segunda-feira, 10 de maio de 2010

AS PAIXÕES QUE FAZEM GUERRA CONTRA A ALMA

Pedro disse (na sua 1ª Epístola) que as paixões carnais fazem guerra contra a alma; e que é pela obediência à verdade que a nossa alma é purificada.

De fato, Pedro está dizendo que a alma pode se enganar muito tempo com nossas mentiras, e com as mentiras que nós decidimos que serão o piso de nossa realidade; e que, além disso, a alma, pode entregar-se à procura de todas as formas de realização indicadas por nós para ela — porém, depois de um tempo, ferida nas guerras das paixões, dos surtos, dos impulsos, dos direitos inquestionáveis, dos caprichos tidos como normais, e de todo tipo de hedonismo sem significado e sem afeto, a alma se levanta com o poder das Sombras do Interior; e se apresenta com as feições às quais se amoldou (“... Não vos amoldeis às paixões que fazem guerra contra a alma...”).

Então a pessoa grita: “Assombração! Fantasma! Diabo! O que é isso?”.

Mas não é nada. É apenas a alma nos chamando para uma “Exposição de Fotos Nossas”; ou chamando para um desfile dela mesma com as roupas psicológicas e com as formas e contornos de caráter que nós impusemos como “beleza e saúde” sobre ela.

A alma pode comer mentira por muito tempo; mas não comerá o tempo todo.

Sim! Sempre, mais cedo ou mais tarde, a alma se apresentará vestida com nossos gostos e caprichos transformados em produto psicológico. Então, ela, a alma, nos dá a chance de dizer “isto é bom”; ou, então, de dizermos “isto é mal”; ou, quem sabe, “não é bom pra mim”.

A salvação do homem que tem uma alma — é poder pelo menos ouvir seus gritos de dor em razão de sua existência posta contra a verdade; e, assim, dar a ela o direito de conhecer a verdade.

No entanto, caso isso não seja a ela concedido, se morrerá carcomido pela fantasia como fantasmagoria; pela mentira como frustração; pela ilusão como esperança adiada (que enferma o coração); pela auto-vitimização que impede a pessoa de assumir responsabilidades para a libertação pessoal; e por toda sorte de desculpas; as quais se transformarão em amarguras; mas que jamais farão a pessoa abraçar a verdade para o bem da alma; e para que pela verdade ela seja purificada.  

A alma se tumultua com a mentira, o engano e a fantasia; e se torna ela mesma, pacificada, quando é restaurada pela obediência à verdade.

Pedro diz que essas paixões se manifestam como paixão sexual (sem afeto; ou com afeto fabricado a fim de “justificar” o troca-troca); e como paixão relacional (cheia de amarguras e de vícios do ódio e do engano; com muita gritaria, e com muita dependência e co-dependência; e com muita embriagues ou fuga do real).

E mais: ele diz que tais paixões carnais têm sua dimensão pública; e que se manifestam nos abusos praticados contra a esposa, o marido, os servos, os patrões, os empregados, as autoridades, etc.

Sim! Essa paixão carnal é narcisista e é cheia de auto-indulgência, posto que sua marca principal é a insatisfação passional e louca, bem como é ela marcada pelo mais profundo egoísmo e falta de afeto natural.

Paixões carnais são patologias do sentir e do desejo; e são o fruto da fobia da morte, que diz: “aproveita que está acabando...”; e, também, se deriva da insegurança existencial de quem não tem em Deus (mesmo!) o sentido de sua vida.

Paixões carnais nada têm a ver com a boa paixão, que enfatua a alma pelo encontro, e que precede ao amor que crescerá pelo vínculo com o outro. Nem tampouco têm elas qualquer coisa a ver com a vontade de trabalhar e de crescer, se o crescimento de fora não matar o de dentro.

Paixões carnais são fruto também da vaidade existencial que só encontra afirmação no que possa mostrar como variedade e poder para fora — nem que seja poder para manipular e seduzir por seduzir.

Por último, as paixões carnais também se manifestam de modo “espiritual”, e que têm a ver com sede poder sobre as demais pessoas, com o fim de sobre elas sobressair e controlar.

Assim, a busca da fama, do poder, do dinheiro e das importâncias sociais —, também fazem parte das paixões carnais.  


Pedro conclui dizendo que o diabo está em derredor; e que as ansiedades trabalham em seu favor contra nós.

Sim! As paixões que fazem guerra contra a alma são as mesmas que geram as ansiedades que o diabo usa. Usa-as a fim de determinar (pelas nossas carências e pelos vazios do coração) as necessidades que haverão de ser atendidas justamente por aquilo que haverá de fazer guerra contra a alma.

Desse modo, Pedro diz que o remédio para isso é purificar a alma na verdade e manter a mente sóbria, modesta, lúcida, calma, e com todas as ansiedades postas diante de Deus; com confiança!


Quem ama a verdade fará bom proveito para a alma crendo em tudo o que aqui disse; pois eu sei, você sabe, todos sabem, que o que tenho aqui dito é a Palavra que nos foi evangelizada desde o principio.

Assim, também digo, buscando ser fiel despenseiro da Graça de Deus: “O que recebi isto também vos entreguei!”.

Nele, que nos chama à salvação na verdade e no amor,

Caio

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