Pastor ameaça reconsiderar decisão de não queimar Alcorão após acordo ser desmentido DE SÃO PAULO Atualizado às 22h17. O pastor da Flórida Terry Jones disse nesta quinta-feira que mentiram para ele e que, por isso, está reconsiderando sua decisão de não queimar o Alcorão. Mais cedo, o líder da pequena igreja evangélica Dove World Outreach Center, na cidade de Gainesville, anunciou ter suspendido seu polêmico projeto de queimar 200 cópias do livro sagrado do islamismo no próximo sábado, nono aniversário dos ataques de 11 de Setembro. Jones alegou ter feito um acordo com líderes muçulmanos que planejam construir um centro cultural islâmico e uma mesquita perto do local dos atentados de 11/9, em Nova York. O projeto recebe forte oposição entre conservadores nos EUA. Porém, os líderes muçulmanos diseram que não foi feito nenhum acordo para mudar o lugar da construção. | ||||
O imã Muhammad Musri fala em entrevista coletiva na Flórida, enquanto o pastor Terry Jones escuta |
Porém, fontes próximas ao imã de Nova York, Feisal Abdul Rauf, disseram que não houve nenhum acordo para mudar o local de construção do centro islâmico.
O próprio Musri também afirmou que nenhum acordo foi feito para mudar o local de construção da mesquita. Segundo ele, a oferta foi apenas de organizar uma reunião entre o reverendo Jones, o imã de Nova York e ele mesmo, para conversarem sobre a localização da mesquita.
"Estou grato que o pastor Jones decidiu não queimar nenhum Alcorão. Porém, eu não conversei com o pastor Jones", diz Musri em comunicado. "Estou surpreso pelo anúncio deles. Não vamos brincar com nossa religião ou outra. Também não vamos fazer permutas. Estamos aqui para estender nossas mãos para construir paz e harmonia."
Ele disse ter contado a Jones que também não concorda com a construção da mesquita perto do "Ground Zero", e que fará tudo que está a seu alcance para mudar o local.
Ao ser informado sobre a negativa do acordo, Jones reagiu. "Agora só estamos pondo uma suspensão temporária em nosso evento planejado", disse Jones. "Aceitamos a suspensão porque, neste momento, estamos verdadeiramente decepcionados e muito afetados, porque se isso é verdade, ele [Musri] mentiu para nós muito claramente", disse. "Seríamos obrigados a reconsiderar nossa decisão, porque cancelamos [o plano] com base em sua palavra. Entendo que agora está voltando atrás dizendo que não disse isso."
POLÊMICA
Os planos de queimar 200 cópias do livro sagrado do islamismo --religião que Jones considera um perigo mundial-- já haviam atraído duras críticas de Washington e o próprio presidente Barack Obama pediu mais cedo na televisão que o pastor desista deste "ato destrutivo".
Karen Bleier/AFP | ||
Jornalista assista vídeo do pastor Terry Jones, que já admite desistir da idéia, se EUA pedirem |
APELO DE OBAMA
Mais cedo, em entrevista ao programa da rede ABC "Good Morning America", o presidente americano, Barack Obama, criticou os planos do pastor Jones e disse que o evento servirá como uma "bonança para o recrutamento" de terroristas pela Al Qaeda.
Obama pediu ainda a Jones que ouça "os melhores anjos" e cancele a campanha prevista para o próximo sábado, exatos nove anos após os atentados terroristas em Nova York e Washington.
"Se ele estiver ouvindo, eu espero que entenda que o que ele está propondo fazer é completamente contrário aos nossos valores como americanos", disse Obama. "Este país é construído na noção de liberdade e tolerância religiosa", continuou o presidente.
"Eu apenas quero que ele entenda que esta pegadinha que ele está planejando pode colocar em grande risco nossos homens e mulheres de uniforme", defendeu Obama, repetindo argumento do general David Petraeus, comandante das tropas internacionais no Afeganistão.
"Olhe, isto é uma bonança para o recrutamento da Al Qaeda. [...] Se o plano for realizado, pode servir de incentivo para indivíduos terroristas se explodirem para matar outros", alertou Obama, em um tom mais direto do que costuma usar em questões nacionais. "Eu espero que ele ouça aqueles melhores anjos e entenda que isto é um ato destrutivo."
A reação de Obama é apenas a mais recente entre o alto escalão em Washington. Nesta terça-feira, a Casa Branca declarou publicamente estar preocupada com a queima do Alcorão e alertou que o projeto coloca em risco as tropas americanas no Afeganistão e pode ser usada por terroristas como campanha contra os EUA. As críticas vieram também do chefe da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Anders Fogh Rasmussen, da secretária de Estado, Hillary Clinton, e do secretário de Justiça, Eric Holder. A lista de críticos inclui ainda a Índia, o Vaticano e a Liga Árabe.
INTERPOL EM ALERTA
A Interpol alertou aos governos do mundo todo nesta quinta-feira para o aumento no risco de ataques terroristas caso o pastor evangélico Terry Jones leve à frente o Dia Internacional para a Queima do Alcorão.
"Se a queima do Alcorão pelo pastor for mesmo realizada, há grande probabilidade de novos ataques contra pessoas inocentes", disse a Interpol em um comunicado divulgado nesta quinta-feira.
O ministro do Interior paquistanês, Rehman Malik, teria pedido à agência que alertasse o mundo todo sobre 'o crescimento da ameaça terrorista' no nono aniversário dos ataques 11 de Setembro ocorridos em Nova York e Washington em 2001.
"Considerando que fomos alertados sobre uma ameaça significativa contra a segurança pública, é nosso dever garantir que essa informação seja repassada às autoridades de todo o mundo para que tomem as medidas adequadas", disse o secretário-geral da Interpol, Ronald K. Noble.
Segundo ele, não há detalhes sobre que tipos de atentados poderiam ocorrer, mas a queima do Alcorão pode ter "consequências trágicas".
A Interpol pediu ainda que qualquer país que receba informações sobre ameaças específicas entre em contato com sua sede, que estará "24 horas em alerta".
COM AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
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