sexta-feira, 7 de maio de 2010

DE A FOLHA DE S. PAULO

Especialistas em tráfego e arquitetura apoiam possível demolição do Minhocão

JULIANNA GRANJEIA
colaboração para a Folha

Após o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), anunciar um projeto que, se viabilizado, acabará com elevado Costa e Silva, conhecido como Minhocão, dois especialistas das áreas de arquitetura e urbanismo e de engenharia de transportes ouvidos pela Folha apoiaram a demolição da estrutura.

Para Flamínio Fichmann, arquiteto e urbanista e consultor de engenharia de tráfego, a diretriz do projeto da prefeitura de recuperar os eixos Lapa-Brás, Mooca-Vila Carioca e Rio Verde-Jacu é positiva. No entanto, a demolição do Minhocão poderia ser desvinculada do projeto de revitalização.

Divulgação
Traçado apresentado pela prefeitura para via parque que prevê 
"enterrar" 12 km de trilhos entre a Lapa e o Brás
Traçado apresentado pela prefeitura para via parque que prevê "enterrar" 12 km de trilhos entre a Lapa e o Brás
"A intenção é, de certa forma, incentivar o mercado imobiliário a fazer um investimento na região e, com essa valorização, promover a demolição do elevado. A região do elevado merece um projeto independente de uma proposta tão ampla, a demolição do Minhocão deveria ser imediata", afirmou Fichmann.
O arquiteto disse que um túnel seria uma alternativa melhor para a cidade e que é possível melhorar as vias alternativas ao Minhocão. "A cidade mais perde do que ganha com o elevado Costa e Silva. É um absurdo uma cidade privilegiar vias elevadas, que abrigam mendigos embaixo, hoje já existem outras técnicas alternativas e baratas. O elevado se tornou uma cicatriz para São Paulo", afirmou.
O consultor na área de transportes e professor de engenharia de transportes do Mackenzie, João Virgílio Merighi, disse que a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) tem capacidade de buscar alternativas para o volume de carros que passam pelo elevado. "Não é difícil, é possível uma demolição relativamente rápida", afirmou Merighi.
Gargalo ferroviário
Outro ponto positivo do projeto, ressaltado por Merighi, é "enterrar" os 12 km de linhas de trem que ligam as regiões Lapa e Brás e construir no local uma via expressa entre as zonas leste e oeste. "A ideia antiga era fazer um ferroanel e o plano alternativo era mergulhar um túnel ferroviário. A prefeitura pegou essa ideia do mergulho dos trens que resolve um grande gargalo do transporte de carga", disse o consultor.
Merighi também afirmou que o projeto de revitalização é tecnicamente viável, mas para longo prazo. "Resolve o gargalo ferroviário, pois atualmente os trens não podem carregar mais de um contêiner por causa da altura, e pode dar a prefeitura um retorno de parcerias público-privadas. É um projeto a longo prazo, mas tem que começar. Isso se chama obra com planejamento", disse.
O consultor também explicou que com garantia de energia elétrica e bombas funcionando não há risco dos túneis ferroviários alagarem.
De acordo com informações do governo sobre o projeto, após o rebaixamento da linha férrea, será construída uma via parque com ciclovias que permitirá que os eixos transversais de ambos os lados, hoje interrompidos pelos trilhos, possam se conectar.

Reprodução
Enterramento do sistema sobre trilhos no trecho Lapa-Brás: 
aproximadamente 12 km de linha férrea
Enterramento do sistema sobre trilhos no trecho Lapa-Brás: aproximadamente 12 km de linha férrea
Viabilidade
Não há previsão para o projeto ser finalizado, mas o mercado aposta que, se a prefeitura conseguir viabilizar, a demolição do Minhocão só ocorreria, no mínimo, em 2025. Para o arquiteto e urbanista e consultor de engenharia de tráfego, Flamínio Fichmann, esse prazo é inviável.
"Não conheço o projeto, mas Eu acho que é mais um que não vai acontecer. 'Enterrar' linhas ferroviárias depende do Estado e o Kassab tem só mais dois anos de mandato. Depois disso vai haver mudanças políticas, é preciso um cronograma mais curto", afirmou Fichmann.
Para o arquiteto, a prioridade da prefeitura deveria ser a demolição do Minhocão e não o "mergulho" das linhas de trem.
Projeto
O prefeito Gilberto Kassab e o secretário de Desenvolvimento Urbano, Miguel Bucalem, apresentaram nesta quinta-feira os detalhes do projeto das três novas operações urbanas para a cidade de São Paulo --Lapa-Brás, Mooca-Vila Carioca e Rio Verde-Jacu-- e disponibilizou os termos de referência para consulta pública.
Segundo a prefeitura, são projetos estratégicos, que têm como objetivo concretizar as diretrizes do plano diretor e que propõem a ocupação de parte da orla ferroviária que está subutilizada entre os bairros Lapa e Brás, Mooca e Vila Carioca.
Os termos de referência ficarão disponíveis durante um mês para consulta pública. A expectativa, segundo o governo, é de que os projetos estejam concluídos no segundo semestre de 2011 para serem encaminhados à Câmara.

Arte/Folha Online

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