Meu amigo Marcinho, um dos sobreviventes do curso de Sociobotecologia da ESP, escreveu um belo texto sobre o nosso reencontro - o de parte da turma - no último sábado, em Santa Cecília.
O reencontro contou com o sábio Adão, o primeiro homem, que está na ESP há alguns séculos. Foi um prazer revê-lo, negão!
O texto foi publicado no blog do Márcio, o Fazer por escrito. Segue a postagem integral:
Dez anos de estudantes da ESP
No sábado, 12 de fevereiro, fui de Curitiba a SP de carro só para participar do encontro da turma de Ciências Sociais da Fundação Escola de Sociologia e Política que ingressou no ano de 2000. Algumas pessoas desta turma se encontram ao menos uma vez por ano, desde a formatura em 2004 com certa regularidade para celebrar a amizade. Digo isto porque não nos encontramos para discutir temas sociológicos, ao menos não no sentido acadêmico da palavra.
Foi uma tarde etílica, gastronômica e divertida. Neste encontro, só para ilustrar, o Fernando que apesar de alguns enfartes e duas pontes de safena continua fumando, bebendo e muito bem humorado. Em cada encontro há alguma história memorável. O Fernando contou que a poucos anos atrás foi num show em homenagem ao Jackson do Pandeiro. Depois de algumas cervejas e muita batucada, perguntou a uma das moças da organização quando o homenageado chegaria na festa e emendou: “que coisa chata, deselegante, o cara não vem na própria homenagem!” A moça ficou sem saber o que dizer. Como assim!? Jackson do Pandeiro morreu em 1982!!! E não foi convidado nenhum pai de santo ou médium para trazê-lo do alem. O cara esta bêbedo! Pensou a moça ainda meio tímida. Pior que não estava, quem conhece o Fernando sabe que não!
Outra é a historia do saudoso abacateiro. O abacateiro foi uma árvore que alem de dar frutos demonstrava certa predileção pela fumaça. Ouvi dizer... que o abacateiro era o guardião do isqueiro utilizado pelos fumantes de tabaco de vários tipos, mas de um em especial, que sob sua sombra se reunião para tragar seus prazeres, prosear, tocar violão, jogar capoeira, entre outras atividades. Alguns/mas professores/as não se conformavam com aquela promiscua relação e proibiram o abacateiro de acolher tamanha sem-vergonhice, como diria minha avó. Foi um período que não deu frutos, suas folhas ficaram amareladas e murchas.
Até que estudantes desavisados sentaram-se sob sua sombra num sábado ensolarado, tocaram violão, tragaram seu predileto prazer e devolveram à sua guarda, no galho que estava sempre a disposição de todos/as, o isqueiro. Qual foi a surpresa dos escolásticos doutores da doutrina. As folhas esverdeantes e vistosas comprovaram o que os estudantes já sabiam, a relação era de afeto e cumplicidade e só poderia ser rompida com a ausência física de uma das partes.
Hoje o abacateiro não está mais entre nós, foi vagarosamente, galho por galho, até a raiz, retirado do pátio da FESP, ao lado do casarão, onde abrigou sob sua sombra, duas, três gerações de estudantes, transgressores e subversivos da ordem social e escolástica que buscavam sua companhia e acolhimento de sua vasta sombra para ler, cantar e tragar seus prazeres.
No lugar do abacateiro está sendo erguido o esplendoroso prédio para a nova leva de estudantes, que aparecem a cada ano atraídos por cartazes coloridos e propagandas que apresentam os cursos da FESP. Pena que não terão estes/as alunos/as a acolhida do abacateiro. Um brinde ao abacateiro!
Claro que alem do abacateiro e Jackson do pandeiro, rememoramos o dia em que a Paula matou o Bobbio e insinuamos todos/as que ela tem alguma coisa a ver com a morte de Levis-Strauss, mas sobre isto já escrevi em outro momento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário