis; completos estranhos que, durante alguma crise, milagrosamente sabiam o que estava acontecendo e, ainda mais importante, sabiam exatamente o que dizer para me convencer a dar mais alguns passos. 
E você, leitor ou leitora, sabe como é difícil dar mais alguns passos quando se está no meio de uma escuridão completa... Temos medo de, ao caminhar um pouco, acabarmos caindo em algum buraco do qual não possamos sair.

Eu, pelo menos, sou assim. Sou razoavelmente cuidadoso; moderadamente covarde...
Ontem, eu quase desisti; quase fui embora. Um amigo me convenceu a ficar e dar mais uns passos - seu nome é Ricardo e ele acaba de entrar para a minha seleta seleção de melhores amigos - e, por isso, serei eternamente grato. 

E ontem, também, outro amigo - seu nome é Rogério - me segurou e me falou algumas palavras com a voz da razão. Apesar de ser moradamente cuidadoso, muitas vezes ainda troco os pés pelas mãos.

E as coisas desandam, invariavelmente, quando eu faço isso. 

Agradeço pelos e aos meus amigos, por alguns momentos de tranquilidade e apoio.

Paz e Bem!

RELENDO

Reli a última postagem agora, com alguma calma. A idéia era fazer uma revisão do texto. Evitar erros de português, apesar de eu ainda não dominar a nova ortografia do idioma. 

Ainda escrevo "idéia", quando tenho algum brilhante pensamento revolucionário. Acho estranho escrever "ideia".

Reli o texto, e a verdade, bruta, nua e crua, salta aos olhos, pedindo atenção: ainda gosto dela.

Da ex-mulher-da-minha-vida.

Eu não deveria escrever isso, por duas razões. A primeira: não tem volta. A segunda: eu não deveria me expor. Sempre que eu sou honesto, recebo uma pedrada.

Mas, pensando bem, fui tão cuidadoso no último ano, e o que ganhei com isso? 

Hoje, neste domingo chuvoso, escolho ser honesto.

Paz e Bem!

ENCONTRANDO L.

A tentação neste momento é a de tentar escrever um texto em terceira pessoa. Falar "dele", falar "dela", é mais fácil e mais seguro.

E impessoal. 

Um ou outro leitor saberia que eu estaria falando de mim mesmo, mas, ainda assim, eu estaria a salvo. Sempre haveria o benefício da dúvida.

"Não, não! É só ficção, é claro. Isso nunca aconteceu e nem vai acontecer...", eu diria.

Entretanto, por alguma razão, não tenho a mínima vontade de estar seguro.

Ainda tremo nas bases quando encontro a minha ex-namorada. O estômago dá voltas, a cabeça fica sem nenhuma idéia brilhante e meu rosto fica vermelho. 

Eu simplesmente perco o chão perto dela, como sempre aconteceu, desde a primeira vez em que nos falamos, em um distante 18 de julho.
Ontem, atendendo a um convite de uma amiga, estudante do curso de Biblioteconomia, fui à minha ex-faculdade, para uma festa. 

E, como sempre, quando eu não espero encontrar a ex-mulher-da-minha-vida, pimba! Lá está ela. 

Na verdade, ela chegou com amigas e amigos - e o Biel - quando eu estava de saída. E a sua chegada fez com que eu acabasse ficando um tiquinho mais. 

Infelizmente, não nos falamos, como sempre. 

Mas trocamos olhares, de forma inteligente e sagaz, quando achamos que nenhum dos dois estava olhando ao mesmo tempo. 

Ela fingiu que não dava a mínima. Eu fingi que não estou nem aí. Mas, pelo menos para mim, a verdade é bem outra.

Tive - e ainda tenho - essa vontade de dizer "oi". Sei do meu coração e sei que, provavelmente, eu tentaria de novo.

Mas, por ora, eu fico quietinho, com o tremor nas bases. E tento viver a minha vida sem ela.

Paz e Bem!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

CONVITE

 COMPAREÇA AO ATO EM DEFESA DA DEMOCRACIA!

CONTRA A BAIXARIA NAS ELEIÇÕES!

CONTRA O GOLPISMO MIDIÁTICO!

Na reta final da eleição, a campanha presidencial no Brasil enveredou por um caminho perigoso. Não se discutem mais os reais problemas do Brasil, nem os programas dos candidatos para desenvolver o país e para garantir maior justiça social. Incitada pela velha mídia, o que se nota é uma onda de baixarias, de denúncias sem provas, que insiste na “presunção da culpa”, numa afronta à Constituição que fixa a “presunção da inocência”.
Como num jogo combinado, as manchetes da velha mídia viram peças de campanha no programa de TV do candidato das forças conservadoras.
Essa manipulação grosseira objetiva castrar o voto popular e tem como objetivo secundário deslegitimar as instituições democráticas a duras penas construídas no Brasil.
A onda de baixarias, que visa forçar a ida de José Serra ao segundo turno, tende a crescer nos últimos dias da campanha. Os boatos que circulam nas redações e nos bastidores das campanhas são preocupantes e indicam que o jogo sujo vai ganhar ainda mais peso.
Conduzida pela velha mídia, que nos últimos anos se transformou em autêntico partido político conservador, essa ofensiva antidemocrática precisa ser barrada. No comando da ofensiva estão grupos de comunicação que – pelo apoio ao golpe de 64 e à ditadura militar – já mostraram seu desapreço pela democracia.
É por isso que centrais sindicais, movimentos sociais, partidos políticos e personalidades das mais variadas origens realizarão – com apoio do movimento de blogueiros progressistas – um ato em defesa da democracia.
Participe! Vamos dar um basta às baixarias da direita!
Abaixo o golpismo midiático!
Viva a Democracia!

Data: 23 de setembro, 19 horas

Local: Auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo
(Rua Rego Freitas, 530, próximo ao Metrô República, centro da capital paulista).
Presenças confirmadas de dirigentes do PT, PCdoB, PSB, PDT, de representantes da CUT, FS, CTB, CGTB, MST e UNE e de blogueiros progressistas.

BARÃO DE ITARARÉ

Algumas bandeiras ainda valem a pena de serem erguidas, mesmo nessa época triste de falência generalizada.

Uma delas, uma das mais importantes na opinião deste modesto escriba, diz respeito à NECESSIDADE DE DEMOCRATIZARMOS OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NO BRASIL. 

A meu ver, isso passa por duas tarefas absolutamente necessárias e não-excludentes (ou seja, uma não vinga sem a outra):

1. Precisamos oferecer espaço de mídia àqueles que não tem acesso à divulgação da informação.
2. Precisamos quebrar o monopólio dos atuais grupos que controlam a imprensa brasileira.

Alguns grupos, principalmente depois da massificação da internet, estão nessa luta. Alguns mais organizados; outros menos.
Recentemente, descobri a existência do Centro de Mídia Alternativa Barão de Itararé. E disponibilizo aqui o endereço dos caras. 

http://www.baraodeitarare.org.br/

Informe-se. Esta é uma luta que vale a pena.

Paz e Bem!

DO CONVERSA AFIADA

O Globo e o ato contra o golpe midiático


Por Altamiro Borges


O ato “contra o golpismo midiático e em defesa da democracia”, que ocorrerá nesta quinta-feira, dia 23, às 19 horas, na sede do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, parece que incomodou o poderoso monopólio da família Marinho. O site do jornal O Globo deu manchete: “Após ataques de Lula, MST e centrais sindicais se juntam contra a imprensa”. Já o jornal impresso publicou a matéria “centrais fazem ato contra a imprensa”. Como se nota, o império global sentiu o tranco!


Diante desta reação amedrontada, é preciso prestar alguns esclarecimentos. Em primeiro lugar, o ato do dia 23 não está sendo convocado pelas centrais sindicais, MST ou partidos. Ele é organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, entidade fundada em 14 de maio último, que reúne em seu conselho consultivo 54 jornalistas, blogueiros, acadêmicos, veículos progressistas e movimentos sociais ligados à luta pela democratização da comunicação. A entidade é ampla e plural, e tem todo o direito de questionar as baixarias da mídia golpista.


As mentiras sobre o protesto


As manchetes e a “reporcagem” do jornal O Globo tentam confundir os leitores. Insinuam que o protesto é “chapa-branca” e serve aos intentos do presidente Lula, que “acusa a imprensa de agir como partido político”. A matéria sequer menciona o Centro de Estudos Barão de Itararé e tenta transmitir a idéia de que o ato é articulado pelo PT, “siglas aliadas”, MST e centrais. A repórter Leila Suwwan, autora do texto editorializado, cometeu grave erro, que fere a ética jornalística.


Em segundo lugar, é preciso explicitar os verdadeiros objetivos do protesto. Ele não é “contra a imprensa”, como afirma O Globo, jornal conhecido por suas técnicas grosseiras de manipulação. É contra o “golpismo midiático”, contra a onda denuncista que desrespeita a Constituição – que fixa a “presunção da inocência” – e insiste na “presunção da culpa” que destrói reputações e não segue os padrões mínimos do rigor jornalístico – até quem saiu da cadeia é usado como “fonte”.


Falso defensor da liberdade de imprensa


O Globo insiste em se travestir como defensor da “liberdade de imprensa”. Mas este império não tem moral para falar em democracia. Ele clamou pelo golpe de 1964, construiu o seu monopólio com as benesses da ditadura e tem a sua história manchada pelo piores episódios da história do país – como quando escondeu a campanha das Diretas-Já, fabricou a candidatura do “caçador de marajás”, defendeu o modelo destrutivo do neoliberalismo ou criminaliza os movimentos sociais.


Quem defende a verdadeira liberdade de expressão, contrapondo-se à ditadura midiática, estará presente ao ato desta quinta-feira. Seu objetivo é dar um basta ao golpismo da mídia, defender a soberania do voto popular e a democracia. Ele não é contra a imprensa, mas contra as distorções grosseiras dos donos da mídia. Não proporá qualquer tipo de censura, mas servirá para denunciar as manipulações dos impérios midiáticos, inclusive dos que são concessionárias públicas.

O TEU PASSADO TE CONDENA, ZÉ

Centrais acusam tucano de impostura e golpe contra trabalhadores


As centrais sindicais lançaram manifesto conjunto na última quarta-feira (7) onde alertam a população para que não se deixe enganar pelas mentiras veiculadas na rádio e na televisão por José Serra, candidato de Fernando Henrique e do PSDB à Presidência da República, a respeito de pretensas medidas que teria proposto em prol da classe trabalhadora. Serra age como um verdadeiro lobo vestido em pele de cordeiro.


Sob o título “Serra: impostura e golpe contra os trabalhadores”, CUT, Força Sindical, CTB, CGTB e Nova Central denunciam que “o candidato José Serra (PSDB) tem se apresentado como um benemérito dos trabalhadores, divulgando inclusive que é o responsável pela criação do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e por tirar do papel o Seguro-Desemprego. Não fez nenhuma coisa nem outra. Aliás, tanto no Congresso Nacional quanto no governo sua marca registrada foi atuar contra os trabalhadores”. De acordo com as centrais, “a mentira tem perna curta e os fatos desmascaram o tucano”.


Falsificando a história


A nota assinada pelos presidentes das centrais (Wagner Gomes, da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil; Artur Henrique, da Central Única dos Trabalhadores; Miguel Torres, em exercício, da Força Sindical; Antonio Neto, da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil e José Calixto Ramos, da Nova Central Sindical dos Trabalhadores) ressalta é fundamental que a população seja bem informada a respeito dos fatos para que dimensione o tamanho da falsidade que vem sendo divulgada pelo PSDB.


“A verdade”, esclareceram, é que “o seguro-desemprego foi criado pelo decreto presidencial nº 2.284, de 10 de março de 1986, assinado pelo então presidente José Sarney. Sua regulamentação ocorreu em 30 de abril daquele ano, através do decreto nº 92.608, passando a ser concedido imediatamente aos trabalhadores”. Da mesma forma, “o FAT foi criado pelo Projeto de Lei nº 991, de 1988, de autoria do deputado Jorge Uequed (PMDB-RS). Um ano depois Serra apresentou um projeto sobre o FAT (nº 2.250/1989), que foi considerado prejudicado pelo plenário da Câmara dos Deputados, na sessão de 13 de dezembro de 1989, uma vez que o projeto de Jorge Uequed já havia sido aprovado”.


Reprovado pelo Diap


Na Assembleia Nacional Constituinte (1987/1988), o candidato tucano votou reiteradamente contra os trabalhadores, assinala o manifesto: “Serra não votou pela redução da jornada de trabalho para 40 horas; não votou pela garantia de aumento real do salário mínimo; não votou pelo abono de férias de 1/3 do salário; não votou para garantir 30 dias de aviso prévio; não votou pelo aviso prévio proporcional; não votou pela estabilidade do dirigente sindical; não votou pelo direito de greve; não votou pela licença paternidade; não votou pela nacionalização das reservas minerais”.


Por isso, conforme recordam os sindicalistas, José Serra foi reprovado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que conferiu aos parlamentares uma nota entre zero a dez de acordo com a posição assumida na votação dos temas de interesse da classe trabalhadora, em particular o capítulo sobre direitos sociais.


Serra, que a esta altura já tinha se bandeado para o lado da direita, teve nota 3,75 pelo desempenho na Constituinte. Vale lembrar que no primeiro turno da Constituinte, o atual candidato tucano tirou nota 2,50 e, no segundo turno, por se ausentar em várias votações em que havia votado contra, levou nota 5,0 – o que lhe elevou a média para 3,75.


Homem do capital financeiro


Já em 1994, diante da proposta de Revisão Constitucional, lembram as centrais, “Serra apresentou a proposta nº 16.643, para permitir a proliferação de vários sindicatos por empresa, cabendo ao patrão decidir com qual sindicato pretendia negociar. Ainda por essa proposta, os sindicatos deixariam de ser das categorias, mas apenas dos seus representados. O objetivo era óbvio: dividir e enfraquecer os trabalhadores e propiciar o lucro fácil das empresas. Os trabalhadores enfrentaram e derrotaram os ataques de Serra contra a sua organização, garantindo a manutenção de seus direitos previstos no artigo 8º da Constituição”.


Conforme o manifesto, “é por essas e outras que Serra, enquanto governador de São Paulo, reprimiu a borrachadas e gás lacrimogêneo os professores que estavam reivindicando melhores salários; jogou a tropa de choque contra a manifestação de policiais civis que reivindicavam aumento de salário, o menor salário do Brasil na categoria; arrochou o salário de todos os servidores públicos do Estado de São Paulo”.


“As Centrais Sindicais brasileiras estão unidas em torno de programa de desenvolvimento nacional aprovado na Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, em 1º de junho, com mais de 25 mil lideranças sindicais, contra o retrocesso e para garantir a continuidade do projeto que possibilitou o aumento real de 54% do salário mínimo nos últimos sete anos, a geração de 12 milhões de novos empregos com carteira assinada, que acabou com as privatizações, que descobriu o pré-sal e tirou mais de 30 milhões de brasileiros da rua da amargura”, conclui o documento assinado pela CUT, Força Sindical, CTB, Nova Central e CGTB.


Enfim, Serra é um homem do capital financeiro e, como tal, já se revelou inimigo da classe trabalhadora. Definitivamente não merece a confiança das centrais sindicais.


E o “vale coxinha” ?


E o “Salário PSDB” – Pior Salário Do Brasil ?

Texto retirado do Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim.

 


domingo, 19 de setembro de 2010

DO CONVERSA AFIADA

PARA QUE O POVO BRASILEIRO SE PONHA DE PÉ

Dentro de poucos dias realizaremos, mais uma vez, eleições em todo o país. Elas coincidirão com o 22º aniversário da promulgação da atual Constituição. Quer isto dizer que já vivemos em plena democracia?


Nada mais ilusório. Se o regime democrático implica necessariamente a atribuição de poder soberano ao povo, é forçoso reconhecer que este continua, como sempre esteve, em estado de menoridade absoluta.


Povo, o grande ausente

Quando Tomé de Souza desembarcou na Bahia, em 1549, munido do seu famoso Regimento do Governo, e flanqueado de um ouvidor-mor, um provedor-mor, clero e soldados, a organização político-administrativa do Brasil, como país unitário, principiou a existir. Tudo fora minuciosamente preparado e assentado, em oposição ao descentralismo feudal das capitanias hereditárias. Notava-se apenas uma lacuna: não havia povo. A população indígena, estimada na época em um milhão e meio de almas, não constituía, obviamente, o povo do novel Estado; tampouco o formavam os 1.200 funcionários – civis, religiosos e militares – que acompanharam o Governador Geral.


Iniciamos, portanto, nossa vida política de modo original: tivemos Estado, antes de ter povo. Quando este enfim principiou a existir, verificou-se desde logo que havia nascido privado de palavra.


Foi assim que o Padre Antonio Vieira o caracterizou, no Sermão da Visitação de Nossa Senhora, pregado em Salvador em junho de 1640. Tomando por mote a palavra latina infans, assim discorreu o grande pregador:


“Bem sabem os que sabem a língua latina, que esta palavra, infans, infante, quer dizer o que não fala. Neste estado estava o menino Batista, quando a Senhora o visitou, e neste permaneceu o Brasil muitos anos, que foi, a meu ver, a maior ocasião de seus males. Como o doente não pode falar, toda a outra conjectura dificulta muito a medicina. (…) O pior acidente que teve o Brasil em sua enfermidade foi o tolher-se-lhe a fala: muitas vezes se quis queixar justamente, muitas vezes quis pedir o remédio de seus males, mas sempre lhe afogou as palavras na garganta, ou o respeito, ou a violência; e se alguma vez chegou algum gemido aos ouvidos de quem o devera remediar, chegaram também as vozes do poder, e venceram os clamores da razão”.


Quase às vésperas de nossa Independência, esse estado de incapacidade absoluta do povo afigurava-se, paradoxalmente, não como um defeito político, mas como uma exigência de ordem pública. Em maio de 1811, o nosso primeiro grande jornalista, Hipólito José da Costa, fez questão de lançar nas páginas do Correio Braziliense, editado em Londres, uma severa advertência contra a eventual adoção no Brasil do regime de soberania popular:


“Ninguém deseja mais do que nós as reformas úteis; mas ninguém aborrece mais do que nós, que essas reformas sejam feitas pelo povo; pois conhecemos as más conseqüências desse modo de reformar; desejamos as reformas, mas feitas pelo governo; e urgimos que o governo as deve fazer enquanto é tempo, para que se evite serem feitas pelo povo.”


A nossa independência, que paradoxalmente não foi o resultado de uma revolta do povo brasileiro contra o rei de Portugal, mas, ao contrário, do povo português contra o rei no Brasil, não suscitou o menor entusiasmo popular. O naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire pôde testemunhar: “A massa do povo ficou indiferente a tudo, parecendo perguntar como o burro da fábula: – Não terei a vida toda de carregar a albarda ? ”


A mesma cena, com personagens diferentes, é repetida 67 anos depois, na proclamação da república. “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava“, lê-se na carta, tantas vezes citada, de Aristides Lobo a um amigo. “Muitos acreditavam sinceramente estar vendo uma parada.”


O disfarce partidário-eleitoral


Mas afinal, era preciso pelo menos fazer de conta que o povo existia politicamente. Para tanto, os grupos dominantes criaram partidos e realizaram eleições. Mas tudo sob forma puramente teatral. O povo tem o direito de escolher alguns atores, mas nunca as peças a serem exibidas. Os atores não representam o povo, como proclamam as nossas Constituições. Eles tampouco representam seu papel perante o povo (sempre colocado na platéia), mas atuam de ouvidos atentos aos bastidores, onde se alojam os “donos do poder”.


No Império, Joaquim Nabuco qualificava a audácia com que os partidos assumiam suas pomposas denominações como estelionato político. Analogamente no início da República, o fato de a lei denominar oficialmente eleições as “mazorcas periódicas”, como disse Euclides da Cunha, constituia “um eufemismo, que é entre nós o mais vivo traço das ousadias de linguagem”.


A Revolução de 1930 foi feita justamente para pôr cobro às fraudes eleitorais. Mas desembocou, alguns anos depois, na ditadura do “Estado Novo”, que suprimiu as eleições, sem no entanto dispensar a clássica formalidade da outorga à nação (já não se falava em povo) de uma nova “Constituição”.


Após o término da Segunda Guerra Mundial, em que muitos dos nossos pracinhas tiveram suas vidas ceifadas na luta contra o nazifascismo, fomos moralmente constrangidos a iniciar uma nova vida política, sob o signo da democracia representativa. Mas a legitimidade desta durou pouco tempo. Já em 7 de março de 1947, ou seja, menos de cinco meses depois de promulgada a nova Constituição, o Partido Comunista foi extinto por decisão judicial ( nesta terra, a balança da Justiça sempre cedeu aos golpes da espada). Em fevereiro de 1954, com o “manifesto dos coronéis”, teve início a preparação do golpe militar de 1964. O estopim para deflagrá-lo foi a iminência de que as forças de esquerda chegassem eleitoralmente ao poder e executassem o programa das “reformas de base”, com o desmantelamento econômico da oligarquia.


