sexta-feira, 19 de março de 2010

O FILHO PRÓDIGO

O texto que se encontra na abertura deste blog, logo abaixo do título Com Outros Olhos, é uma citação bíblica. Ela foi retirada do Evangelho de Lucas.

"Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi encontrado"

Trata-se do trecho final de uma das parábolas apresentadas por Jesus a seus discípulos mais discutidas e comentadas, a Parábola do Retorno do Filho Pródigo (Lucas 15, versos 11 a 32). 

O retorno do filho pródigo, por Rembrandt

Esta parábola, uma das mais famosas, já foi discutida por vários autores que abordaram temas espirituais em suas obras. Chamo a atenção para o livro A volta do filho pródigo, de Henri Nouwen, publicado no Brasil pela Editora Paulinas.

Em resumo, a história é a seguinte:

Um pai tinha dois filhos. O mais novo pede que seu pai lhe dê sua parte da herança, pois deseja partir. O pai atende o desejo e o filho parte para uma terra distante, onde destrói sua herança em festas e mulheres. 

Mais tarde, na pobreza, ele é forçado a trabalhar para outro homem, cuidando de sua criação de porcos. Passa fome e outras necessidades.

Então, ele decide voltar à casa paterna, arrependido de sua decisão e, ainda mais arrependido por ter rompido relações com o seu pai.

Quando chega na casa do pai, ele é recebido de braços abertos e o patriarca decide comemorar o seu retorno com um banquete.

O filho mais velho, que havia permanecido ao lado do pai e se dedicado ao trabalho, fica furioso com a decisão. E seu pai afirma a citação que uso no blog para que o filho mais velho compreenda suas ações.

"Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi encontrado".

A interpretação mais comum sobre a parábola do filho pródigo vê essa história apresentada por Jesus como uma metáfora da possibilidade do homem - no caso, cada indivíduo, homens e mulheres - de restabelecer o seu relacionamento com Deus.

Na história, ao perceber a chegada de seu filho, o velho patriarca corre em sua direção de braços abertos e o recebe calorosamente. Para mim, não é difícil imaginar o pai recebendo o seu filho com abraços e beijos.

Assim, a figura do filho mais novo é uma representação de toda a humanidade, pecadora e separada de Deus, segundo a doutrina do pecado original cristã, enquanto a figura do pai representa Deus. 

É interessante notar que, em nenhum momento, o pai da história impede seu filho de tomar suas próprias decisões ou de fazer as suas escolhas. Ele aceita a posição de seu filho e aguarda.

Segundo Jesus, Deus é um ser que busca relacionamentos com seus filhos.

Acredito que pensar Deus desta forma, agindo desta maneira conosco, é muito reconfortante. De acordo com Jesus, Deus está sempre disposto a nos receber de volta e reiniciar o relacionamento conosco. 

Outro ponto interessante é que, enquanto planeja voltar à casa paterna, o filho pródigo pensa em pedir perdão ao seu pai e passar a viver em sua propriedade como um servo, um empregado. Ou seja, para ele, o status de filho havia se perdido.

E o pai age da forma totalmente inversa. Quando o rapaz retorna, coberto de farrapos e esfomeado, ele oferece um banquete para comemorar a volta de seu filho mais novo.

"Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi encontrado".

Mas, e quanto ao filho mais velho? O que havia permanecido com a família e trabalhado duro. Para ele, o pai receber o irmão esbanjador de volta com uma celebração era uma afronta.

Afinal, porque seu irmão mereceria mais honra do que ele, que sempre tinha exibido fidelidade ao pai?

Nos momentos de derrota, abandonamos nossa postura de auto-suficiência e reconhecemos a superioridade de Deus. Ele criou o universo, afinal!

A partir daí, passamos a tentar estabelecer um sistema de troca com Deus, pois reconhecemos nossas fraquezas. E passamos a fazer um zilhão de atividades que possam, de alguma forma, mostrar a Deus nossa fidelidade e compromisso.

Nós vamos à igreja regularmente e nos envolevemos em um sem-número de atividades institucionais (coro, escola dominical, diaconia etc). Nós lemos a Bíblia todos os dias. Nós oramos fervorosamente. Nós nos esforçamos para alcançar um elevado padrão de santidade que, na verdade, não pode ser alcançado. 

E julgamos secretamente - ou não tão secretamente assim, infelizmente - e com desdém todos aqueles que não fazem o mesmo. Ou, no mínimo, os vemos como pobres coitados, perdidos na vida sem Deus.

Assim, nos tornamos o irmão mais velho.

E, na parábola, Deus recebe essas pessoas, justamente elas, quem diria, de braços abertos e oferece um banquete quando elas decidem se reaproximar.

E, mesmo sem precisar justificar suas ações, Deus sussurrará em nossos ouvidos: "Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi encontrado". 

A possibilidade de restauração do relacionamento com Deus, assim como o rompimento com Ele, como mostra Jesus, é um ato unilateral, que depende de nós. Deus nos chama, Deus quer a restauração, mas Ele aguarda.

É um ato que depende de nossa vontade.

Paz e Bem!

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