quinta-feira, 29 de julho de 2010

OUTRAS IMPRESSÕES DE OUTRAS PESSOAS

Abaixo, transcrevo um comentário feito por Marco Santos, a quem não conheço, sobre A Estrada, que localizei na internet, em busca de fotos do filme. 

O texto faz parte do blog de Santos, chamado Bitaites - Para pequenos e médios intelectuais, e merece a transcrição, por tratar do tema que tentei abordar na última postagem, com muito mais eficiência do que qualquer dia eu seria capaz. 

O endereço do Bitaites é http://bitaites.org/

Paz e Bem!

Fantasmas de pó e cinzas

Há livros que nos conquistam definitivamente num único momento de leitura – esta parte de A Estrada, de Cormac McCarthy, aqui transcrita, é o momento em que as palavras de outra pessoa passam a ser também minhas, pois comovem-me de tal forma que parecem descrever episódios que eu vivi.
Foi a partir de um livro dele – No Country For Old Man – que os irmãos Cohen fizeram um dos grandes filmes dos últimos anos – desde aí estava mortinho por ler um livro deste autor. Calhou este.
E assim me deixo prender emocionalmente ao destino destes dois personagens sem nome – um pai e um filho, é o que basta para os conhecermos – arrastando-se num desespero esfomeado pelas estradas abandonadas de um mundo moribundo, cinzento, frio, um planeta América pós-apocalíptico onde o Sol não se mostra, as noites cegam, as árvores tombam como soldados esgotados numa parada, quase todos os animais desapareceram e os humanos procuram sobreviver recorrendo, em alguns casos, à escravidão e ao canibalismo.
Em nenhum momento do livro Cormac nos conta que tipo de evento ocorreu no planeta, como e porquê ocorreu.
Algumas descrições do cenário fizeram-me pensar nos efeitos de um Inverno Nuclear, uma expressão cunhada por Carl Sagan e Richard Turco, ou no que poderia acontecer à Humanidade se um grande calhau de pedra e gelo atingisse a Terra.
Suspeito – o mais provável é estar enganado – que certas imagens do 11 de Setembro, com pessoas caminhando como fantasmas de pó e cinzas por ruas devastadas de Nova Iorque, tenham tido influência na forma como Carmac descreve o Apocalipse em que se movem as duas personagens principais.
O que conta verdadeiramente neste romance é a relação entre pai e filho, agarrados à vida por estarem preocupados com a sobrevivência um do outro – é uma história de amor e crescimento e esperança e loucura, pungente, maravilhosamente bem escrita, tão bem escrita que nem precisa de travessões para os diálogos, comovente ao ponto de me provocar vários nós na garganta difíceis de desapertar, garanto-vos.
Tudo em redor dos dois definha irremediavelmente: a Natureza, a decência humana, as palavras que dão nomes a coisas que já não existem. Por fim, lê-se a determinada altura no livro, até a morte definhará, por falta de ocupação.
O mundo acabará, indiferente ao amor e a tudo o que mais prezamos na vida e em nós próprios, e a estrada que aqueles dois percorrem será também a nossa. Por fim, rompendo as trevas da consciência humana, vislumbramos no olhar do miúdo um raio de Sol – ele é o único que ainda procura distinguir o Bem e o Mal com a determinação com que procura matar a fome – e sem medo, mesmo que implique confrontar o próprio pai, que transgride para o proteger. Transgride por amor. Que belo livro.

A ESTRADA: OUTRAS IMPRESSÕES

Tenho essa mania de assistir a um mesmo filme várias vezes. De vez em quando, eu compro alguns filmes; outros, eu simplesmente consigo uma cópia. Ao longo dos anos, esse hábito me ajudou a forma uma razoável filmoteca, ou seja, uma coleção de filmes, que vão do Homem-Aranha à Gaviões e Passarinhos.

Ontem, mais uma vez, assiti ao filme A Estrada (The Road), que já foi tema de uma postagem anterior. Muito bem; nesse caso, porque se justifica um segundo texto a respeito?


Basicamente, porque, ontem, eu assisti ao filme acompanhado. E a companhia me ajudou a perceber algumas coisas que eu não tinha notado da primeira vez.

Uma segunda olhada em A Estrada, e o debate subsequente a respeito, enquanto eu e minha companheira íamos até a pizzaria, me mostraram que o filme - que trata basicamente da luta de um pai e seu filho para tentarem sobreviver em um futuro apocalíptico, no qual a civilização entrou em colapso depois de alguma espécie de evento natural - não é assim tão cinza. 

É claro que o filme tem momentos tristes. Afinal, os dois estão atravessando um mundo devastado, onde não há comida suficiente e o frio impera. 

Apesar disso, no fundo, no fundo, A Estrada mostra uma relação entre pai e filho daquelas que vemos apenas nos filmes antigos.  Aqui, a única razão para o pai continuar a viver em um mundo onde tudo perdeu o sentido é a de proteger o seu filho a todo custo. 


É fácil de notar que, em todos os momentos em que o pai encontra algum tipo de alimento pelo caminho - ou mesmo uma simples lata de Coca-Cola - sua primeira atitude é a de oferecer ao menino.

Atualmente, não estamos mais acostumados a ver esse tipo de relação entre pai e filho. Estamos mais habituados a ver famílias disfuncionais em filmes e na telvisão, porque esse tipo de família - onde as pessoas não se falam, ou, quando falam, apenas discutem - espelham melhor as relações familiares que vemos por aí. 

A arte imita a vida, certo? Certo, eu concordo. E acho muito bom que ela faça isso. Do contrário, veríamos apenas contos de fada. Ou filmes de horror abomináveis.
Por outro lado, é bom ser lembrado de como as coisas poderiam ser. E, quanto à relação familiar, A Estrada mostra um pouco de nostalgia, ou seja, saudade de algo que não se tem mais.

Paz e Bem!

terça-feira, 27 de julho de 2010

DO UOL NOTÍCIAS: TORTURA NO BRASIL

Autoridades ainda resistem a condenar tortura no Brasil, diz relatório

Daniella Jinkings
Da Agência Brasil

O Relatório sobre Tortura: uma Experiência de Monitoramento dos Locais de Detenção para Prevenção da Tortura, elaborado pela Pastoral Carcerária, mostra que juízes e promotores ainda resistem a combater esse tipo de prática no Brasil. De acordo com o documento, as denúncias dos presos raramente são levadas a sério. A Agência Brasil teve acesso à integra do relatório, que será divulgado na próxima segunda-feira (2).
“Fica patente que as autoridades competentes para investigar, processar e condenar os torturadores – juízes, delegados de polícia e promotores de Justiça – geralmente têm pouca ou quase nenhuma motivação para fazer cumprir a lei e as obrigações assumidas pelo Estado brasileiro de debelar e prevenir a tortura”, diz o documento.

De acordo com o assessor jurídico da Pastoral Carcerária, José de Jesus Filho, a entidade denunciou 211 casos de tortura entre 1997 e 2009. Porém, a maioria dos torturadores não sofreu punições. “Os juízes e promotores acham que estão enfraquecendo a autoridade pública. O que o criminoso diz é sempre mentira. Em vez de julgar com isenção, eles preferem julgar a favor do agente público”, disse.
Para José de Jesus Filho, o sistema prisional passa por um momento crítico. “Há uma tensão entre agentes públicos que ainda carregam a tradição ditatorial e praticam a tortura e aqueles que querem mudar isso e se colocam contra esse tratamento cruel”, afirmou o assessor jurídico, que coordenou a elaboração do relatório.
O documento contém um trecho da pesquisa da coordenadora-geral da Ação dos Cristãos para Abolição da Tortura (Acat-Brasil), Maria Gorete de Jesus. A entidade analisou 51 processos criminais de tortura na cidade de São Paulo, no período de 2000 a 2004. Dos 203 réus, 127 foram absolvidos, 33 foram condenados por tortura e 21 por outros crimes (lesão corporal ou maus-tratos).
“O que significa dizer que apenas 18% foram condenados e 70% foram absolvidos. Dos 203 réus, 181 eram agentes do Estado acusados de crime de tortura. Entre os 12 civis acusados, a metade foi condenada”, afirma o relatório.
Segundo o documento, nos casos de tortura envolvendo agentes do Estado, a produção de provas é frágil e o corporativismo policial interfere diretamente na apuração das denúncias. Além disso, o governo raramente coloca em prática os mecanismos internacionais contra tortura ratificados pelo Brasil.
“Nas sentenças é comum encontrar questionamentos quanto às lesões constatadas na vítima, colocando em dúvida não somente a palavra da pessoa agredida, mas também a autoria do crime. Chega-se ao ponto de dizer que a própria vítima teria sido responsável pelos ferimentos”, diz o texto.
A Pastoral Carcerária registrou casos de tortura em 20 Estados brasileiros, sendo o maior número de casos em São Paulo (71), no Maranhão (30), em Goiás (25) e no Rio Grande do Norte (12). De acordo com o coordenador nacional da Pastoral Carcerária, padre Valdir João Silveira, em alguns estados, as equipes ainda não estão treinadas para fazer o levantamento de dados e o acompanhamento dos casos.
“[Os dados] foram levantados por agentes da Pastoral Carcerária, pessoas que semanalmente vão aos presídios para evangelizar e catequizar, mas, perante a violência nos presídios, buscam também o direito das pessoas que estão aprisionadas, que o Estado está tratando com tortura e maus-tratos.”

Pastoral Carcerária quer pressionar governo a implementar convenção da ONU contra tortura

Daniella Jinkings
Da Agência Brasil

A Pastoral Carcerária quer pressionar o governo a implementar o mecanismo nacional de combate à tortura previsto na Convenção da Organização das Nações Unidas para Prevenção da Tortura, afirmou o coordenador da entidade ligada à Igreja Católica, padre Valdir João Silveira. A entidade elaborou o Relatório sobre Tortura: uma Experiência de Monitoramento dos Locais de Detenção para Prevenção da Tortura, que será lançado na próxima segunda-feira (2).
O documento mostra que juízes e promotores ainda resistem a combater esse tipo de prática no Brasil. “[O relatório] É um argumento muito forte para ajudar na implementação desse protocolo. Faltam mais ações, precisamos pressionar um pouco para que isso [a tortura] não venha a acontecer nos Estados brasileiros”, disse o coordenador.
Um dos objetivos da convenção da ONU, ratificada pelo Brasil em 2007, é o monitoramento dos locais de privação de liberdade, sejam públicos ou privados. O mecanismo preventivo nacional deveria ser criado ainda em 2007. Mas, depois de três anos, o anteprojeto ainda não foi encaminhado ao Congresso Nacional.
Entre 1997 e 2009, a Pastoral Carcerária denunciou 211 casos de tortura. “É impossível descobrir o número exato de torturas, porque essa prática ocorre onde só há o torturador e o torturado. Por isso, a presença constante de um organismo externo é fundamental”, disse o assessor jurídico da entidade, José de Jesus Filho.
As denúncias de tortura são feitas por presos, parentes e até mesmo pelos próprios agentes penitenciários. “Muitas vezes, os agentes têm medo, porque, quando denunciam, são vítimas de retaliações”, afirmou José de Jesus Filho.
A Pastoral Carcerária atua em todos os Estados brasileiros. Equipes fazem visitas periódicas às penitenciárias para evangelizar detentos. As denúncias de tortura apuradas pela entidade são repassadas para um advogado, que, após fazer entrevistas detalhadas com as vítimas, leva o caso ao Ministério Público.
Segundo o relatório da pastoral, que apresenta dados coletados em 20 Estados, há tortura no interior de delegacias ou carceragens, praticada por integrantes da Polícia Civil. Geralmente, os casos que envolvem policiais militares ocorrem na rua, em residências ou estabelecimentos privados, para obter informação e castigar. “Os crimes em estabelecimentos penitenciários são menos acessíveis, geralmente ocorrem depois de conflitos com agentes penitenciários”, diz o texto.
Para José de Jesus Filho, a prática de tortura no país pode ser extinta por meio de ações coordenadas entre a sociedade e o governo, como o combate à corrupção policial e a punição de torturadores. “Outra medida é a presença de juízes e promotores em unidades carcerárias e delegacias. Além disso, temos de possibilitar uma formação humanística dos agentes penitenciários.”
O relatório será apresentado na Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo, na próxima segunda-feira, às 15h. Durante o evento, haverá debates sobre o sistema prisional e a tortura no Brasil.

sábado, 24 de julho de 2010

QUANDO EU QUERIA SER UM SUPER-HERÓI

Quero ter compromisso com algo.

Quando eu era mais jovem, como todo romântico incurável, eu percebia as coisas erradas no mundo - pobreza, crimes e violência - e sonhava poder mudar tudo isso.

Sim, crescido em meio a histórias em quadrinhos e filmes, eu sonhava em ser um herói.

Aos 18, 19 anos, talvez, abraçei o ideal socialista. Militei em partidos políticos, escrevi e falei. Dei porrada e tomei porrada.

Hoje, vejo poucas chances de se mudar o mundo por meio da política. Sou quase anarquista; ou algo parecido, talvez.

Aos poucos, e cada vez mais, perco as esperanças de poder mudar o mundo algum dia. Fico paralisado diante das enormes dificuldades que enfrento em mudar a mim mesmo.

E, segundo Gandhi, um dos meus heróis pessoais, para se mudar o mundo, deve-se começar a mudança por si mesmo.

Sei o quanto isso é difícil. Sei o quanto velhos hábitos, costumes e formas de pensar lutam com unhas e dentes para tentar sobreviver.

Quase todos os dias, eu caio. Quase todos os dias, eu me levanto. Ás vezes, mas nem sempre, pouco arranhado. Nas outras, me ergo mancando.

Sei que nunca vou ser super-herói. Mas me contentaria muito em ser simplesmente um homem. 
Só isso, esse imenso pequeno passo, já me deicaria feliz e satisfeito.

Supimpinha. Serelepe.

Paz e Bem!

CANSADO DE SILÊNCIOS

Ando escrevendo pouco aqui neste blog, eu sei. Julho foi um mês de inverno pouco frio, trabalho estressante e  pouca inspiração.

Acredito que as coisas devem mudar em breve; talvez, ficar mais interessantes.

Ando cansado de silêncios e palavras não-ditas.

Paz e Bem!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

QUE O MAIOR NÚMERO POSSÍVEL DE PESSOAS SAIBA 

Carlos Bregantim

Saibam do que?

...Do Evangelho que é a boa noticia de Deus aos homens e mulheres deste tempo.

...De Jesus de Nazaré que é o próprio Evangelho. A Palavra encarnada.

...Que Deus em Cristo se reconciliou com toda humanidade e esta é a boa noticia do Eterno aos homens.

...Que há um movimento na terra hoje chamado Caminho da Graça que se identifica com outros movimentos que apenas anunciam Jesus com simplicidade.

...Que é possível ser simples e comprometido com a essência do Evangelho, pois, simples é o Evangelho.

...Que homens e mulheres sem nenhuma acepção podem se reunir, se encontrar e festejarem a fé uns com os outros e assim servirem a Deus e aos homens.

...Que estes encontros podem ser simples, leves, informais, bem humorados, ao mesmo tempo, responsáveis e comprometidos com os valores do Reino.

...Que nestes encontros e em todos encontros como Caminho da Graça, todos os dons são exercitados e distribuídos segundo o que o Espírito Santo lhe aprouver.

...Que oramos e nos repartimos uns com os outros de modo que se materialize os resultados do exercício da fé, isto é, curas, livramentos, solidariedade, compaixão, salvação, suprimentos de necessidades, e tudo o que tem a ver com um encontro entre seguidores de Jesus.

Que o maior numero possível de pessoas saibam

Que chegou a hora de ser livre e fazer valer esta liberdade conquistada por Cristo na Cruz em nosso favor.

Que não estamos, e ninguém precisa estar, debaixo de qualquer outra autoridade que não seja a autoridade de Cristo sobre nossas vidas.

Para que seja assim, podemos usar todos os recursos disponíveis. Todos mesmo.

Podemos contribuir para que, o que já está sendo feito, chegue ao MAIOR NUMERO POSSÍVEL DE PESSOAS.

Podemos fazer isto juntos e isolados, mas, podemos fazer e penso que devemos fazer.

Não que estejamos deflagrando algum tipo de plano expansionista, não, mas, estou convicto e isto faço, QUERO QUE O MAIOR NUMERO POSSÍVEL DE PESSOAS SAIBAM que há um Caminho que se identifica com O CAMINHO que tem um Nome Jesus o Cristo.

No que depender de mim, tudo farei para que MUITOS SAIBAM que o Evangelho é a ação de graça da parte do Eterno para com toda a humanidade e, TODOS PODEM BEBER DESTA FONTE INESGOTÁVEL.

Com gratidão por ter sido convidado para esta hora e por estar ao lado de tantos que conheci dos quais eu não abro mão.
Beijos reverentes.

Carlos Bregantim

ATUALIZAÇÃO: FILMES RAROS

Acabo de adicionar à lista de links Eles fazem a minha cabeça, o website Filmes Raros, que oferece uma série de filmes fora de catálogo para colecionadores e professores.

O endereço é: http://filmesraros.com/loja/

Mesmo que você, leitor, ou leitora, acanhado ou desaforado, mesmo, não compre nenhum filme, vale a pena como fonte de pesquisa. 

Recomendo uma olhada.

Paz e Bem!

sábado, 17 de julho de 2010

A ESTRADA

Um dos temas favoritos do cinema é o fim do mundo, o fim da civilização. O assunto já rendeu filmes medíocres, bons filmes e alguns poucos, ótimos.

As visões sobre o fim de todas as coisas variam de escritor para escritor, e cada diretor oferece uma visão diferente sobre como as coisas um dia vão terminar.

Em alguns filmes, apesar da catástrofe, ainda há lugar para a esperança. Em outros, o fim do filme é apenas uma pausa antes que o mundo morra. 
Há poucos dias, assisti dois filmes sobre como poderiam ser as coisas depois que a civilização acabasse. Um deles, O Livro de Eli, foi tema de alguns delírios que postei aqui e não pretendo fazer muitos comentários a respeito. 

O outro filme chama-se A Estrada (The Road), produção norte-americana de 2009, lançada há poucos dias em DVD, e ainda em cartaz em São Paulo, no Cine Segall, aqui na Vila Mariana. 


A Estrada foi dirigido pelo cineasta John Hilcoat, com base no romance de Cormac McCarthy, eleito o melhor livro de 2009 pelo jornal The New York Times. No Brasil, o livro, que ainda não li, foi publicado pela Editora Alfaguara, em 2007.

O filme mostra a trajetória de um pai (o ator Viggo Mortensen, de O Senhor dos Anéis) e seu filho, através do que um dia foi os Estados Unidos da América, após algum tipo de desastre natural de grandes proporções, que causou o colapso de nossa civilização e matou todos os animais do planeta. 

A viagem dos dois pela terra desolada - sempre fria e cinzenta - tem como objetivo chegar ao litoral, no sul, onde, talvez, ambos possam escapar do frio. 


Assim, pai e filho, munidos de pouco mais do que um carrinho de compras com algumas coisas e uma revólver com apenas duas balas, atravessam o país, tentando sobreviver. Em seu caminho, eles encontrarão outros andarilhos, que também buscam encontrar comida em algum lugar, e pessoas que aderiram ao canibalismo para tentar sobreviver. 


Um dos detalhes que chama a atenção no filme é a fotografia, sempre cinzenta e escura. "Cada dia é mais frio e cinza do que o anterior, enquanto o mundo lentamente vai morrendo. Nenhum animal sobreviveu e todas as plantações se foram há muito tempo", afirma o pai, que também é o narrador do filme.

Em A Estrada, não há espaço para nenhum tipo de esperança. Tudo está caindo aos pedaços; todas as pessoas que se encontram são inimigos em potencial, e todos os dias são iguais. Pai e filho viajam, com a lembrança da esposa e mãe (interpretada por Charlize Theron), que se matou logo depois do início do fim, tomada pelo desespero.
Um dos melhores diálogos do filme acontece quando os dois encontram outro andarilho, um homem idoso chamado Ely (o ator Robert Duvall, irreconhecível). À noite, após partilharem uma refeição, o pai coloca o filho para dormir e os dois conversam sobre o que aconteceu ao mundo. 

"Se existe um Deus, Ele, com certeza, já virou as costas para nós", diz o velho. E continua: "E se Ele voltar para cá, em busca da humanidade que Ele criou, não vai encontrar mais nenhuma humanidade por aqui", conclui.


A Estrada é um filme sobre um mundo sem Deus, onde nada faz sentido  - afinal, a vida deve ser mais do que simplesmente sobreviver um dia após o outro - e todas as coisas estão lentamente morrendo.

Recomendo, apesar de que é necessário ter estômago para ver o filme.

Paz e Bem!

INTERMISSION

Na tentativa de ser menos rabugento e amargo, eu me calo, fecho meus olhos e agradeço.

Agradeço pelos novos e velhos amigos. Por aqueles que encontro na rua, mesmo que por acaso, ou por coincidência.

Agradeço por novos amores e promessas de novos amores, mesmo que não se concretizem.

Agradeço pelo Bóris, cachorrinho companheiro fiel.

Agradeço por não ter me arrebentado ainda mais no meu acidente de carro.