Obviamente, para os nossos grupos dominantes, os cidadãos podem votar como quiserem nas eleições, mas desde que se lembrem de que “nasceram para mandados e não para mandar”, segundo a saborosa expressão camoniana.


O regime autoritário, instaurado em 1964 pela caserna, com o apoio do empresariado, dos latifundiários e da Igreja Católica, sob a proteção preventiva do governo norte-americano, reconheceu que a assim chamada “Revolução Democrática” não poderia suprimir as eleições e os partidos. Manteve-os, portanto, mas reduzidos à condição de simples fantoches. Era a “democracia à brasileira”, como a qualificou o General que prendeu o grande Advogado Sobral Pinto. Ao que este retrucou simplesmente: “General, eu prefiro o peru à brasileira”.


O regime de terrorismo de Estado foi devidamente lavado pelo Poder Judiciário, que decidiu anistiar, com as lamentações protocolares, os agentes públicos que mataram, torturaram e estupraram milhares de oponentes políticos.


Chegamos à fase atual, em que as eleições já não incomodam os oligarcas, porque mantém tudo exatamente como dantes no velho quartel de Abrantes. O povo pode até assistir, indiferente ou risonho, uma campanha presidencial, em que os principais candidatos dão-se ao luxo de não discutir um só projeto ou programa de governo, preferindo ocupar todos os espaços da propaganda oficial com chalaças ou sigilos.


Tudo parece, assim, ter entrado definitivamente nos eixos. Um olhar atento para a realidade política, porém, não deixará de notar que a nossa tão louvada democracia carece exatamente do essencial: a existência de um povo soberano.


Iniciamos nossa vida política, sem povo. Alcançamos agora a maturidade, como se o povo continuasse politicamente a não existir.


Sem dúvida, a Constituição oficial declara, solenemente, que “todo poder emana do povo”, acrescentando que ele o exerce “por meio de representantes eleitos ou diretamente” (art. 1º, parágrafo único). Mas toda a classe política sabe – e o Poder Judiciário finge ignorar – que na realidade “todo poder emana dos grupos oligárquicos, que o exercem em nome do povo, por meio dos representantes por este eleitos”.


Daí a questão inevitável: o que fazer para mudar esse triste estado de coisas?


A emancipação política do povo brasileiro


É preciso atacar desde logo o ponto principal.


A soberania, na Idade Moderna, consiste, antes de tudo, em aprovar a Lei das Leis, isto é, a Constituição. Trata-se de uma prerrogativa que só pode ser exercida diretamente. Quem delega o seu exercício a outrem está, na realidade, procedendo à sua alienação. O chamado “poder constituinte derivado” é, portanto, um claro embuste.


Ora, neste país, Constituição alguma, em tempo algum, jamais foi aprovada pelo povo. Todas elas foram votadas e promulgadas por aqueles que se diziam, abusivamente, representantes do povo; quando não foram simplesmente decretadas pelos ocupantes do governo.


O mesmo ocorre com as emendas constitucionais. A Constituição Federal em vigor, por exemplo, já foi emendada (ou remendada) 70 (setenta) vezes em 22 anos; o que perfaz a apreciável média de mais de 3 emendas por ano. Em nenhuma dessas ocasiões, o povo foi convocado para dizer se aceitava ou não tais emendas.


Isto, sem falar no fato absurdo de que a Constituição Federal, ao contrário de várias Constituições Estaduais, não admite a iniciativa popular de emendas ao seu texto.


É preciso, pois, começar a reforma política (alguns preferem dizer a “Revolução”), reservando ao povo o poder nuclear de toda soberania. No nosso caso, ele consiste em aprovar, diretamente, não só a Constituição Federal, como também as Constituições Estaduais e as Leis Orgânicas Municipais, bem como suas subsequentes alterações respectivas.


Em segundo lugar, é indispensável reconhecer ao povo o direito de decidir, por si mesmo, mediante plebiscitos e referendos, as grandes questões que dizem respeito ao bem comum de todos. A Constituição Federal  declara, em seu art. 14, que o plebiscito e o referendo, tal como o sufrágio eleitoral, são formas de exercício da soberania popular. Mas determina, no art. 49, inciso XV, que “é da competência exclusiva do Congresso Nacional autorizar plebiscitos e convocar referendos”. Ou seja, o mandante somente pode manifestar validamente a sua vontade, se houver concordância dos mandatários. Singular originalidade do direito brasileiro!


Para corrigir esse despautério, a Ordem dos Advogados do Brasil, por proposta do autor destas linhas, apresentou anteprojetos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal (transformados no projeto de lei nº 4.718/2004 na Câmara dos Deputados e projeto de lei nº 001/2006 no Senado), pelos quais o plebiscito e o referendo podem ser realizados mediante iniciativa do próprio povo, ou por requerimento de um terço dos membros da Câmara ou do Senado.


A proposta da OAB procurou harmonizar os dispositivos antagônicos da Constituição Federal, interpretando a autorização e a convocação de plebiscitos e referendos, pelo Congresso Nacional, como atribuições meramente formais e não de mérito.


Previram ainda os anteprojetos da OAB novos casos de obrigatoriedade na realização de plebiscitos e referendos.


Assim é que, para impedir a repetição da “privataria” do governo FHC, passaria a ser obrigatório o plebiscito para “a concessão, pela União Federal, a empresas sob controle direto ou indireto de estrangeiros, da pesquisa e da lavra de recursos minerais e do aproveitamento de potenciais de energia hidráulica”; bem como para a concessão administrativa, pela União, de todas as atividades ligadas à exploração do petróleo.


Quanto aos referendos, a fim de evitar o absurdo da legislação eleitoral em causa própria, determinam os projetos de lei citados a obrigatoriedade de serem referendadas pelo povo todas as leis sobre matéria eleitoral, cujo projeto não tenha sido de iniciativa popular.


Inútil dizer que tais projetos de lei acham-se devidamente paralisados e esquecidos em ambas as Casas do Congresso.


Para completar o quadro de transformação da soberania popular retórica em poder supremo efetivo, tive também ocasião de propor duas medidas indispensáveis em matéria eleitoral. De um lado, o financiamento público das campanhas; de outro lado, a introdução do recall ou referendo revocatório de mandatos eletivos, proposta também pela OAB e objeto da emenda constitucional nº 073/2005 no Senado Federal. Assim, o povo assumiria plenamente a posição de mandante soberano: ele não apenas elegeria, mas também teria o direito de destituir diretamente os eleitos. Para os que se assustam com tal “excesso”, permito-me lembrar que o recall já existe e é largamente praticado em 19 Estados da federação norte-americana.


Não sei se tais medidas tornar-se-ão efetivas enquanto eu ainda estiver neste mundo. O que sei, porém, com a mais firme das convicções, é que sem elas o povo brasileiro continuará a viver “deitado eternamente em berço esplêndido”, sem condições de se pôr de pé, para exigir o respeito devido à sua dignidade.



