domingo, 20 de fevereiro de 2011

POEMA DE ROBERTO PIVA


Eu Roberto Piva Animal de Rapina

                 — Je parte dans le vide e dans le noir
Jean Genet

            Eu vivo num rio de imagens, sou o cordeiro do Raio Laser da Poesia.
         Minha vida de duro, drogado, homossexual perseguido por todas as religiões
  políticas & maior parte da inteligentzia brasileira, minhas paixões desordenadas
  fazem de mim um íntimo da Poesia.
         Se a poesia é o pão dos desterrados do mundo burguês-proletário, ela é meu
  alimento cotidiano.
         Vivemos numa Idade-Nédia sem fogueiras.
         Medievo da escrotidão, não da escuridão.
         Onde os corpos dos garotos são a última faísca de religiosidade pagã. Deuses
  do Subúrbio. Garotos da Febem cujo crime foi lesar uma sociedade criminosa.
         Já Walter Benjamin sacava que "em Kafka, a beleza aflora apenas nos
  lugares mais secretos: por exemplo, nos acusados."
         Só lido com a beleza alucinada dos marginais.
         Trombadinhas com dedos de neon & veludo.
         Coxas nas tardes de vinho & rosas. Bocas enlouquecidas.
         Garotos com olhos de Romy Schneider boiando ao nível do gin.
         Preso muitas vezes apenas por estar vivo, conheci nas galeras da triagem o
   mistério rebelde destes anos da periferia.
         Se os bandidos, diz Jean Genet, os cruéis, representam a força contra a qual
   vocês lutam, nós queremos ser esta força do mal. Nós seremos esta matéria que
   resiste e sem a qual não existiriam artistas.
         A poesia, como em Lou Reed, é o alimento lisérgico dos garotos criminosos.
         Poesia=Rajadas Futuristas rumo à Anarquia Geral,
                      Tarântula de coxas de marfim,
                      Coração à deriva nas avenidas,
                      Dança do índio branco nos telhados das cidades,
          Centauros trotando rumo às alamedas solitárias com árvores apinhadas de
   pássaros nucleares.
          Força do mal, beleza pura, palhaçada, historiografia inconsciente, visão,
   lance de dados, alquimia do verbo, a poesia é a união de todos os contrários & ao
   mesmo tempo uma sabedoria impossível.
          Nunca deixei de estudar Dante, por isso o deus Eros fez meu esperma
   ventríloquo.
          Canto a canção do Abismo lendo Chácaras & Quintais.
          Amo os expressionistas alemães principalmente Trakl & Gottfried Benn.
          Sem eles, o mundo perderia a mosca negra do Alvo.
          Reverdy & o jazz me fizeram conhecer cintilações jamais sonhadas.
    Conhecimento direto da divindade sem fronteiras.
          Assim como Jobim, Alf, Cartola & Dolores Duran me fizeram rodopiar em
    certos dias escuros da Primavera.
          Meu universo poético é bem amplo. Nele cabem: Pessoa, Pound, Crevel,
    D´Annunzio, Bopp, Rimbaud, Artaud, Baudelaire, Césaire, Vaché, Jarry, Shelley,
    Yeats, Propertius, Catulo, Corbière, Virgílio, Cravan, Arquíloco, Sá Carneiro, Cros,
    Verlaine, Soffici, Novalis, etc, etc, etc...
         Samba canção + Stones + René Char.
         Quero o cometa da Anarquia passando rápido em direção às pradarias
    sexuais,
         Quero a poesia dos hamburguers, da câmera lenta, do desenho animado.
         Quero aflorar nossa África interior com seu tam-tam & chuvas de estrelas,
         Quero a vertigem & perfeição planetária dos apaixonados,
         Quero Novalis com seu rosto de menina bailando na Flor Azul.
         Quero que vocês gozem exemplarmente.

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