Há alguns anos, em uma das minhas visitas a uma livaria especializada em artigos evangélicos no Centro de São Paulo, tive a sorte de fazer amizade com uma vendedora. Era uma senhora que gostava de conversar comigo sobre os livros que estava lendo; trocávamos impressões e comentários.
Em uma de minhas visitas, ela se virou e me perguntou:
- Thiago, você já leu algum livro do Brennan Manning?
- Quem?, eu perguntei.
- É um autor americano novo, que está começando a ter seus livros publicados no Brasil.
- Não, eu não conheço.
Ela foi até uma das prateleiras da loja e voltou com um pequeno livro em suas mãos.
- Eu acabei de ler esse aqui. Garanto que você vai gostar, ela disse, enquanto me entregava o livro.
O título era O Evangelho Maltrapilho. Na contra-capa, um aviso aos possíveis leitores:
"O Evangelho Maltrapilho foi escrito para pessoas aniquiladas, derrotadas e exauridas. Pessoas que se acham indignas de receber o amor de Deus. Quem sabe, ignoradas pela comunidade de cristãos por não se encaixarem no perfil de super-homem ou de supermulher que lhes é constantemente exigido. Pessoas cansadas da espiritualidade superficial e consumista. Pessoas que travam inúmeras batalhas interiores por não se sentirem parte de uma comunidade afetiva e acolhedora".
Parece familiar? Independentemente de sua opção religiosa - ou da ausência de uma definição a respeito - vocêr, leitor ou leitora, já se sentiu realmente aniquilado?
Li O Evangelho Maltrapilho em poucos dias e, em seguida, voltei à livraria, querendo saber se haviam outros livros do Sr. Manning publicados no Brasil. Para minha sorte, tinha, sim.
De lá pra cá, acredito ter lido tudo o que foi escrito por ele e publicado no Brasil. Faço parte de uma comunidade virtual sediada nos Estados Unidos de leitores que comentam sua obra. E, vez ou outra, penso em escrever um e-mail para o homem.
Mais uma citação do livro:
"O Evangelho Maltrapilho foi escrito com um público leitor específico em mente. Este livro não é para os superespirituais.
Não é para os cristãos musculosos que têm John Wayne como herói, e não a Jesus.
Não é para acadêmicos que aprisionam Jesus na torre de marfim da exegese.
Não é para gente barulhenta e bonachona que manipula o cristianismo a ponto de torná-lo um simples apelo ao emocionalismo.
Não é para os místicos de capuz que querem mágica na sua religião.
Não é para os cristãos "aleluia", que vivem apenas no alto da montanha e nunca visitaram o vale da desolação.
Não é para os destemidos que nunca derramaram lágrimas.
Não é para os zelotes ardentes que se gabam com o jovem rico dos Evangelhos: "Guardo todos esses mandamentos desde a minha juventude".
Não é para os complacentes, que ostentam sobre os ombros um sacolão de honras, diplomas e boas obras, crendo que efetivamente chegaram lá.
Não é para os legalistas, que preferem entregar o controle da alma a regras a viver em união com Jesus.
O Evangelho Maltrapilho foi escrito para os dilapidados, os derrotados e os exauridos".
Não é para os cristãos musculosos que têm John Wayne como herói, e não a Jesus.
Não é para acadêmicos que aprisionam Jesus na torre de marfim da exegese.
Não é para gente barulhenta e bonachona que manipula o cristianismo a ponto de torná-lo um simples apelo ao emocionalismo.
Não é para os místicos de capuz que querem mágica na sua religião.
Não é para os cristãos "aleluia", que vivem apenas no alto da montanha e nunca visitaram o vale da desolação.
Não é para os destemidos que nunca derramaram lágrimas.
Não é para os zelotes ardentes que se gabam com o jovem rico dos Evangelhos: "Guardo todos esses mandamentos desde a minha juventude".
Não é para os complacentes, que ostentam sobre os ombros um sacolão de honras, diplomas e boas obras, crendo que efetivamente chegaram lá.
Não é para os legalistas, que preferem entregar o controle da alma a regras a viver em união com Jesus.
O Evangelho Maltrapilho foi escrito para os dilapidados, os derrotados e os exauridos".
Quanto a mim, sei que não cheguei lá e, frequentemente, visito o vale da desolação.
Infelizmente, a religião organizada tornou-se um produto, como tudo o mais nesse mundo cinza em que somos forçados a viver. Vamos à igreja, ao terreiro ou ao centro uma vez por semana e, durante duas horas, um pouco menos, talvez, somos espirituais. Nos dias da semana que sobram, ou seja, a semana inteira, somos iguaizinhos aos outros que não perdem tempo em templos religiosos.
Falhamos diairiamente em atingir um padrão moral ao qual nos forçamos a alcançar. E somos esmagados pela culpa ou pela atordoante sensação de fracasso, auto-infligidos, ou gentilmente impostos a nós por outras pessoas.
Em seus livros, Manning - um homem que também tropeçou, caiu e levantou um milhão de vezes - fala sobre o fato de que, apesar de mudanças e alterações de curso serem necessárias; afinal, não mudar é estar morto, nunca devemos nos esquecer do amor de Deus, que nos aceita como somos.
Brennan Manning
Eu sei que parece difícil acreditar nisso. Eu mesmo, quando digitava a penúltima frase, senti uma pontada de dúvida, uma irresistível tentação de perguntar "será mesmo? de verdade?".
Mas, felizmente, é, sim.
Há algum tempo, eu me defino como um cristão maltrapilho. O que isso significa? Apenas que, apesar das minhas tentativas de mudança - e elas são muitas, pode acreditar - sei que nunca vou ser perfeito. E sei do amor de Deus, apesar das minhas frequentes recaídas na dúvida e no cinismo.
Assim, não me preocupo em ser santo. Faço o melhor possível e, quando erro, todas as centenas de vezes ao dia, páro, penso, peço perdão, procuro arrumar as coisas e sigo em frente.
Escolhi um caminho sem culpas e sem neuroses. Nesse Caminho, preciso de honestidade para encarar minhas derrapadas, e de disposição para seguir em frente.
Paz e Bem!
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