(*) Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra.

MODESTA PROPOSTA

Passadas as eleições, o Brasil vai ter de lidar, em algum momento, com dois de seus principais problemas: a corrupção, hoje endêmica, como a dengue, em TODOS os níveis da administração pública; e com a questão da liberdade de imprensa.

Quanto à corrupção, sejamos realistas. TODO mundo rouba, em TODOS os estados e municípios,  inclusive na alçada federal, INDEPENDENTE de legenda partidária ou filiação a algum projeto. 

Quanto à liberdade de imprensa, qualquer projeto para tentar tornar essa país REALMENTE democrático DE VERDADE passa por quebrar o MONOPÓLIO dos grandes meios de comunicação, leia-se aqui GLOBO, VEJA, FOLHA DE S. PAULO e O ESTADO DE S. PAULO. 

Há anos, esse grupinho seleto age como um verdadeiro partido político, levantando o seu programa e convencendo o país de que o seu programa particular é o nosso programa, como nação.

Não é.

E, para TENTAR resolver o problema, não basta simplesmente democratizar o acesso à concessões de rádios e TVs, como é defendido. 

Não. É necessário QUEBRAR esse cartel. E responsabilizar criminalmente empresas e jornalistas, sempre que eles cometerem crimes, como injúria e difamação. 

Veremos o que acontece...

Paz e Bem!

FLAGRA-LEGENDA



Flagra de entrevista para a pesquisa eleitoral do Datafolha, ou Datafalha, segundo Paulo Henrique Amorim.
Ok! Eu sei que eu disse que não ia mais falar de política, mas tem horas que não dá pra segurar!

sábado, 18 de setembro de 2010

DESABAFO

Bom, chega de política neste blog, a menos que um vendaval sacuda a terra de Cabral.

Chega de textos pseudo-religiosos, também. Sei muito bem o que sou, pois sei do meu coração. Sei onde estava, o que me fez mudar de rumo. E sei muito bem onde estou agora.

Ando cansado, amigo leitor. Ou amiga leitora. 

Paz e Bem!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

CONVITE

 COMPAREÇA AO ATO EM DEFESA DA DEMOCRACIA!

CONTRA A BAIXARIA NAS ELEIÇÕES!

CONTRA O GOLPISMO MIDIÁTICO!

Na reta final da eleição, a campanha presidencial no Brasil enveredou por um caminho perigoso. Não se discutem mais os reais problemas do Brasil, nem os programas dos candidatos para desenvolver o país e para garantir maior justiça social. Incitada pela velha mídia, o que se nota é uma onda de baixarias, de denúncias sem provas, que insiste na “presunção da culpa”, numa afronta à Constituição que fixa a “presunção da inocência”.
Como num jogo combinado, as manchetes da velha mídia viram peças de campanha no programa de TV do candidato das forças conservadoras.
Essa manipulação grosseira objetiva castrar o voto popular e tem como objetivo secundário deslegitimar as instituições democráticas a duras penas construídas no Brasil.
A onda de baixarias, que visa forçar a ida de José Serra ao segundo turno, tende a crescer nos últimos dias da campanha. Os boatos que circulam nas redações e nos bastidores das campanhas são preocupantes e indicam que o jogo sujo vai ganhar ainda mais peso.
Conduzida pela velha mídia, que nos últimos anos se transformou em autêntico partido político conservador, essa ofensiva antidemocrática precisa ser barrada. No comando da ofensiva estão grupos de comunicação que – pelo apoio ao golpe de 64 e à ditadura militar – já mostraram seu desapreço pela democracia.
É por isso que centrais sindicais, movimentos sociais, partidos políticos e personalidades das mais variadas origens realizarão – com apoio do movimento de blogueiros progressistas – um ato em defesa da democracia.
Participe! Vamos dar um basta às baixarias da direita!
Abaixo o golpismo midiático!
Viva a Democracia!

Data: 23 de setembro, 19 horas

Local: Auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo
(Rua Rego Freitas, 530, próximo ao Metrô República, centro da capital paulista).
Presenças confirmadas de dirigentes do PT, PCdoB, PSB, PDT, de representantes da CUT, FS, CTB, CGTB, MST e UNE e de blogueiros progressistas.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

"ELITISTA, EU?"

Abaixo, tomo a liberdade de postar um artigo do jornalista Josias de Souza, colunista de A Folha de S. Paulo, sobre o impacto zero das denúncias do Zé Baixaria (também conhecido como Zé Serra) na corrida presidencial.

O tom do artigo é o mesmo de todos os textos escritos pelos cheirosos e bem-pensantes admiradores do Zé Ladeira: o povo, a quem o jornalista chama de "bugrada", é ignorante.

Em tempo: a palavra "bugre" tem origem no francês bougre e significa velhaco. Além disso, é uma forma pejorativa de se falar dos índios da América do Sul.

Segue o artigo... Com o grifo merecido na palavrinha nojenta e preconceituosa...

Paz e Bem!

O Datafolha, Dilma, Serra e a teoria do 'buraco negro'

Saiu mais um Datafolha. A principal novidade da pesquisa é que ela não traz novidades.

Registra um quadro de densa estabilidade na disputa pelos votos que elegerão o sucessor de Lula.

Comparando-se com a sondagem da semana passada, apenas Dilma Rousseff oscilou. Para o alto: de 50% foi a 51%.

O movimento ocorreu dentro da margem de erro da pesquisa, que é de dois pontos percentuais –para baixo ou para cima.

José Serra manteve-se no mesmo patamar: 27%. Marina Silva, com seus 11%, tampouco se mexeu.

Consolida-se a impressão de que o eleitorado dá de ombros para os escândalos que Serra se esforça para grudar na imagem de sua rival.

Se a eleição fosse hoje, Dilma prevaleceria sobre ele no primeiro turno. Beliscaria 57% dos votos válidos.

O brasileiro parece enxergar o ‘Fiscogate’ e o ‘Erenicegate’ como buracos negros, aqueles furos no universo em que a matéria desaparece.

Autoconvertido em Stephen Hawking da campanha, Serra apresenta suas teorias sobre os buracos negros da eleição.

Num instante em que a platéia já parecia não entender a teoria do buraco do fisco, o físico-candidato a convida para acompanhar o buraco do lobby.

Agora, além daquilo que não se interessou em saber, o eleitor vai ignorar a outra coisa que não se preocupa em conhecer.

Os pesquisadores do Datafolha aferiram o impacto do caso da violação do sigilo fiscal dos tucanos.

A maioria dos entrevistados (57%) disse ter tomado conhecimento do tema. Mas, desse total, apenas 12% consideram-se bem informados.

Não há muita gente disposta a debater os ataques ao IR do Eduardo Jorge e da Verônica Serra no intervalo entre o café da manhã e Passione, a novela noturna.

Num derradeiro esforço, a oposição alega que a candidatura da Dilma é, em si mesma, um buraco negro.

