domingo, 14 de março de 2010

FRANCISCO E CHARLES: SERVIÇO E CONFIANÇA

Nas postagens anteriores, incluí duas orações famosas atribuídas a homens que entraram para a História pela intensidade com que buscaram relacionar-se com Deus. A primeira oração é atribuída a Francisco de Assis; a segunda, a Charles de Foucauld.

Em termos gerais, acredito que as duas orações refletem dois dos principais aspectos, ou melhor, características de comprometimento com o discipulado cristão, ou seja, com a tentativa de imitar a Cristo em nossas vidas.
A primeira dessas características aparece na oração de Charles de Foucauld e pode ser compreendida como a completa entrega de nossa vida, nossos desejos e sonhos, assim como nossos problemas e angústias, a Deus.

 Charles de Foucauld

Compreendo a dificuldade que enfrentamos em exercitar uma confiança cega em Deus, uma vez que, na verdade, não queremos que Deus realize a sua vontade em nossas vidas. No fundo, o que queremos é que Deus deseje para nós exatamente aquilo que queremos para nós mesmos.

Assim, ao invés do famoso "seja feita a tua vontade", a realidade é "seja feita a tua vontade, desde que ela espelhe a minha vontade".

Acredito que o principal problema nisso é que a minha vontade, ou melhor, os meus desejos, refletem apenas o meu estado mental no momento em que essas vontrades surgem. Isso significa que os meus desejos estão manchados por confusão, pressa e a agitação cotidiana a que todos estamos submetidos nos dias de hoje.

A verdade é que, para ser honesto, nem mesmo eu sei o que quero. As vontades flutuam segundo o meu estado de espírito, e as coisas que desejo mudam constantemente. 

Desta forma, submeter os meus desejos à vontade de Deus, que é sempre o mesmo e permanece inalterado, parece um exercício quase impossível, além de doloroso, principalmente quando Deus se recusa a agir como uma espécie de gênio da lâmpada.

Daí, a necessidade da confiança cega na bondade e no amor de Deus.

A oração de Francisco de Assis reflete a segunda principal caracterítica necessária à imitação de Cristo: o compromisso com o serviço ao próximo, a ponto de que este serviço signifique o auto-sacrifício.

 Francisco de Assis, por El Greco

Não se trata da realização de obras de caridade ou de trabalho voluntário em uma entidade que ofereça sopão ao pobres. Trata-se de um compromisso pessoal com o serviço ao próximo, seja ele quem for. 
Pessoalmente, não realizo trabalhos voluntários com a frequência que gostaria, mas procuro estar disponível a amigos e desconhecidos e tento ajudá-los em suas necessidades, apesar das minhas falhas e ausências, inclusive com amigos queridos. 

De que forma isso se traduz na prática do dia a dia? Em um gesto, um abraço, uma palavra, um e-mail ou uma caminhada junto com alguém que tem um problema ou simplesmente deseja desabafar um pouco.

Em geral, o serviço se traduz em um exercício de estar permanente atento e disponível a ouvir outras pessoas, o que só pode ser feito com o crescente abandono do foco de atenção em minhas próprias necessidades pessoais, sejam elas reais ou fictícias.

Serviço e Confiança são as duas formas com que se pode imitar a Cristo, e esta deveria ser a meta de todos aqueles que se auto-definem como "cristãos".

Paz e Bem!

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