quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

POBRE DEMO

Pobre demo

Por Julio César
Psicólogo e mestrando em Ciências da Religião

O DEM (Democratas), o nem um pouco antigo PFL (Partido da Frente Liberal), nasceu de uma dissidência no PDS (Partido Democrático Social), antiga ARENA (Aliança Renovadora Nacional), partido que deu sustentação ao regime militar, e atual PP (Partido Progressista), de Paulo Maluf, Severino Cavalcanti, José Janene e cia., integrante da base lulista. O motivo foi a vitória de Paulo Maluf na convenção do PDS que elegeu o candidato que enfrentaria Tancredo Neves, do PMDB, na disputa presidencial indireta em 1985. Apoiadores do candidato derrotado Mario Andreazza, ex-ministro do Transporte, nos governos Costa e Silva e Médici, capitaneados por Antonio Carlos Magalhães, José Sarney, Aureliano Chaves, vice de Figueiredo, e Marco Maciel saí ram do partido, formaram a “frente liberal” e se aliaram a candidatura oposicionista.
Sarney ocupou a vice na chapa de Tancredo, e com a morte deste a presidência caiu no seu colo. Por ironia do destino um filhote abastado da ditadura foi o primeiro presidente civil depois de 25 anos do regime, quem encaminhou a transição democrática, com ACM no ministério das Comunicações, Aureliano Chaves no das Minas e Energia, Marco Maciel no da Educação e depois na Casa Civil.
            De Sarney a Fernando Henrique o PFL esteve no centro do poder, e foi o principal aliado. No governo tucano ocupou a vice-presidência com Marco Maciel. Com a vitória de Lula foi forçado a mudar de habito, trocar de papel, ser oposição, o que nestes quase oito anos de lulismo, a semelhança de seu parceiro, o PSDB, não conseguiu fazer bem feito. Ora representa de modo insosso, ora de modo patético.
Além disso, o DEM tem sofrido tem uma desidratação crônica. Em 1998 sua bancada na câmara e no senado era composta de respectivamente de 105 e 20 integrantes. Atualmente é de 55 e 13. Em 1998 elegeu seis governadores, já em 2006 apenas um. E para complicar ainda mais o seu quadro clínico, o único governador , José Roberto Arruda, do Distrito Federal, que até 15 dias atrás era sua principal vitrine e uma forte moeda de barganha política, para faturar a vice de Serra ou Aécio, dado seu governo ter mais de 70% de aprovação, foi pego com “as mãos na lama”, envolvido até “o pescoço” com o mensalão dos demos e associados brasilien ses.
Para mim há pelo menos quatro causas que ajudam a compreender o quadro degenerativo do DEM.
  1. Contradição genética: quem fecundou o partido, teoricamente liberal, defensor de uma economia de mercado com regulação mínima do Estado, pró-privatizações, foram caciques patrimonialistas, coronéis semi-capitalistas, que se enriqueceram com o sucateamento do Estado, usando o espaço público para fazer seus negócios e explorando os pobres por meio da política do “pão e circo”. 
Esta contradição encontra paralelo no regime militar brasileiro, que apesar de ser uma ditadura de direita, criou mais de uma centena de estatais, principalmente no governo Geisel.
  1. Desenraizamento popular: o partido não tem um lastro social, não tem uma faixa do eleitorado com alto grau de fidelização, não consegue vender suas idéias no atacado. O PT tem uma forte inserção no funcionalismo público, no sindicalismo, no movimento estudantil e em setores da intelectualidade e do meio artístico. O PSDB tem em outros setores da intelectualidade e do meio artístico, nas classes médias, tecnocrata e ilustrada, e nos grandes veículos da mídia. O PV tem entre os ambientalistas. Mesmos os partidos nanicos a esquerda do PT, PSOL, PC do B e PSTU, embora raquíticos eleitoralmente, controlam boa parte das faixas em que o PT é hegemônico, além de terem militâncias aguerridas e missionárias.
O empresariado, que em tese poderia ser um setor simpático ao DEM, pela bandeiras da redução dos impostos, é pouco articulado politicamente, tem uma visão sistêmica precária, e tem uma tendência economicista, isto é, vota em quem oferece melhores condições para seus negócios lucrarem, os referenciais políticos e partidários ficam em segundo plano, isto quando são considerados.
O DEM precisaria convencê-los de que os altos lucros que grande parte do setor tem tido no governo Lula seriam ainda maiores se suas idéias fossem implantadas. Precisaria persuadir os banqueiros de que o recorde nos lucros que eles tiveram no lulismo seria quebrado quando os demos voltassem ao governo. Não é a toa que há setores do empresariado que preferem a Dilma, ex-guerrilheira marxista-leninista ao Serra.
  1. Falta de líderes carismáticos: Pode-se alegar, com razão, que o PMDB numericamente o partido mais forte, também não tem uma faixa social fidelizada, e mesmo assim é o maior cotista no mercado político. Todavia, o PMDB tem líderes de grande projeção regional, que gostemos ou não, controlam amplas faixas do eleitorado, como José Sarney, Jader Barbalho, Jarbas Vasconcelos, Roberto Requião, Iris Rezende, Pedro Simon e Sérgio Cabral que agregam capital ao partido. Além do que, seu amplo pluralismo permite que se alie no todo ou em partes a quem estiver no poder.
A liderança mais expressiva do DEM, ACM, que ainda era muito forte na Bahia, faleceu no ano da “refundação” do partido. O ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, na sua terceira administração, minou sua projeção local e implodiu seu eventual potencial para se projetar nacionalmente. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, foi uma surpresa, um ganho inesperado para o partido, levando-se em conta que o partido era inexpressivo na maior cidade e no terceiro maior orçamento do país. Todavia, embora seu governo, a meu ver, seja mediano com oscilações positivas em algumas áreas e negativas em outras, seu perfil tecnocrático aliado ao fato de que ainda é um satélite do Serra, permite a sigla no máximo vislumbrar, com muito custo, vôos estaduais.
É preciso uma refundação de fato, não de direito, se o DEM não quiser morrer de inanição, e ser o que nunca foi, uma alternativa conservadora autêntica, uma direita respeitável.

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