Coisa de efeitos devastadores, capaz de implodir o Sol e empurrar para dentro do buraco o eleitor, a mesa do café e o Toni Ramos.

A bugrada não escuta. Quem ouve não presta atenção. Quem se interessa acha que nada tem a ver com o seu café com leite.

Para usar expressão cara ao Serra, tudo termina em ‘tititi’.

Aliás, tomado pela irritação que exibiu na entrevista à apresentadora Marcia Peltier, os buracos negros já não interessam nem ao Serra.

APOLLOGIES

Sinto que, de alguma forma, devo me desculpar junto aos parcos leitores, quanto à minha opção de dedicar a imensa maioria das postagens à questão da sucessão presidencial. 

Aqueles que me conhecem pessoalmente sabem que o tema "política" sempre foi importante para mim. E costumo ter esses surtos em períodos eleitorais já há algum tempo.

Sei que esse assunto - política, eleições e queijandas - não é do agrado da maioria das pessoas. Alguns de vocês devem estar achando o blog monotemático e maçante. 

Em breve, provavelmente a partir de 4 de outubro, as coisas devem voltar ao normal e tratarei de outros temas, talvez mais edificantes.

Paz e Bem!

ELEIÇÕES

Bom, faz um tempo já que eu adotei, neste blog, uma clara linha política. E vocês, eventuais e fiéis leitores, sabem qual é a minha opinião sobre quem deve vencer as eleições presidenciais.

Aliás, vale ressaltar que esta atual linha sempre foi a minha. Não sou traíra e nem vira-casaca.

E, pela terceira vez desde que eu voto - comecei em 1994 - meu candidato (hoje, minha candidata) deve vencer o pleito. Ah, e, desta vez, dando uma lavada já no primeiro turno.

Dia 4 de outubro, tucanos e outros conservadores - aqueles que dizem "voto no PSDB porque estudei muito na minha vida" - e outros dessa laia, vão acordar com a síndrome de Hamlet. 

"Quem sou eu? Onde estou?"

Paz e Bem!

MAIS UMA DO CONVERSA AFIADA

O preconceito por trás da idéia de que os tucanos não se “comunicam”

14/junho/2009 7:49

À direita, o melhor comunicador dos tucanos. (Por que o da esquerda não mostra as gengivas ?)

Zé Pedágio, o Eterno Futuro Presidente, já defendeu essa idéia.

. A matriz é o Farol de Alexandria, aquele que iluminava a Antiguidade e desapareceu num terremoto.
. Qual é a idéia ?
. Os tucanos (especialmente os de São Paulo (*)) são os melhores, os mais bem preparados, os que leram os livros certos, os que sabem das coisas, os que usam a roupa certa, que falam francês, que sabem usar os talheres, que são cheirosos.
. Eles são os “engomados”, como se dizia no México, os “engenheiros”, ou, hoje, os “economistas”.
. Eles é que são competentes.
. Como Serra, que se diz “economista competente”, embora não seja nem um nem outro.
. No Governo, eles são de uma eficiência sem igual.
. O problema é que, às vezes, o povo não percebe isso.
. De quem é a culpa ?
. Primeiro, do povo, uns ignorantes: mas os tucanos (especialmente os de São Paulo (*)) não podem dizer isso em voz alta.
. Então, eles dizem, num gesto de invulgar humildade,  que a culpa é deles mesmos, que não sabem se “comunicar”.
. O mesmo raciocínio se completa com a idéia de que Lula sabe se “comunicar”.
. E que é por isso que ele ganha as eleições (passadas e futuras).
. Simplesmente, porque ele sabe se “comunicar”.
. Porque ele fala ao povo ignorante, que não percebe as virtudes incomparáveis dos tucanos.
. É esse pessoal do Bolsa Família, do aumento real do salário mínimo, do Pro-Uni, do Crédito Consignado, do Minha Casa, Minha Vida, do Luz para Todos – os beneficiários do assistencialismo populista, entregue por um “comunicador” excepcional.
. Essa a desvantagem dos tucanos – eles dizem.
. O “outro” se “comunica”.
. Qual é o preconceito atrás disso ?
. Primeiro, o Lula não tem mensagem, só tem meio.
. Não tem conteúdo, só tem forma.
. E os tucanos paulistas, prenhes de idéias e conteúdo genial não conseguem botar tudo isso para fora, porque não se comunicam, porque não são populistas, demagogos – como o “outro”.
. O segundo preconceito atrás dessa idéia é que o povo é um conjunto de néscios, que não sabe distinguir seus interesses ou quem os defenda.
. E vai na lábia, no trololó do “comunicador”.
¦lt;br /> . O povo é otário.
. Ou, como dizia o pai de Zé Pedágio e do Farol, o Brigadeiro Eduardo Gomes, outro Eterno Futuro Presidente: são uns “marmiteiros”.
.  Vamos supor, amigo navegante, que os tucanos se “comuniquem” e as idéias do partido sejam “comunicadas” por Jô Soares, Ana Maria Braga, Regina Duarte,  Miriam Leitão, William Bonner e Waack, Lucia Hippolito – os mestres da “comunicação”.
. Em lugar das olheiras e das gengivas intermináveis do Zé Pedágio, as olheiras do William Waack.
. Em lugar dos períodos longos e insondáveis do Farol de Alexandria, o português escorreito e direto da Miriam Leitão.
. Qual seria o resultado ?
. Nenhum.
. Sabe por que, amigo navegante ?
. O problema dos tucanos não é a “comunicação”, a forma.
. O problema deles é o conteúdo.
. Porque os tucanos não tem uma única idéia a “comunicar”.

Paulo Henrique Amorim, no Conversa Afiada

(*) Em São Paulo, a elite branca – que alugou a barriga dos tucanos – é também separatista.

DO CONVERSA AFIADA

NADA COMO UM SERRA APÓS O OUTRO


Serra, dia 20 de agosto de 2010 (Estadão)


“…O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, acusou ontem o governo federal e o PT de tentarem, nos últimos anos, intimidar, manipular e censurar a imprensa… ele denunciou um suposto patrulhamento contra profissionais…’


Serra, dia 15 de setembro (Terra)


“…Apaga aqui”. “O que o senhor quer que apague?”, perguntou Márcia Peltier, do programa ‘Jogo do Poder’, na rede CNT. “Apague a TV pra gente conversar”. “porque isso aqui está parecendo montado”. “Montado para quem? Aqui não tem isso”, defendeu a jornalista. Serra levantou-se e ameaçou sair do estúdio…. “eu não vou dar essa entrevista, você me desculpa”. Márcia insistiu dizendo que eles falariam de programa de governo, mas ele se manteve firme. “Faz de conta que eu não vim”. “Mas porquê, candidato?”, disse, ainda sentada. “Porque não tem nada a ver com pergunta, não é um troço sério. (…)Após a apresentadora Márcia Peltier citar que a quebra de sigilo teria acontecido em 2009, antes do anúncio das candidaturas à presidência, Serra subiu o tom: – Que antes da candidatura, Márcia? Nós estamos gastando tempo aqui precioso, estamos repetindo os argumentos do PT, que você sabe que são fajutos…”


Serra, dia 16 de setembro (Valor):


“Não foi a primeira vez que Serra demonstrou publicamente irritação com jornalistas. Ao participar do programa “Roda Viva”, da TV Cultura, foi ríspido com o então apresentador, Heródoto Barbeiro, que o questionou sobre o preço elevado dos pedágios no Estado. Em pelo menos duas coletivas de imprensa, Serra perguntou a jornalistas para qual veículo eles trabalhavam. Em outra, irritou-se com pergunta feita por uma repórter da TV Brasil, emissora pública…”


(Carta Maior, com a palavra demétrios, mervais, catanhedes, buccis;16-09)

SURRA!