Paz e Bem!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

DO UNIVERSO HQ: MORRE HARVEY PEKAR

A América perdeu seu esplendor: morreu Harvey Pekar

Por Sérgio Codespoti   Siga Sérgio 
Codespoti no Twitter   | 13-07-2010
Harvey Pekar
A América, mais precisamente os Estados Unidos, perdeu seu esplendor. O escritor Harvey Pekar, autor de American Splendor, faleceu em 12 de julho, aos 70 anos de idade. Pekar foi encontrado morto por sua esposa, Joyce Brabner, em sua casa, em Cleveland Heights, em Cleveland, nos Estados Unidos. Uma necropsia será feita para determinar a causa de sua morte.
Brabner é a terceira esposa de Pekar. Os dois se conheceram em 1983, graças à revista American Splendor, e o casamento foi descrito em American Splendor #10, na história Harvey's Lactes Crapshoot: His Third Marriage to a Sweetie from Delaware and How His Substandard Dishwashing Strains Their Relationship.
Cronista das atividades mundanas, Pekar se interessava pela vida cotidiana, pelo humor do inesperado e pela música. Curiosamente, sua grande paixão não eram os quadrinhos, mas o jazz, assunto sobre o qual escrevia com muita propriedade desde a década de 1950.
American Splendor
Pekar nasceu em 8 de outubro de 1939, em Cleveland. Sua obra mais famosa, a série autobiográfica American Splendor, resultou de sua amizade com o desenhista Robert Crumb. Os dois se conheceram em 1962 graças ao interesse de ambos pelo jazz.
Crumb foi o primeiro artista a ilustrar a revista American Splendor, que começou a ser publicada em 1976. Crumb também desenhou a HQ Crazy Ed, uma das primeiras histórias de Pekar, publicada em The People's Comics, em 1972.
American Splendor teve 39 edições publicadas entre 1976 e 2008. Dentre os artistas que participaram da revista estão Crumb, Gary Dumm, Greg Budgett, Spain Rodriguez, Joe Zabel, Gerry Shamray, Frank Stack, Mark Zingarelli, Joe Sacco, Dean Haspiel, Josh Neufeld, Jim Woodring, Chester Brown, Alison Bechdel, Gilbert Hernandez, Eddie Campbell, David Collier, Drew Friedman, Ho Che Anderson, Rick Geary, Ed Piskor, Hunt Emerson, Bob Fingerman, Brian Bram, Chester Brown, Alex Wald, Val Mayerik, Ty Templeton e Richard Corben. A esposa de Pekar, Joyce Brabner, e Alan Moore também colaboraram como ilustradores.
Entre 1976 e 1991, American Splendor foi publicada independentemente por Pekar. Em 1991, uma edição foi lançada numa parceria entre Pekar e a Tundra. De 1994 a 2002, a série foi publicada em parceria com a Dark Horse Comics.
Em 2006 e 2008, a DC Comics publicou duas minisséries de American Splendor pelo selo Vertigo.
Pekar visitou sua juventude no livro The Quitter, publicado pela DC Comics em 2005, e ilustrado por Dean Haspiel.
American Splendor
Dois livros diretamente ligados à revista são Our Movie Year, de 2004, com HQs escritas ou publicadas por volta do ano em que a adaptação para o cinema de American Splendor foi lançada; e Ego & Hubris: The Michael Malice Story, de 2006, que é uma biografia de Michael Malice, fundador e editor de OverheardinNewYork.com.
Além de American Splendor, Pekar publicou outros trabalhos, a maioria deles biográficos ou autobiográficos, como Our Cancer Year, publicado em 1994 pela editora Four Walls Eight Windows e coescrito por Brabner e ilustrado por Frank Stack, que narra o período em que Pekar foi diagnosticado com câncer linfático; American Splendor: Unsung Hero, de 2003, é a biografia de Robert McNeill, um veterano do Vietnã que trabalhou com Pekar no Veteran's Administration Hospital, em Cleveland.
Outros livros de Pekar incluem Macedonia, uma colaboração com Ed Piskor; Students for a Democratic Society: A Graphic History; The Beats, ilustrado por Piskor, sobre Kerouac, Ginsberg e outros escritores do movimento beatnik; e Studs Terkel's Working: A Graphic Adaptation.
Bob & Harv - Dois Anti-heróis Americanos
Pekar começou a se destacar fora do círculo das histórias em quadrinhos na década de 1980. Em 1987 ganhou o American Book Award pela primeira antologia de American Splendor. Também foi nesta época que ele se tornou um convidado esporádico do programa Late Night, de David Letterman, sempre com opiniões fortes e controversas. Pekar também ganhou o prêmio Peabody (relativo a radio e televisão) por seus comentários na rádio FM WKSU 89.7.
American Splendor foi adaptado para o cinema em 2003, por Shari Springer Berman e Robert Pulcini, com Paul Giamatti e Hope Davis nos papéis principais. Pekar faz diversas aparições no filme, que foi vencedor do Sundance Film Festival, no mesmo ano de seu lançamento. No Brasil, a película foi exibida com o título Anti-Herói Americano.
Bob & Harv - Dois Anti-heróis Americanos, da Conrad Editora, é um dos poucos trabalhos de Pekar (este em parceria com Robert Crumb) que estão disponíveis em português.
A Saraiva já havia anunciado para este ano a publicação de The Beat (com arte de Trina Robbins, Ed Piskor e Peter Kuper), no Brasil. Deve sair em breve.
The Beat

terça-feira, 13 de julho de 2010

CUBA LIBERTA DISSIDENTES POLÍTICOS

O governo de Cuba libertou ontem um grupo de sete dissidentes, que foram encaminhados à Espanha. Ao todo, serão libertadas 20 pessoas.


A ação do governo cubano faz parte de um acordo internacional para a libertação de um total de 52 pessoas  nos próximos quatro meses.  As negociações envolveram os governos de Cuba e da Espanha e a Igreja Católica.

Todos os dissidentes libertados - e também suas famílias - receberão a pena de exílio de Cuba. Países como Espanha, Chile e Estados Unidos já se ofereceram para recebê-los. 

Essas pessoas estavam presas desde 2003 e foram sentenciadas a penas que variam entre seis e 28 anos de prisão. 

Segundo a ONG cubana Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, havia 167 prisioneiros de consciência - outro nome para dissidentes políticos - em Cuba antes da libertação deste grupo. O número é corroborado pela Anistia Internacional, ONG multinacional que documenta casos de violações de direitos humanos.

O governo de Cuba afirma não haverem presos políticos no país. Todos os prisioneiros foram julgados por crimes comuns e são acusados de serem financiados pelos Estados Unidos para desestabilizar o país.

 Para quem conhece História, essa é uma tática normal das ditaduras. Na década de 1970, os nossos militantes de esquerda que combatiam a ditadura militar eram encarcerados sob a acusação de "terrorismo" e "assalto à banco", por exemplo.

Outra tática comum das ditaduras em relação aos seus opositores, além de os tratar como criminosos comuns, é o silêncio.


A página na internet do jornal Granma, órgão oficial do Partido Comunista de Cuba, não publicou nenhuma notícia sobre a libertação do grupo de prisioneiros.

Segundo agências internacionais, esta é a primeira vez em que dissidentes políticos são libertos em Cuba desde 1998. Na última vez, o ex-presidente Fidel Castro libertou 101 pessoas antes da visita do Papa João Paulo II à ilha. 

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O texto acima não contém nenhum tipo de análise, mas apenas a descrição de fatos, com base em informações de agências internacionais. 

Tentei levantar informações por meio de acesso ao órgão oficial do PC Cubano, o jornal Granma, mas, como era de se esperar, não havia nada a respeito.

Entretanto, havia algo. 

No Granma, foi noticiada a visita de representantes do governo espanhol à Cuba. O interesse do governo cubano é que a Espanha colabore no esforço de aumentar o comércio entre a ilha e a União Européia.

Provavelmente, aqui está a contrapartida do governo de Cuba para a libertação dos dissidentes políticos.

Paz e Bem!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O BEM DO BOM SOFRIMENTO


Sejam vocês todos de um mesmo sentimento, compassivos, cheios de amor fraternal, misericordiosos e humildes;
não retribuindo mal por mal, ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo; porque para viver assim é que cada um de nós foi chamado; ou seja, para sermos galardoados com bênçãos, e para termos bênçãos por herança.


Quem assim vive e busca viver, ama a vida, não a morte. Pois, quem quer amar a vida, e ver e viver dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano; aparte-se do mal que seu próprio espírito discerne; e faça o bem, que é a inclinação do amor; assim, então, busque a paz, e siga-a...

Porque os olhos do Senhor estão sobre os que andam conforme a justificação na justiça da fé, e os seus ouvidos estão sempre atentos às suas súplicas; mas o rosto do Senhor é contra os que fazem o mal por mal, que são aqueles que amam a morte.

Ora, quem é o que fará mal a vocês, se vocês forem ávidos pelo que é do bem?

Por outro lado, se vocês padecerem por amor ao que é justo, bem-aventurados sejam vocês!


E não tenham medo de ameaças, nem fiquem perturbados com os ruídos da maldade; antes santifiquem a Cristo nos corações de vocês pela confiança de que Ele vê em secreto, e há de se mostrar Senhor de tudo e todos.

Também estejam sempre preparados para responder sobre a razão da esperança de fé que cada um de vocês tem em Jesus; porém, façam isto com mansidão e respeito pelos que pensam diferente. Não há razão em quem não sabe controlar suas próprias emoções, deixando-se levar por forças contrárias à própria mensagem de Jesus, que é amor.

Portanto, sempre que vocês venham a dar a razão da esperança que há em vocês, façam isto tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que alguns falam mal de vocês—há sempre estigmas a carregar—, fiquem confundidos os que tentam manchar aquilo que é o bem de vocês; sempre sabendo que o grande poder de convencer é do amor. Sendo assim, procedam conforme o amor em Cristo, nunca tentando vencer, mas servir.

Porque se alguém tiver de sofrer, melhor é que sofra por estar fazendo o bem, se a vontade de Deus assim o quer, do que por estar fazendo o que é mal.

Aliás, foi conforme esse princípio eterno que Cristo morreu uma só vez pelos pecados; visto que a injustiça é a lei do pecado; e na Cruz Jesus a removeu de uma vez.

Ele, todavia, morreu; e fez isto de uma vez e para sempre; sim, o justo morreu pelos injustos, para nos levar a todos de volta a Deus.

