Especialistas em tráfego e arquitetura apoiam possível demolição do Minhocão
JULIANNA GRANJEIAcolaboração para a Folha
Após o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), anunciar um projeto que, se viabilizado, acabará com elevado Costa e Silva, conhecido como Minhocão, dois especialistas das áreas de arquitetura e urbanismo e de engenharia de transportes ouvidos pela Folha apoiaram a demolição da estrutura.
Para Flamínio Fichmann, arquiteto e urbanista e consultor de engenharia de tráfego, a diretriz do projeto da prefeitura de recuperar os eixos Lapa-Brás, Mooca-Vila Carioca e Rio Verde-Jacu é positiva. No entanto, a demolição do Minhocão poderia ser desvinculada do projeto de revitalização.
Divulgação | ||
Traçado apresentado pela prefeitura para via parque que prevê "enterrar" 12 km de trilhos entre a Lapa e o Brás |
O arquiteto disse que um túnel seria uma alternativa melhor para a cidade e que é possível melhorar as vias alternativas ao Minhocão. "A cidade mais perde do que ganha com o elevado Costa e Silva. É um absurdo uma cidade privilegiar vias elevadas, que abrigam mendigos embaixo, hoje já existem outras técnicas alternativas e baratas. O elevado se tornou uma cicatriz para São Paulo", afirmou.
O consultor na área de transportes e professor de engenharia de transportes do Mackenzie, João Virgílio Merighi, disse que a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) tem capacidade de buscar alternativas para o volume de carros que passam pelo elevado. "Não é difícil, é possível uma demolição relativamente rápida", afirmou Merighi.
Gargalo ferroviário
Outro ponto positivo do projeto, ressaltado por Merighi, é "enterrar" os 12 km de linhas de trem que ligam as regiões Lapa e Brás e construir no local uma via expressa entre as zonas leste e oeste. "A ideia antiga era fazer um ferroanel e o plano alternativo era mergulhar um túnel ferroviário. A prefeitura pegou essa ideia do mergulho dos trens que resolve um grande gargalo do transporte de carga", disse o consultor.
Merighi também afirmou que o projeto de revitalização é tecnicamente viável, mas para longo prazo. "Resolve o gargalo ferroviário, pois atualmente os trens não podem carregar mais de um contêiner por causa da altura, e pode dar a prefeitura um retorno de parcerias público-privadas. É um projeto a longo prazo, mas tem que começar. Isso se chama obra com planejamento", disse.
O consultor também explicou que com garantia de energia elétrica e bombas funcionando não há risco dos túneis ferroviários alagarem.
De acordo com informações do governo sobre o projeto, após o rebaixamento da linha férrea, será construída uma via parque com ciclovias que permitirá que os eixos transversais de ambos os lados, hoje interrompidos pelos trilhos, possam se conectar.
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Enterramento do sistema sobre trilhos no trecho Lapa-Brás: aproximadamente 12 km de linha férrea |
Não há previsão para o projeto ser finalizado, mas o mercado aposta que, se a prefeitura conseguir viabilizar, a demolição do Minhocão só ocorreria, no mínimo, em 2025. Para o arquiteto e urbanista e consultor de engenharia de tráfego, Flamínio Fichmann, esse prazo é inviável.
"Não conheço o projeto, mas Eu acho que é mais um que não vai acontecer. 'Enterrar' linhas ferroviárias depende do Estado e o Kassab tem só mais dois anos de mandato. Depois disso vai haver mudanças políticas, é preciso um cronograma mais curto", afirmou Fichmann.
Para o arquiteto, a prioridade da prefeitura deveria ser a demolição do Minhocão e não o "mergulho" das linhas de trem.
Projeto
O prefeito Gilberto Kassab e o secretário de Desenvolvimento Urbano, Miguel Bucalem, apresentaram nesta quinta-feira os detalhes do projeto das três novas operações urbanas para a cidade de São Paulo --Lapa-Brás, Mooca-Vila Carioca e Rio Verde-Jacu-- e disponibilizou os termos de referência para consulta pública.
Segundo a prefeitura, são projetos estratégicos, que têm como objetivo concretizar as diretrizes do plano diretor e que propõem a ocupação de parte da orla ferroviária que está subutilizada entre os bairros Lapa e Brás, Mooca e Vila Carioca.
Os termos de referência ficarão disponíveis durante um mês para consulta pública. A expectativa, segundo o governo, é de que os projetos estejam concluídos no segundo semestre de 2011 para serem encaminhados à Câmara.
Arte/Folha Online | ||
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