 Deu hoje, no Datafolha, que pode tudo, menos ser acusado de pró-PT: Dilma 51% ; Serra, 27%!
A partir de agora, Serra não fala mais de pesquisas junto à jornalistas. E ai de quem ousar levantar o tema!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

terça-feira, 14 de setembro de 2010

DO UNIVERSO HQ

Lançamento do segundo volume de Yeshuah


Por Marcelo Naranjo
13-09-2010

Na próxima sexta-feira, 17 de setembro, a partir das 19h30min, será lançado o álbum Yeshuah - O circulo interno O círculo externo (formato 16,5 x 24,00 cm, 136 páginas, R$ 22,50), da Devir, na Livraria HQMix (Praça Franklin Roosevelt, 142, São Paulo/SP).

Já no dia 28 de setembro, terça-feira, a partir das 19h, na FNAC Paulista (Av. Paulista, 901, São Paulo/SP), haverá uma noite de autógrafos e de bate-papo com os leitores, com a participação de Paulo Ramos (Blog dos Quadrinhos), sobre o processo de criação da trilogia, pesquisas, estudos e apresentação de imagens.

Com roteiro e desenhos de Laudo Ferreira Jr. e arte-final de Omar Viñole, o livro é o segundo volume (leia a resenha do primeiro clicando aqui) de uma

história de busca humana e espiritual na qual o autor apresenta Jesus como um homem normal, humano, completamente fora da aura católica e santa, vivendo conflitos durante sua caminhada para a construção do seu Deus interior e que compartilha seu amor absoluto, seu conhecimento, seu coração, sua alma e sua fé.

"O Deus de Jesus estava dentro dele e era isso, compartilhar com todos, o que ele queria então. Nada a ser temido, nem distante. Mas ali perto, dentro de cada um. Como figura que se completa em si, o círculo interno traria isso para Jesus. Estava tudo feito, acertado, entendido. Faltava agora tornar esse círculo em sincronia com o círculo exterior para então trazer "o paraíso na Terra". Esse é o ponto de todo esse segundo volume, a luta entre esses dois universos, o interior e o exterior, até onde as pessoas querem mudar, querem crer e o que faz elas acreditarem ou não, já que a verdade é de cada" - comenta o autor.

Dividida em três volumes, a saga de Yeshuah é resultado de dez anos de pesquisas baseadas em textos apócrifos, de estudiosos e de algumas bases históricas.

MAIS FUTURISMOS

Três coisas boas que vão sair dessa eleição...

1. Não teremos mais os Demos por aí...

2. O Partido Progressista, do Sr. Paulo Maluf, pelo menos em SP, não vai eleger ninguém...

3. O Mercosul continua.

Paz e Bem!

DA CARTA MAIOR

Serra contra o Mercosul: o auge das direitas loucas na América Latina 

Serra propõe substituir o Mercosul e as demais alianças regionais por tratados de livre comércio. A retirada política do Brasil significaria um decisivo aumento da influência dos EUA na América Latina, abrindo o caminho para suas estratégias de desestabilização e conquista. No esquema Serra, sem a rede protetora de aproximações e acordos políticos, econômicos e culturais, o Brasil teria só um caminho em sua política comercial: o da competição selvagem apoiada por salários e impostos reduzidos, na miséria crescente do grosso de sua população, no apequenamento do Estado e na expansão das estruturas repressivas para manter a ordem social e política. A análise é de Jorge Beinstein.

As declarações hostis ao Mercosul feitas por José Serra diante de empresários da Federação de Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), deveriam ser tomadas como um sinal de alarme não só no Brasil, mas também na maior parte dos países da região. Como assinalou recentemente um jornal de Buenos Aires, essa grosseria está em aberta contradição com o fato de que cerca de 90% das exportações do Brasil são compradas pelos países do Mercosul e de outros da América Latina (1). As declarações do candidato direitista aparecem como um convite ao suicídio do sistema industrial brasileiro que ficaria exposto à feroz concorrência na América Latina de países desesperados por aumentar suas vendas. A China, por exemplo, que acaba de registrar em março deste ano seu primeiro déficit comercial mensal do último qüinqüênio e cujas exportações (em sua quase totalidade industriais) caíram em 2009 cerca de 16% em comparação a 2008. Mas também de gigantes econômicos como Alemanha e outras economias européias de alto e médio desenvolvimento, ou dos Estados Unidos, todos eles acossados pela contração do comércio internacional provocada pela crise.

A proposta de Serra de revisar os acordos do Mercosul (considerado por ele como uma farsa e um obstáculo), apontando, como ele mesmo proclama, para sua “flexibilização”, reduzindo ao mínimo o processo de integração econômica, política e social até chegar mesmo a sua eliminação foi recebida com grande alegria pelos círculos mais reacionários da América latina e dos Estados Unidos. A publicação América Economia deu à notícia uma imagem de ruptura apocalíptica, destacando “José Serra reafirma que não quer que Brasil continue no Mercosul” (2).

Se Serra chega à presidência e aplica sua promessa de liquidação do Mercosul, estaria dando um terrível golpe contra uma das maiores proezas econômicas do Brasil: o boom de suas exportações que passaram de 58,2 bilhões de dólares em 2001 para 197,9 bilhões de dólares em 2008 (um aumento de 340%) (3). Como se sabe, as exportações brasileiras caíram cerca de 22% em 2009 devido à crise internacional, mas essa queda teria sido ainda maior sem a existência da retaguarda latinoamericana, sem esses países vizinhos ligados ao Brasil por múltiplos laços econômicos, políticos e culturais. Romper ou “flexibilizar” esses laços em um contexto internacional como o atual, marcado por uma crise que vai se agravando seria uma loucura. O Brasil estaria dando de presente uma importante porção dos mercados regionais a competidores de todos os continentes.

Integrações periféricas, deterioração das velhas potências centrais
A proposta de Serra vai na contramão da tendência global dominante rumo às integrações periféricas que aparecem como respostas às crescentes dificuldades das economias das potências centrais (EUA, União Européia e Japão). Neste início de 2010, a China firmou um acordo de integração comercial com os países do Sudeste Asiáico agrupados na ASEAN (4), envolvendo mercados onde vivem quase 1,9 bilhão de pessoas. Poucos meses antes, foi firmado um acordo similar entre a ASEAN e a Índia. Somados os dois acordos e as populações envolvidas (China, Índia e países da ASEAN) chegamos a cerca de 3 bilhões de pessoas, ou seja, cerca de 45% da população mundial. Esse processo está relacionado também com a integração entre China e Rússia, onde um dos baluartes é a Organização de Cooperação de Shangai que agrupa as ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central e tem como observadores em processo de incorporação a Índia, o Paquistão, Mongólia e o Irã.