E Ele na verdade foi morto na carne, mas foi vivificado no espírito. Mas primeiro a carne morreu; então o espírito foi vivificado.
Foi neste momento-eterno da morte, que Jesus, em espírito, foi e pregou aos espíritos que estavam em cativeiro. Ora, esses espíritos em prisão são todos daqueles que haviam transgredido contra o amor e a bondade de Deus revelada aos homens nos dias anteriores ao Dilúvio, enquanto Noé construía a arca.
Aqueles que morreram naquele Batismo da Humanidade foram visitados por Jesus, em espírito, enquanto Seu corpo estava morto na Tumba.

Para nós era um dia. Mas para Deus era a eternidade!
Noé construiu mais que a arca. De fato, ele, sem o saber, construía uma arca de esperança, e que em Jesus se realizou para toda a humanidade que crer.

Na arca de Noé apenas oito pessoas foram salvas através da água.

A questão é que aquela arca de madeira corruptível prefigurava a arca incorruptível, que nos põe a salvo da morte; a qual, digo: a morte, é prefigurada pela água do batismo; que representa o batismo de nossa “carne” na morte de Cristo.

Aqui vale dizer outra vez que estamos diante de um verdadeiro arquétipo bíblico, e que é Um, porém se faz carregar de mais de um significado; ou seja: é o Dilúvio que mata; e é a Arca que salva; ora, ambos, no batismo, são um só; e atestam a salvação já acontecida como vida e morte; sobretudo, como ressurreição.

O que salva vocês não é a água, visto que a água lava o corpo, mas não nos despoja da imundícia da consciência contaminada.

O que salva vocês é a certeza da Graça de Deus em Cristo, a qual somente é apropriada pela graça da fé, e se expressa mediante a confissão e a indagação de uma boa consciência para com Deus. E isto não se baseia em feitos próprios, mas se fundamente exclusivamente na ressurreição de Jesus Cristo—que é Quem nos justifica—; visto que Ele está também está à destra de Deus, tendo subido ao céu; havendo-se-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades de todos os mundos existentes, e as potestades de todos os reinos de todos os Universos.

Ora, nós somos discípulos de Jesus; assim, já que Cristo padeceu na carne, não devemos jamais pensar que nós estaremos isentos de tais possibilidades.

Por isto, armemo-nos de um pensamento que estava em tudo o que Jesus fazia. Isto porque Ele nos ensinou que aquele que padeceu na carne deixou o pecado.

Ele nos deixou este ensino para que no tempo que ainda nos resta na “carne”—carne esta que é feita de mim contra mim mesmo—, não continuemos a viver escravizados pelas correntes dos desejos idolatrados; pelo contrário, que toda a energia que nós temos foque na vontade de Deus, que é vontade de vida e paz, não de ódio, escravidão e morte.

Vocês já tiveram a cota de vocês; digo, cota de existência sem significado que não se realizasse apenas pela idolatria dos sentidos e dos desejos!

Porque já é bastante que por tanto tempo passado vocês tenham realizado os desejos criados pela tirania dos falsos costumes, tempo no qual a vida de vocês era cheia de dissoluções, desejos fetichistas, dormência dos sentidos, idolatria da vontade de ter por ter, possuir por possuir, e comer por comer; como glutões da existência.

Ora, esses falsos costumes também são feitos de falta de sobriedade e lucidez; por isto nossa alma vivia em permanente estado de idolatria existencial e prática; seja no culto à estátuas vazias ou no entregar-se ao Vazio como um deus a ser satisfeito em-si-mesmo; assim, nunca nos satisfazendo em nada.

Há boca, mas não há fala. Há palavras, mas não há linguagem. Há coisas belas aos sentidos, mas não há verdade abaixo da imagem e do som. Ora, isto torna aquilo que deveria ser vida numa existência abominável.

Mesmo assim, eles acham estranho que vocês não corram com eles no mesmo desenfreamento de dissolução; ou seja: de dissolvência do ser.

Esta é a razão porque ficam zoando de vocês!

O que não se pode esquecer é que todos nós vamos dar conta Àquele que há de julgar os vivos e os mortos.

Esta é a razão do Evangelho ter sido pregado também aos mortos, para que, na verdade, mesmo que na visão humana eles tenham se “perdido” e sido “desperdiçados” de toda Graça, isto segundo o parecer dos olhos dos homens; pudessem, a despeito de tal julgamento, estar vivificados segundo Deus, em espírito.

O fim de todas as coisas já está próximo. Portanto, sejamos lúcidos, e tenhamos a mente cheia de oração; tendo antes de tudo ardente amor uns para com os outros. Isto porque, meu queridos, o amor cobre uma multidão de pecados.

E o amor também se faz prático; por isto, sejam acolhedores como aquele que hospeda com amor; logo, sem murmuração.

Sirvam uns aos outros conforme o dom que cada um recebeu de Deus e de Graça. Assim fazendo vocês estarão sendo gratos a Deus pelo bom uso que fazem dos dons que pela Graça foi dado a cada um.

Assim, façam tudo na vida!

Portanto, se seu dom é trazer a Palavra, fale como entregando oráculos de Deus; se alguém serve e cuida de coisas práticas, faça esse ministério segundo a força que Deus concede, não busque fazer menos, nem tente fazer mais. É conforme Deus concede!

Se assim for, em tudo Deus será glorificado por meio de Jesus Cristo, a quem pertencem a glória e o domínio para todo o sempre. Amém.

Amados, não estranhem a ardente provação que vem sobre nenhum de nós, para nos experimentar.

Sim! não fiquem estranhando como se algo horrível estivesse acontecendo. Antes, regozijem-se por serem participantes das paixões de Cristo; para que também na revelação da Glória Dele, vocês possam dançar e celebrar em plenitude.

Dessa forma, repito:

Se pelo nome de Cristo vocês forem degradados, sintam-se bem-aventurados; porque sobre vocês repousa o Espírito da glória, o Espírito de Deus.

Minha oração é que nenhum de nós, entretanto, padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se mete na vida do próximo.

Se vocês tiverem que padecer, que seja como um cristão; e não se envergonhe de que assim seja; antes glorifique a Deus com tal nome.

Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e se começa por nós, qual será o fim daqueles que desobedecem ao evangelho de Deus, especialmente os que o conhecem?

Ora, se aquele que busca o bem não se salva por si mesmo, como se salvará o impiedoso contumaz?

Portanto os que sofrem segundo a vontade de Deus confiem as suas almas ao fiel Criador, praticando o bem.


Caio, seguindo os passos e conselhos do Irmão Pedro.

domingo, 11 de julho de 2010

O EFEITO BORBOLETA

Se você pudesse retornar ao seu passado - talvez, voltar há um dia específico, anos atrás - tendo consciência de tudo o que você viveu, você teria a coragem de mudar tudo?

Esta é a tese central do filme O Efeito Borboleta (The Butterfly Effect), que acabo de assistir.


No filme, um estudante de psicologia, Evan, descobre como voltar no tempo, mas apenas aos fatos que ele presenciou. E tenta mudar o que aconteceu.

O título do filme se baseia na Teoria do Caos, que afirma que o bater de asas de uma borboleta na pré-história, pode ser a causa de um tufão no futuro. A teoria retoma conceitos como o do karma budista, que afirma que toda ação, por menos que seja, possui uma reação. 

O principal problema enfrentado pelo rapaz é o de que, ao mudar um evento no passado - impedir uma explosão ou um acidente, por exemplo - é impossível prever as consequências futuras, uma vez que todos os eventos de nossa vida estão interligados.
Ou seja, ao mudar uma minúscula partícula do passado, criaríamos um futuro totalmente novo, com novos eventos e novas consequências.

O filme é sencacional. Recomendo totalmente.

Agora, e você, leitor? Voltaria ao passado? E, mais importante de tudo, mudaria alguma coisa? Na verdade, essa é a pergunta essencial, não? 

"Se eu pudesse, viveria a minha vida de outro jeito? Mudaria as coisas? Tentaria fazer as coisas direito?"

 Ou ainda: "O que eu mudaria na minha vida, se eu pudesse?"

