Um dos temas favoritos do cinema é o fim do mundo, o fim da civilização. O assunto já rendeu filmes medíocres, bons filmes e alguns poucos, ótimos.
As visões sobre o fim de todas as coisas variam de escritor para escritor, e cada diretor oferece uma visão diferente sobre como as coisas um dia vão terminar.
Em alguns filmes, apesar da catástrofe, ainda há lugar para a esperança. Em outros, o fim do filme é apenas uma pausa antes que o mundo morra.
Há poucos dias, assisti dois filmes sobre como poderiam ser as coisas depois que a civilização acabasse. Um deles, O Livro de Eli, foi tema de alguns delírios que postei aqui e não pretendo fazer muitos comentários a respeito.
O outro filme chama-se A Estrada (The Road), produção norte-americana de 2009, lançada há poucos dias em DVD, e ainda em cartaz em São Paulo, no Cine Segall, aqui na Vila Mariana.
A Estrada foi dirigido pelo cineasta John Hilcoat, com base no romance de Cormac McCarthy, eleito o melhor livro de 2009 pelo jornal The New York Times. No Brasil, o livro, que ainda não li, foi publicado pela Editora Alfaguara, em 2007.
O filme mostra a trajetória de um pai (o ator Viggo Mortensen, de O Senhor dos Anéis) e seu filho, através do que um dia foi os Estados Unidos da América, após algum tipo de desastre natural de grandes proporções, que causou o colapso de nossa civilização e matou todos os animais do planeta.
A viagem dos dois pela terra desolada - sempre fria e cinzenta - tem como objetivo chegar ao litoral, no sul, onde, talvez, ambos possam escapar do frio.
Assim, pai e filho, munidos de pouco mais do que um carrinho de compras com algumas coisas e uma revólver com apenas duas balas, atravessam o país, tentando sobreviver. Em seu caminho, eles encontrarão outros andarilhos, que também buscam encontrar comida em algum lugar, e pessoas que aderiram ao canibalismo para tentar sobreviver.
Um dos detalhes que chama a atenção no filme é a fotografia, sempre cinzenta e escura. "Cada dia é mais frio e cinza do que o anterior, enquanto o mundo lentamente vai morrendo. Nenhum animal sobreviveu e todas as plantações se foram há muito tempo", afirma o pai, que também é o narrador do filme.
Em A Estrada, não há espaço para nenhum tipo de esperança. Tudo está caindo aos pedaços; todas as pessoas que se encontram são inimigos em potencial, e todos os dias são iguais. Pai e filho viajam, com a lembrança da esposa e mãe (interpretada por Charlize Theron), que se matou logo depois do início do fim, tomada pelo desespero.
Um dos melhores diálogos do filme acontece quando os dois encontram outro andarilho, um homem idoso chamado Ely (o ator Robert Duvall, irreconhecível). À noite, após partilharem uma refeição, o pai coloca o filho para dormir e os dois conversam sobre o que aconteceu ao mundo.
"Se existe um Deus, Ele, com certeza, já virou as costas para nós", diz o velho. E continua: "E se Ele voltar para cá, em busca da humanidade que Ele criou, não vai encontrar mais nenhuma humanidade por aqui", conclui.
A Estrada é um filme sobre um mundo sem Deus, onde nada faz sentido - afinal, a vida deve ser mais do que simplesmente sobreviver um dia após o outro - e todas as coisas estão lentamente morrendo.
Recomendo, apesar de que é necessário ter estômago para ver o filme.
Paz e Bem!
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