Este movimento de integração eurasiática incluindo mais da metade da população mundial está mudando não só a estrutura do comércio internacional, mas também suas relações políticas e militares, e é hoje o coração do processo de despolarização mundial, do fim da unipolaridade governada pelo Império norteamericano.

A outra tendência integradora importante é a da América Latina que, partindo do Mercosul, foi se ampliando por meio de diversas iniciativas, chegando a Unasul (390 milhões de habitantes e um Produto Bruto regional próximo a 3,9 trilhões de dólares) e à recentemente criada Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos (CELC). O vínculo entre esses dois fenômenos regionais é o BRIC, convergência entre Brasil, Rússia, Índia e China, onde o Brasil é precisamente o elo que os articula estrategicamente.

Esta nova realidade vai muito mais além do nível comercial ou mesmo econômico e está expressa no surgimento de um imenso espaço de poder periférico cujos países líderes têm conseguido resistir muito melhor ao impacto da crise do que as grandes potências capitalistas. Enquanto os EUA vão chegando a um nível insustentável de dívida pública (próxima a 100% do Produto Interno Bruto) e a União Européia aparece muito golpeada pela crise grega, detonadora de um desastre regional muito maior, a América Latina vem se “desendividando”: em 2003, sua dívida externa pública representava cerca de 60% do Produto Bruto regional; em 2008, esse índice caiu para 30%. A região conseguiu isso crescendo e exportando, com várias de suas economias chave afastando-se da ortodoxia neoliberal e da hegemonia dos Estados Unidos.

Em resumo, a periferia está se integrando, suas nações comercializam cada vez mais entre si, enquanto os países ricos (a área imperialista do mundo)aparecem atingidos pela crise com seus mercados internos estagnados ou em contração. No entanto, a ascensão da periferia não é inexorável. Dependerá da forma pela qual responda a uma crise sistêmica global que se aprofunda, dependerá de sua capacidade de superar barreiras, das armadilhas de um sistema capitalista mundial regido por potências decadentes e hegemonizado pelo parasitismo financeiro e, sobretudo, no longo prazo, de sua capacidade para libertar-se dessa pesada teia de aranha civilizacional (de raiz ocidental e burguesa) que a condenou ao subdesenvolvimento.

As direitas locais
O que Serra propõe é um caminho perverso: sair do processo integrador periférico e submeter-se completamente às turbulências do mercado internacional sem nenhum tipo de escudo protetor regional ou periférico trans-regional. Deste modo, o Brasil passaria a fazer parte da estratégia de recomposição geopolítica imperial dos EUA, onde um dos capítulos decisivos é a desestruturação das integrações periféricas tanto na Eurásia quanto na América Latina.

Serra propõe substituir o Mercosul e as demais alianças periféricas (Unasul, BRIC, etc.) por um conjunto de tratados de livre comércio. A retirada política do Brasil significaria automaticamente um decisivo aumento da influência dos EUA na América Latina, abrindo o caminho para suas estratégias de desestabilização e conquista. O contexto regional de estabilidade obtido na década passada se deterioraria rapidamente. Um só caso exemplifica bem este perigo: a Bolívia esteve até bem pouco tempo correndo o risco de entrar em uma guerra civil, devido à convergência golpista de sua direita neofascista e do aparato de inteligência do governo Bush. O golpe cívico-militar que detonaria essa catástrofe foi, em boa medida, evitado pela intervenção política dos países do Mercosul, que deram um apoio decisivo para o governo constitucional de Evo Morales. A derrubada da democracia neste país seguramente teria animado tentativas similares em outras nações como Paraguai, Equador e mesmo Argentina convertendo uma parte importante do entorno geográfico do Brasil em uma área caótica, infestada de frentes reacionárias que finalmente conseguiriam afetar sua estabilidade democrática e sua dinâmica produtiva.

No esquema Serra, sem a rede protetora de aproximações e acordos políticos, econômicos e culturais, o Brasil teria só um caminho para prosseguir em seu desenvolvimento comercial em um mundo cada vez mais difícil: o da competição selvagem respaldada por salários e impostos reduzidos, ou seja, apoiada na miséria crescente do grosso de sua população (começando pelos assalariados e seguindo pelas classes médias), no apequenamento do Estado e, inevitavelmente, na expansão das estruturas repressivas destinadas a manter a ordem social e política; em resumo, na deterioração acelerada das liberdades democráticas. Como vemos, o processo começa com um discurso comercial e culmina necessariamente com um modelo político claramente autoritário.

Deste modo, Serra passa a formar parte do leque de políticos latinoamericanos de raiz neoliberal, nostálgicos das velhas relações neocoloniais com o Império. Estes dirigentes superados pelas tendências integradoras e autonomizantes hoje dominantes na periferia lançaram-se a uma reconquista desesperada dos governos. O tempo joga contra eles, a realidade vai lhes escapando, o senhor imperial que desejam servir está enredado em seus próprios e muito graves problemas, tornando-o cada vez mais irracional. Há um aumento da irracionalidade nos sistemas de poder do centro decadente do mundo e também em seus serventes periféricos.

As direitas loucas, degradadas, infestadas de brotos fascistas estão agora em moda na América Latina. Em certo sentido, expressam o passado (neoliberal), mas, sobretudo, constituem a promessa de um futuro sinistro.

Que outra coisa é a direita boliviana que deseja impor um regime de apartheid? Pensemos na caótica direita Argentina cujo único programa é o retorno aos planos de ajuste e a repressão dos movimentos sociais, na direita golpista paraguaia e seus delírios ditatoriais, na direita venezuelana que já ensaiou um golpe de estado fascista e inviável e que está disposta a repetir a façanha.

Seus projetos de ordem elitista e autoritário poderiam ser vistos como parte da decadência cultural dos círculos de poder que comandaram o mundo na era neoliberal, a era da hipertrofia do parasitismo financeiro, da depredação desenfreada de recursos naturais e humanos. Esses setores estão agora mergulhados em uma crise sistêmica que vai desorganizando-os, jogando-os em uma posição caótica, não só no nível de suas estruturas econômicas, mas também no plano psicológico, ou que os torna cada vez mais perigosos e imprevisíveis.

(*) Economista argentino, professor na Universidade de Buenos Aires. É autor, entre outros livros, de "Capitalismo senil, a grande crise da economia global".

NOTAS
 
(1) “Jornal argentino questiona posição de Serra sobre Mercosul”, Carta Maior, 22/04/2010.

(2) “José Serra reafirma que no quiere que Brasil continúe en el Mercosur”, América Economía, 21/04/2010.

(3) IPEA, “Brasil em desenvolvimento”, Volume I, 2009.

(4) Membros da ASEAN; Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura, Tailândia, Brunei, Vietnã, Laos, Birmânia y Camboja


Tradução: Katarina Peixoto