Se eu pudesse, eu gostaria de acordar em algum lugar, entre o Natal e o Ano Novo de anos atrás. Eu provavelmente abriria meu olhos dentro de uma barraca de lona, em Barra do Una, próximo a Peruíbe, no litoral sul. 

Ou antes, eu abriria meus olhos na estrada para Barra do Una, a pior estrada em que eu já andei na vida. 

Eu pararia o carro, um gol preto, e agradeceria a oportunidade de reescrever a minha vida. E faria uma ou duas coisas diferentes, então.

Paz e Bem!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O LIVRO DE ELI: DIVAGAÇÕES

Acabo de assistir ao filme O Livro de Eli (The Book of Eli, no original inglês), uma produção norte-americana estrelada por Denzel Washington e Gary Oldman (o Comissário Gordon da nova série de filmes do Batman).
Denzel Washington como o herói Eli

O filme mostra como, em um futuro apocalíptico - aparentemente, Hollywood acha que o futuro será terrível, quase sempre - um homem, Eli, carrega consigo a única cópia sobrevivente da Bíblia. 

A tensão acontece quando o vilão Carnegie (Gary Oldman), que controla uma pequena cidade de sobreviventes, quer se apossar da Bíblia e utilizá-la para controlar as pessoas.

Afinal, infelizmente, a História já demonstrou a facilidade com que religião se traduz em poder e controle sobre outras pessoas. 

Gary Oldman como o vilão Carnegie

Segundo o filme, a explicação para o fato de haver apenas uma Bíblia está no fato de que, após a tal guerra que acabou com o mundo, os sobreviventes teriam culpado o livro sagrado pelo massacre e destruído cada cópia existente na Terra. 

Apesar da falta de informações a respeito, podemos deduzir algumas coisas: a tal guerra, para ser motivada por razões religiosas, provavelmente se travou contra membros de outro grupo religioso, que não os cristãos. Assim sendo, é possível supor que o mundo de O Livro de Eli foi o que sobrou do nosso mundo após o conflito final entre a Cristandade e o Islã. 

 Cartaz do filme

Hoje, este conflito, marcado por interesses econômicos - como o controle das fontes restantes de combustível fóssil, predominantemente localizadas nos países islâmicos - está mascarado pela famigerada Guerra ao Terror dos norte-americanos.

Veremos o que acontece... 

O filme é bem bacana, com uma fotografia em tons pastéis sensacional. As cenas de ação são realmente ótimas. 

Mas, e aí? Porque O Livro de Eli merece uma postagem a seu respeito?

Acho que o filme merece uma postagem por sua mensagem central: a Bíblia não é apenas um livro. A Bíblia é uma mensagem de esperança.

Como já escrevi um ziguilhão de vezes aqui neste blog, eu sou cristão. Isso significa, sem meias palavras,  que aceito Jesus Cristo como Senhor e Salvador. E que a Bíblia, mais do que um livro histórico ou boa literatura - o que ela jamais deixará de ser - é um livro cuja leitura deve inspirar a minha vida.
Muito bem. E o que isso significa?

Isso significa que a minha leitura diária da Bíblia - mesmo quando eu abro o livro em uma página a esmo - tem, ou deveria ter, como propósito último, me mostrar a forma de conformar a minha vida segundo os princípios contidos no livro.
Em resumo, eu leio a Bíblia para poder viver cada dia um pouco mais como Jesus. 

Parece fácil, né?

Infelizmente, só parece. Aparentemente, o propósito de viver como Jesus viveu, imitando seus pensamentos e reações, implica em ir contra tudo o que para mim parece legal, desejável e gostoso.

Mas vamos ficar por aqui, por ora.

Paz e Bem!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sobre Deus

Ricardo Gondim

Não sei explicar as razões de minha fé. Não sei dizer os porquês de minha devoção. Sinto-me inadequado para convencer os indiferentes. Como fazer que desejem o mesmo sal que tempera o meu viver? Limitado, reconheço que tudo o que sei sobre o Divino é provisório. Não tenho como negar, minhas convicções vacilam. As certezas que me comovem são, decididamente, vagas.
Sei tão somente que Ele se tornou a minha meta, o meu norte, a minha nostalgia, o meu horizonte, o meu atracadouro. Empenhei o futuro para seguir os seus passos invisíveis. No dia em que o chamei de Senhor, a extensão do meu meridiano se alongou e os fragmentos de meu mapa existencial se encaixaram. Ao seu lado, caíram os tapumes da minha estrada e o ponteiro da minha bússola se imantou.
Sei tão somente que Ele se fez residente no campus dos meus pensamentos. Presente nos vôos da minha imaginação, transformou-se no mais doce ponto de minhas interrogações. Causa de toda inquietação, tornou-se a fonte de minha clarividência.
Sei tão somente que Ele se desfraldou como flâmula sobre meus ombros. Por amar tanto e tão formidavelmente, cilício, purgações, sacrifícios, tudo foi substituído por desassombro. No porão da tortura, nos suplícios culposos, achei um ambulatório, o seu regaço.
Livros contábeis, que registravam meus erros, foram rasgados. Encaro a eternidade com a sensação de que as sentenças estão suspensas. Já não fujo dEle como de um Átila. Eu o chamo de Clemente.
Sei tão somente que Ele ardeu o delicado filamento que acendeu a luz dos meus olhos. Ele foi o mourão que marcou o outeiro de minha alma; sou um jardim fechado. Ele é o badalo que dobra o sino do meu coração e o alforje onde guardo acertos e desacertos do meu destino.
Sei tão somente que Ele me fascina com a sua luz refratada em muitos matizes. Dele vem o encarnado que tinge a minha face com o rubor do sol. Seu amarelo me brinda com o açafrão do mistério transcendental. Vejo um roxo que me colore de púrpura real. Seu branco é lunar e me prateia. Seu preto me imprime de um nanquim celeste. Por sua causa, a minha alma espelha o azul dos oceanos virgens.
O que dizer de Deus? Tão pouco! Calado, só espero que o meu espanto celebre o tamanho da minha reverência.

Soli Deo Gloria

TEXTO DE CAIO FÁBIO

TREINO É TREINO, JOGO É JOGO!



Ainda não cheguei lá, mas já sei que é possível.


Sim! É possível viver a paz que excede a todo entendimento e andar sem ansiedade alguma, conforme Jesus ordenou!

Disse que ainda não cheguei lá apenas porque lá ainda não cheguei em plenitude, porém, sei que é possível, posto que tenho provado o gosto, cada vez mais continuo, de tal possibilidade.


Sei que é possível porque Jesus disse que era, porque tenho visto em algumas pessoas ser isto possível, e, além de tudo, porque eu mesmo, ainda que de modo insipiente para o meu alvo existencial, tenho provado isto.


Mas o “treino” foi longo, cheio de perdas, de decepções, de traições, de necessidades, de socorros impossíveis, de saídas bloqueadas, de inimigos atrozes e perversos, de pressões sem fim, de expectativas projetadas sobre você de modo inumano, etc.

Depois do “treino” veio o “jogo”. Até 1998 eu estava treinando sem saber. Pensava que já estava no “jogo”, mas que nada.

O “jogo” começou, e eu pensei que aquilo era a morte...

Então, as perdas...


Todas as possíveis e imagináveis, sabendo eu, todavia, que poderia ter sido muito pior!


Perde-se o nome, os meios, os amigos, as comodidades, os ajudantes, os próximos... Depois, perde-se até a noção do que seja ser uma vida para você. Sim! Você se olha e pergunta: Meu Deus! Como vim cair aqui? Como foi isso?

Então, você também vai perdendo a quem ama!... Mas, nada se compara a não ter mais com você o seu “canguruzinho”, o seu filhinho...


Sim! Nada doeu tanto quanto aprender o “jogo” como perda do abraço do filho até o Dia do Novo Abraço!


Todos os ódios e desejos perversos dirigidos a você desaparecem em sua importância ante o grito de um filho que diz: Pai! O Lukas se foi!...

Sim! Tudo o mais perde o poder de fazer doer!


Entretanto, grande é o consolo quando você não pede para sair de campo e continua se oferecendo para jogar.


