OS SERTÕES - A LUTA
Por Sidney Gusman
Editora: Desiderata - Edição especial
Autores: Carlos Ferreira (roteiro) e Rodrigo Rosa (desenhos), sobre a obra de Euclides da Cunha.
Preço: R$ 49,90
Número de páginas: 80
Data de lançamento: Dezembro de 2010
Sinopse
Nos anos de 1896 e 1897, quando nossa democracia ainda ensaiava os primeiros passos, o sertão da Bahia foi chacoalhado pela Guerra de Canudos. Fanáticos religiosos liderados por Antonio Conselheiro resistiram enquanto puderam às tropas do governo brasileiro.
Em virtude disso, o jornal O Estado de S.Paulo enviou Euclides da Cunha ao local, para presenciar de perto os conflitos. Na sua volta, após ver in loco a desumanidade daquela guerra civil, o repórter escreveria um dos maiores livros da literatura nacional.
A obra integra a coleção Grandes clássicos em graphic novel, pela qual saíram também: O alienista, O pagador de promessas (esses dois ainda pelo selo Agir), Triste fim de Policarpo Quaresma e Memórias póstumas de Brás Cubas.
Positivo/Negativo
O projeto para a realização deste álbum foi divulgado pela primeira vez no Universo HQ em dezembro de 2007. Na época, Carlos Ferreira e Rodrigo Rosa haviam chegado de uma temporada pesquisando locações no sertão nordestino e já divulgavam as primeiras imagens.
No ano seguinte, a dupla criou um blog para contar os bastidores da produção, que seguia em curso.
Finalmente, em dezembro de 2010, Os Sertões - A luta chegou às livrarias brasileiras - e talvez a data tenha sido a razão para ela não figurar em muitas listas de melhores do ano, feitas antes de seu lançamento. Pois basta ler a obra para atestar o esmero dos autores na produção. O trabalho ficou excelente
E no rentável (devido à adoção por programas governamentais de incentivo à leitura) filão de levar grandes clássicos da literatura nacional e estrangeira para os quadrinhos, Os Sertões surge como a "adaptação mais adaptação" já realizada por essas bandas.
Isso porque, em 2007, os autores já anunciavam que, apesar de a obra de Euclides da Cunha ser uma grande reportagem em três partes, esta versão em quadrinhos abordaria somente alguns aspectos das duas primeiras, A terra e O homem, para centrar fogo em A luta, o trecho final, que concentra a maior parte da ação da trama.
E fazendo de Euclides da Cunha o protagonista da história.
Trata-se de uma grande história em quadrinhos, que respeita a obra de Euclides da Cunha, mesmo sem usá-la na íntegra. Parafraseando o colaborador do Universo HQ Lielson Zeni, numa troca de ideias informal, "é preciso enaltecer o fato de Carlos Ferreira usar pouco, porém de forma muito bem alocada, o texto original de Os sertões".
Mas, além do belo trabalho de Ferreira, muito da concisão - sem perda da essência - que esta adaptação conseguiu se deve ao desenhista Rodrigo Rosa. Em quadrinhos, este é o seu grande trabalho até hoje. Há dezenas de cenas em que, com poucas imagens e muitas vezes sem qualquer balão, ele transmite com extrema categoria textos bastante extensos do livro.
Não bastasse sua narrativa pra lá de competente (vale notar como a diagramação de suas páginas dita o ritmo da trama), no traço Rodrigo Rosa brilha ainda mais. Seus personagens são expressivos, têm "alma", parecem mover-se nos quadros. E o artista mostra todo o seu talento tanto no domínio das técnicas de claro e escuro, na maioria do álbum, quanto no uso das cores, no trecho final.
Editorialmente, o trabalho da Desiderata é competente. Pena que o projeto gráfico das capas seja tão prejudicial às belas artes dos desenhistas. Aquela "janela" branca poderia - e deveria - ser repensada. Há outras formas de destacar o título da obra e o nome dos autores.
Mas isso não diminui o mérito de Os Sertões - A luta, a melhor adaptação literária feita para quadrinhos no Brasil, desde que este se tornou um nicho tão relevante do nosso mercado.
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