Autora vê revista "Playboy" como precursora das redes sociais e reality shows
México, 20 jun (EFE) - A companhia de entretenimento Playboy, fundada por Hugh Hefner em 1953, se transformou em um império empresarial do qual, além da famosa revista erótica, surgiriam os antecedentes do que hoje são as redes sociais e os reality shows, declarou à Agência Efe a filósofa espanhola Beatriz Preciado.
Para a autora do ensaio "Pornotropia" (Anagrama, 2010), que apresenta o trabalho no México, Hefner (Chicago, 1926) é um transgressor que usou as tecnologias em plena "Guerra Fria" (1945-1989) para criar novas formas "de consumo e entretenimento" que a partir dos Estados Unidos ganhariam o resto do mundo e hoje são normalmente aceitadas.
Em sua obra, finalista do 38º Prêmio Anagrama de Ensaio em abril, Preciado (Burgos, 1970) explora o impacto da "Playboy" na cultura popular americana do século 20.
No livro, conta como Hefner, editor e fundador da "Playboy", foi além de um transgressor. Ele inventou a "cama redonda", um espaço que, equipado com telefone e com acesso a um circuito fechado de televisão, o permitia administrar seu império a partir de sua casa.
O excêntrico Hefner conseguiu se transformar assim no primeiro teletrabalhador, um homem que se tornou famoso "de roupão, pijama e chinelos" à frente de "uma das mais influentes revistas para adultos do mundo" a partir de suas mansões, uma em Chicago e outra em Los Angeles.
Ela considera fundamental, além disso, o uso que fez da imagem íntima. "Em plena 'Guerra Fria' decidiu colocar uma câmera de televisão na sua mansão" em Chicago, "e inventou o primeiro reality show da história da televisão americana", explica Preciado.
Seu "palácio de amor" de 32 quartos, "quase uma prisão televigiada", era um enorme platô onde foram filmados programas de entretenimento que se transformariam "nos antecessores mais diretos de nossos 'shows' audiovisuais de clausura, como o 'Big Brother', assinala.
Aquele projeto "voyeurista" na mansão serviu para começar a desnudar "a intimidade diante dos olhos da América" e a promover uma libertação da sexualidade masculina, na qual o homem podia construir um espaço próprio, "não regido pelas leis morais e sexuais do casamento heterossexual", afirma.
A revista criada em 1953 e que no fim dos anos 70 era a mais vendida dos EUA, com 6 milhões de exemplares, representou "um ataque frontal às relações tradicionais entre gênero, sexo e arquitetura" inclusive, apostando na modernidade que propunham figuras como o alemão Ludwig Mies van der Rohe (1886-1979) e Le Corbusier (1887-1965), ressalta Preciado.
"Para mim, 'Playboy' marca uma ruptura com os modelos tradicionais de produção do sexo e da sexualidade", afirma a filósofa, uma ruptura com o conservadorismo e, possivelmente, o primeiro passo rumo a grande revolução sexual do fim dos anos 60.
Acrescenta que no mundo atual "vivemos já constantemente conectados" a uma série de novas plataformas tecnológicas que estão mudando as relações e o modo de se divertir, algo que no fim dos anos 50 Hefner já fazia.
"Evidentemente ligamos para o Facebook, nos apaixonamos e postamos nosso primeiro encontro no YouTube (...). Acho que o antecessor mais direto de tudo isto é a 'Playboy', por mais curioso que isso possa parecer", acrescenta.
"Talvez as redes sociais sejam, por uma vez, herdeiras diretas desta cultura da 'Playboy' e, por outra, capazes de gerar 'todo um conjunto de novas normas de relação e de consumo e produção econômica' nas sociedades atuais", assinala.
A filósofa, que foi aluna nos Estados Unidos de Jacques Derrida e Agnes Heller, é professora de história política no Programa de Estudos Independentes do Museu de Arte Contemporâneo de Barcelona e na Universidade Paris.
Autor: Alberto Cabezas
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