Então, devagar, você vai procurando os efeitos da dor em você, e, estranhamente, não acha. Sim! Parece que no jogo toda dor vira apenas acidente, e, na continuidade, você vai vendo que aquela perda era a própria vitória no jogo.


Afinal, nesse jogo tudo é diferente, pois, de fato, o vencedor não é quem não sofre, mas quem suporta em esperança.


Ora, quando tal fato constatável se estabelece em você, então, o que segue é uma paz crescente, e, sobretudo, uma tranqüilidade que faz tudo ficar pequeno em suas desgraçadas importâncias.


Entretanto, creia: não é a dor que gera isso, posto que a dor gere apenas, no máximo, dormência. Não! É a Paz que produz tal realidade; e ela é de si mesma apenas Graça, posto que não foi o “treino” que gerou a grandeza da performance no “jogo”.


Nesse “jogo” a vitória é sempre de quem persevera sem amargura e sem transferências de responsabilidades.


Não despreze o “treino”, ele está acontecendo.


O “jogo”, quando começa, em geral a gente nem fica sabendo.


Nele, que é o Mestre no treino e no jogo,


Caio

DO MSN: 20 ANOS SEM CAZUZA

Exagerado

por Raquel Camillo, redação ONNE

São Paulo, julho de 2010 – Seu nome era Agenor de Miranda Araújo Neto, mas ele ficou conhecido como Cazuza. Nesta quarta-feira (7), 20 anos após sua morte, a obra do artista permanece viva como nunca. Considerado um gênio da música brasileira que, numa época pós-ditadura, botou o dedo na cara da sociedade, o ex-líder da banda Barão Vermelho começou a dar voz aos impulsos de uma juventude necessitada de novidades.


Seu jeito inquieto fez com que ele acabasse os estudos com muita dificuldade e nada de faculdade! Seu pai João Araújo, produtor fonográfico, não queria que ele passasse o resto da vida sem profissão, então lhe arranjou um emprego. A partir daí, Cazuza trabalhou no departamento artístico da Som Livre, em assessoria de imprensa e até tentou ser fotógrafo, mas nada disso o satisfazia.
Ele era boêmio, rebelde e polêmico e isso só poderia torná-lo um astro do rock. Os pais até aceitavam sua idolatria por nomes como Jimi Hendrix, Janis Joplin e Rolling Stones, mas não conseguiam entender sua bissexualidade e o vício pelas drogas. O pai inclusive teve que livrá-lo de prisões e algumas fichas na polícia pelo uso e porte de drogas.

Enfim, ele, Cazuza, era a grande novidade. Tornou-se um cantor e compositor brasileiro e ficou conhecido como símbolo da sua geração no papel de vocalista e principal letrista da banda Barão Vermelho. Em 1982 lançou o seu primeiro disco, com o nome homônimo ao da banda, resultado de sua parceria com Frejat. Os principais sucessos deste disco são Todo Amor Que Houver Nessa Vida, Pro Dia Nascer Feliz, Maior Abandonado, Bete Balanço e Bilhetinho Azul.

Ainda na banda, ele lançou os discos Barão Vermelho 2 e Maior Abandonado, respectivamente em 1983 e 1984. Foi nesta fase que, durante um show no Canecão, Caetano Veloso apontou Cazuza como o maior poeta da geração e criticou as rádios por não tocarem suas músicas. O rótulo de "banda maldita" só abandonou o Barão Vermelho quando o cantor Ney Matogrosso gravou Pro Dia Nascer Feliz. Era o empurrão que faltava e, a partir daí, a banda ganhou vida pública própria.

Em 1985, ele saiu da Barão e resolveu se lançar em carreira solo. Foi então que ele se tornou um dos ícones da música brasileira. Dentre seus sucessos, destacam-se Exagerado, Codinome Beija-Flor, Ideologia, Brasil, Faz Parte Do Meu Show, O Tempo Não Pára e O Nosso Amor A Gente Inventa. Cazuza assinou os maiores hits do novo álbum: em parceria com Ezequiel e Leoni, o rock emblemático Exagerado, e a balada Codinome Beija-flor, com Ezequiel e Reinaldo Arias.

Com seu segundo álbum, Só se for a dois, ele acrescentou novos sucessos à sua carreira, como o pop-rock O nosso amor a gente inventa (estória romântica). Daí ele se jogou de cabeça em uma turnê nacional, que mostrou um show mais elaborado que os anteriores, em termos de cenário e iluminação. Cazuza se aprimorava e decolava: seus espetáculos lotavam, suas músicas tocavam e a crítica elogiava seu trabalho. Mas antes de estrear este show, ele já sabia que estava com AIDS.

Em outubro de 1987, Cazuza foi levado pelos pais para Boston, nos Estados Unidos, onde passou quase dois meses submetendo-se a um tratamento forte. Ao voltar, gravou Ideologia no início de 1988, um ano marcado pela estabilização de seu estado de saúde e pela sua definitiva consagração artística.

No segundo semestre do mesmo ano, o espetáculo de Ideologia se mostrou mais profissional e bem-sucedido. Dirigido por Ney Matogrosso, Cazuza tentou valorizar mais o texto no show, que era pontuado pela palavra "vida". Substituiu a loucura de suas performances anteriores por uma postura mais contida no palco. Mesmo assim não aguentou e exprimiu seu lado agressivo e escandaloso num episódio que causou polêmica: em um show no Canecão, no Rio de Janeiro, cuspiu na bandeira nacional, atirada por uma fã.

Em 1989, se declarou publicamente soropositivo. Foi o primeiro artista brasileiro a assumir a doença publicamente, ele dizia que um artista que cantava “Brasil, mostra sua cara” não poderia mentir para o seu público.

Depois de quatro meses se tratando de forma alternativa em São Paulo, Cazuza viajou novamente para Boston, onde ficou internado até março do ano seguinte. Seu quadro clínico já era extremamente delicado e, àquele ponto, não havia muito mais o que fazer. Ele enfrentou a doença publicamente, mas acabou tomado por ela no dia 7 de julho de 1990.

Seu enterro aconteceu no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, e sua sepultura está próxima à de outros astros da música brasileira como Carmen Miranda, Ary Barroso, Francisco Alves e Clara Nunes. Sua obra é eterna e imortal, e a legião de fãs que ele ainda tem, continuará sendo exagerada, jogada aos pés do artista.

MONOTONIA

Aparentemente, preciso mudar de ares de novo. Ver coisas novas, ver paisagens diferentes, ser um pouco outra pessoa, na esperança de que isso me leve a ser um pouco mais eu mesmo. 

Este não é um programa, um plano. É apena uma idéia.

Ando cansado de fazer as mesmas coisas todos os dias, de repetir as mesmas palavras, gestos e pequenas ações. Ando terrivelmente cansado.

Na sexta-feira, teremos um feriado. O plano é simples: ir até a rodoviária e comprar uma passagem. Pra qualquer lugar. 
Este, sim, é um plano.

Paz e Bem!

terça-feira, 6 de julho de 2010

DUETO COM LUDMYLLA


Seus olhos estavam bem abertos, fixos no teto. A luz do sol passeava pelo quarto, na medida em que carros passavam pela rua. Estava fresco.
O sonho tinha sido bom. Ele sabia disso pela sensação de paz e pela vontade de sorrir que sentia. Os músculos do rosto se moviam lentamente e, sempre que ele se distraía, percebia que estava sorrindo.

Era um sorriso que escapava entre seus lábios e faziam também seus olhos brilharem e encherem de emoção que ele não sabia explicar, que não sabia dizer as características do que vira aquela tarde e nem sabia de onde vinha toda aquela chama que o enchia a alma. Só vinha á sua mente ela e seu belo vestido azul que cintilava com os raios de Sol, que espelhava em todas aquelas pessoas o vislumbre de se depararem com tanta beleza e sentimento em forma de poesia. Ela que encantava tudo e á todos o fez chorar tantas e tantas noites, o fez perder o sono e ficar sem a minima noção de onde procurá-lo.

