sábado, 13 de março de 2010

O HORROR, O HORROR

Desde criança, gosto de filmes de horror. Como qualquer fã que se preze, tenho meus filmes favoritos no gênero, assim como gosto muito de ter alguns tipos de filmes de terror preferidos.

Um exemplo: adoro filmes sobre vampiros e sobre zumbis. Tenho um tremendo carinho por clássicos imortais como "A Hora do Espanto", "Entrevista com o Vampiro", "A Noite dos Mortos-Vivos" e "Madrugada dos Mortos", por exemplo. 

Gosto dos filmes de horror em que o sangue rola solto, como os da série "Hellraiser", mas também sou fã de filmes terror-cabeça como "Os Outros" e "O Iluminado".

Recentemente, adquiri o vício de assistir o seriado de TV "Supernatural", onde dois irmãos, os sensacionais Sam e Dean, encaram todo o tipo de bichinho maldoso que se esconde nas sombras.

    Os irmãos da série de TV Supernatural

Gosto de livros - romances e contos - de horror, sendo que autores como Edgar Allan Poe, H. P. Lovecraft e Stephen King fizeram grandes estragos à minha massa encefálica. 

Gosto de histórias em quadrinhos de horror, mesmo tendo de reconhecer que, nessa área, o gênero ainda não atingiu o seu auge, com algumas notáveis exceções. 

E qual é o fascínio do gênero?

Bom, mesmo sem ser crítico literário, mas apenas um leigo no assunto, vou arriscar alguns palpites pouco fundamentados...

O gênero horror, seja na literatura ou nas artes modernas, como o cinema e as histórias em quadrinhos, tem um fascínio incrível pois nos força a confrontar o medo essencial que se esconde em todo o coração humano: o medo da morte. 

O medo da morte se manifesta de várias formas diferentes, e varia de pessoa para pessoa. Vai doer? Vai ser rápido? Vai ser lento? Vou morrer dormindo? Vou morrer num acidente? Em um assalto? Estraçalhado por hienas famintas?

Outra forma do assunto nos apavorar diz respeito à questão do que existe depois da morte? Essa resposta, todos nós já a temos, independente de credo religioso ou opinião pessoal: nós não sabemos o que acontece depois da morte. 

Assim, as várias visões diferentes sobre o assunto oferecidas pelos autores de histórias de horror são fascinantes. Céu? Inferno? Gasparzinho? Ou algo pior, de que nem sequer ouvimos falar?

    Pinhead, da série Hellraiser

Para mim, o principal apelo das histórias de horror se esconde em sua incrível capacidade de nos oferecer análises interessantes sobre a vida humana e sobre a sociedade em geral. 

Nos filmes de zumbis, por exemplo (um dos meus subgêneros favoritos na área), normalmente acontece o seguinte: os mortos voltam à vida e, privados de inteligência ou qualquer resquício de humanidade, passam a atacar os vivos. Uma vez atacado por um zumbi, você e eu nos tornamos zumbis também. 

         Madrugada dos Mortos

Ou seja, o mundo é tomado por uma verdadeira epidemia de cadáveres ambulantes, transformados em assassinos. 

Nesses filmes, invariavelmente, a sociedade organizada deixa de existir em pouco tempo e somos tomados pelo simples instinto de sobrevivência.

O problema é que, se vivemos apenas para sobreviver, e descartamos aspectos como moralidade e compaixão, por exemplo, a coisa fica feia. 

Nos filmes de zumbi do sensacional George Romero - grande inventor do gênero - é fácil perceber o debate sobre classes sociais, racismo e machismo por debaixo da luta desesperada entre os vivos e os mortos. 

Nos filmes de vampiro, temos o outro lado da moeda. Os vampiros são imortais, desde que se alimentem de sangue humano eternamente. 

          Visão Parcial do Cartaz de Drácula de Bram Stoker

Em "A Hora do Espanto" (Fright Night, no original), clássico de 1985, que mistura comédia e horror, um rapaz descobre que o novo morador da casa ao lado é um vampiro e que ele está matando várias moças na cidade.

Em "Entrevista com o Vampiro" (Interview with the Vampire), da década de 90, vemos o fardo da imortalidade na vida dos vampiros Louis e Lestat. 

     Entrevista com o Vampiro

Os filmes de vampiros abordam a questão da imortalidade, e sua impossibilidade, ao mesmo tempo em que lidam com a questão da sexualidade. Normalmente, os vampiros são apresentados como sedutores e irresistíveis e o próprio ato essencial para sua sobrevivência, ou seja, sugar o sangue das vítimas, possui evidentes conotações sexuais.

    O novo Lobisomem

Outros clássicos do gênero podem ser interpretados como estudos metafóricos sobre a condição humana: Frankenstein, de Mary Shelley, escrito na segunda metade do século XIX, é uma alegoria sobre o progresso técnico da humanidade, sem ser acompanhado por um equivalente progresso moral, o que gera aberrações.

Qualquer pessoa com o mínimo poder de observação percebe que esse receio da escritora se concretizou em um mundo que produz alimentos suficientes para alimentar toda a humanidade; mas, no entanto, mais de um bilhão de pessoas passam fome todos os dias.

O mito do lobisomem trabalha a questão do duelo entre razão e irracionalidade, travado em cada ser humano. E sobre os perigos do nosso lado animal conseguir sobrepujar nossa humanidade.

Assim, em última análise, é possível defender a tese de que os filmes de horror - assim como os contos e HQs do gênero, tratam-se, na verdade, de metáforas sobre a condição humana e, por isso, mantém seu interesse permanente.

Paz e Bem!

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