Eu conheço um homem que foi viciado em drogas por vários anos. Hoje, há cerca de um ano, ele está limpo. Esta postagem é uma forma de escrever sobre o tema - o nosso principal problema de saúde pública no momento - e também de celebrar sua vitória.
Não fornecerei detalhes sobre sua identidade, uma vez que não estou autorizado a isso. Apesar disso, fornecerei todos os detalhes que são realmente necessários.
O vício em drogas é uma doença, adquirida pelo uso contínuo de alteradores de consciência, sejam eles quais forem. Cada viciado tem sua droga de escolha. No caso do homem que conheço, era a cocaína.
A doença tem alguns sintomas comuns a todos: progressiva perda de interesse por tudo o que não seja a droga (ou relacionada a seu uso ou a formas de conseguí-la) e a decadência mental e física.
A pessoa sobre quem escrevo iniciou o uso há pouco mais de dez anos. No período, ele experimentou ácido, cocaína, maconha, crack, lança-perfume e álcool.
Mas a sua droga de preferência era a cocaína.
A compra era feita por duas formas principais: um traficante que fornecia a droga aos seus clientes por meio de entregas; e a visita a pontos de venda em vários pontos de São Paulo.
No começo, o uso era social, mas, com o tempo, a pessoa sobre quem escrevo decidiu que era melhor usar a droga em casa, já que as quantidades consumidas eram cada vez maiores.
O uso de drogas lhe custou amizades, a perda de empregos e, obviamente, dinheiro.
Há cerca de um ano e meio, com o rompimento de um relacionamento amoroso, ele decidiu parar. Como o seu uso de drogas não era público, e ele não queria que a sua família soubesse disso, a opção por se internar em uma clínica de desintoxicação não era viável.
Assim, ele decidiu cortar a seco. Simplesmente interrompeu o uso.
No primeiro mês, ajudado por um amigo, ele utilizou um medicamento para ajudar a suportar a abstinência. O uso do remédio foi suspendido ao final deste mês.
Como em todos os casos, os primeiros meses de abstinência (total, uma vez que ele não passou a usar outras drogas) foram os piores; como em todos os casos, aconteceram recaídas.
Com o tempo, o auto-controle voltou e as recaídas pararam, por serem desnecessárias. Hoje, a droga - e nem mesmo a vontade de usar - fazem mais parte de sua vida.
Infelizmente, apenas parar de usar não é suficiente. Com o tempo limpa, a pessoa normalmente percebe que a sua vida está bagunçada e ela começa a fazer as coisas funcionarem novamente.
Segundo esta pessoa que conheço, dar início à reconstrução da vida é a melhor parte do processo de recuperação. E ela é permanente, uma vez que se pára de usar drogas.
A droga é um problema de saúde pública hoje. Infelizmente, as autoridades ainda o tratam como uma questão policial. Ou seja, basta apenas prender traficantes e diminuir a quantidade de droga disponível no mercado. Isto, em um mundo ideal. No nosso mundo, que não é ideal, policiais são responsáveis pelo tráfico de drogas.
A droga - e as pessoas que as vendem - estão apenas satisfazendo uma necessidade. Enquanto as autoridades não perceberem isso, e não partirem dessa premissa para lidar com o problema, a doença seguirá se alastrando.
Hoje, por exemplo, jornais e revistas noticiam que o crack - droga obtida a partir da produção e refino de cocaína - antes consumida apenas por pessoas pobres, é uma das drogas favoritas da classe média.
Isso mostra que o problema está se alastrando.
Soluções como prisões e a criação de clínicas de desintoxicação e grupos de auto-ajuda, como os Narcóticos Anônimos, por exemplo, não resolverão o problema, uma vez que eles atingem apenas o viciado em seus últimos estágios.
Ou seja, essas soluções atingem apenas o final da equação.
Ainda assim, Paz e Bem!
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