E, então, ele se lembrou dela, como há muito tempo não fazia. A lembrança fez com que seus olhos se fechassem. Ele se lembrou de seu sorriso, de seu cabelo ao vento. Ele se lembrou de como ela colocava as mãos dentro dos bolsos do macacão.
Seus lábios estalaram por um momento.
Ele se lembrou do abraço que ela lhe dera da primeira vez em que cumprira uma promessa. Ela se aproximou devagar e o envolveu. Então, ela começou a chorar. Era um choro bom. Ele se emocionou.
“Por favor, por favor, não suma nunca mais, tá bom? Estou aqui”, ele tinha lhe dito, tantos anos atrás. 
Seu lábio estalou e, ainda deitado, ele percebeu que os olhos começavam a ficar úmidos. Afastou o pensamento com esforço e se levantou da cama.
Ele se sentou na beirada e estendeu a mão até o criado-mudo, apanhando um cigarro de um maço. Acendeu. Tragou.
A fumaça não dissipou a memória.
Ele ainda se lembrava de cada sorriso, de cada movimento, de cada lágrima, de cada sussurro e de cada grito. Lembrou de quando se aproximava dela, sem saber muito bem o que fazer, como um menino, e se lembrou da última vez em que ela se afastou.
E, daquela vez, ambos sabiam que seria para sempre.
Ele se levantou. Caminhou até a janela, tragando o cigarro e lançando a fumaça no espaço.
Ele se lembrou das noites em que fumaram juntos na varanda da casa dela. Os olhos azuis, os cabelos mais claros à luz da lua.
Era doloroso. Era triste. E ele sorriu assim mesmo.

Mas mesmo assim ele luta contra, mesmo assim ele deixa com que os dias escorram entre seus dedos e esfriem suas mãos. Tanto tempo se passou, tantos Janeiros foram e voltaram mas ela continua ali, presa no canto de sua memória. Ele busca, tenta encontrar o novo, tentar achar motivos que o façam tentar denovo, que o permitam se soltar da memória mais viva e presente que ele ainda tem. Mas toda a poeira em seu quarto, a colcha azul, as almofadas ciano, o espelho oval, os perfumes encima da pia do banheiro, e um colar esquecido no canto do tempo não o deixa nunca mais. Essas marcas de quem um dia esteve ali, de quem a muito tempo viveu ali, as marcas que ele não consegue dissipar, mas que ao mesmo tempo não quer se desfazer, quer tornar cada vez mais essa dor em exposição, cada corte dessa cicatriz em carne viva e expor ao mundo e a todos que toda a dor se mudou para seu peito e transborda em seus olhos.

A realidade se impôs por um momento: tinha alguém na porta. A campainha, insistente, tocou de novo.
Ele caminhou até a porta, devagar. Abriu. Um sorriso o esperava.
- E então? Tá tudo bem?, perguntou o sorriso.
- Claro. E você?
- Comigo está tudo ótimo. Você é que anda sumido. Achei que era uma boa passar por aqui e ver se você ainda estava vivo.
- Deixa de ser ridículo, ele começou, sem muita ênfase.
O amigo entrou no apartamento e caminhou até a janela. Depois, virou-se e o encarou; o sorriso havia desaparecido.
- Há quantos anos a gente se conhece, Marcos?
- Mais de dez...
- Exato. Mais de dez. E há quanto tempo ela foi embora?
- Olha, vamos deixar isso pra lá, tá?
- Claro. Eu deixaria isso pra lá se você pudesse deixar isso pra lá. Vira e mexe, você fica assim.
- Nem sempre é assim tão fácil...
- Sabe, eu estou cansado disso. Quer ver como pode ser fácil, se você ao menos tentar? Põe um casaco e me segue.
- Pra onde?
- “Pra onde”? E isso por acaso faz diferença? Qualquer lugar é melhor do que ficar aqui trancado, se lamentando...
- Obrigado, mas eu prefiro ficar aqui...
O sorriso voltou ao rosto do amigo, mas agora era diferente. Não havia nada amigável naquela formação de músculos e dentes.
- Você quem sabe... Mas eu desisto aqui. Nós não nos falamos mais.
O sorriso foi até a porta e a abriu. Colocou um pé para fora da porta. Depois, o outro. Olhou para trás.
- Estou falando sério, Marcos. Eu juro, cara.
Marcos finalmente estendeu o braço até a cadeira da sala e apanhou o casaco.
Saíram. 
 
- Marcos não adianta lutar contra você cara! Você não pode mais manter cada corte dessa cicatriz ai exposta ao vento, sol ou chuva, a vida segue lá fora, os carros andam como você pode ver. E esse semáforo bem aqui é como a vida, uma hora agente anda, tem cautela, presta atenção, mas na outra hora agente para pra poder recomeçar tudo outra vez. Nada acabou por aqui, é só você ter calma e esperar o tempo passar que logo logo o sinal fica verde denovo e tudo recomeça, a vida toma os caminhos que muitas vezes você não escolhe, mas em algumas vezes você pode evitar passar por uma pista esburacada e não cair em buraco algum certo?
- Como se fosse fácil... Como se eu apertasse a tecla "reset" do meu computador cerebral e esquecesse dela e de todos os dias que se escorreram enquanto eu olhava pra ela hipnotizado, enquanto ela dançava só pra mim todas as noites no meu quarto.
E entraram em algum bar desses escuros noturnos da cidade com cheiro forte de incenso em que se fuma muito, bebe muito e se fala pouco, só se presta atenção nas dançarinas ao redor, e a noite correu, lentamente entre um wisky e outro, entre cigarros de todos os sabores possíveis. Enquanto lá fora o Sol já ia empurrando a lua pra conquistar o seu lugar.
Os dois saíram do bar, com um pouco de bebida e de cigarro a mais. A vida era boa. A vida parecia boa, apenas. Perambularam.
No céu, as nuvens alaranjadas anunciavam o sol que já vinha. Pássaros cantavam e a cidade acordava rapidamente. Ao longe, e cada vez mais perto, buzinas de carros insistiam, ao mesmo tempo que em pedestres saíam dos buracos do metrô cavados no fundo da terra.
Marcos acendeu um Derby vermelho e o estendeu, oferecendo ao Sorriso. Tragaram.
- Não tinha mais dinheiro pra comprar um cigarro decente?, o Sorriso riu.
- Não. Só essa porcaria mesmo.
- Tá melhor?
- Claro que estou. Você que não entende que, às vezes, ficar mal faz parte do jogo, meu caro.
O Sorriso balançou a cabeça. Finalmente, coçou a barba, em consenso.
- Tem razão. Não entendo. E não faço a menor questão.
Os dois ficaram em silêncio enquanto caminhavam. O esforço de andar e falar ao mesmo tempo seria demais naquele momento. Então, os dois apenas continuaram andando.
Então, para a surpresa de ambos, havia uma igreja no meio do caminho. Eles se olharam e decidiram entrar, ainda em silêncio.
Lá dentro, não havia ninguém, a exceção de uma mulher que limpava o piso da igreja. Ela era uma senhora, negra, baixinha, de óculos. Carregava um balde de água junto a si, e um rodo com um pano que já deveria ter sido branco um dia.
Ela limpava o piso da igreja calmamente. Vez ou outra, levantava os olhos para o teto. E, em silêncio, voltava ao trabalho.
Ela os olhou quando entraram e sorriu.
- A missa é só daqui a uma hora, ela disse, sendo amável.
Os dois andaram em sua direção, obviamente bêbados.
- Não viemos para a missa, disse o Sorriso.
- Estamos só de passagem, concluiu Marcos.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

ACASOS INESPERADOS SÃO BEM-VINDOS

Nem sempre tudo corre como o planejado. Minha vida, em geral, é uma prova disso. Na verdade, eu fico feliz em perceber que isso acontece com frequência: a vida não se preocupa muito com o meu planejamento.

Há algum tempo, eu decidi escrever um artigo sobre os sites de relacionamento dedicados ao público cristão, como o AmorEmCristo e o Divino Amor, por exemplo.
O objetivo era descrever esses sites - suas ferramentas e seu funcionamento - e oferecer alguns comentários a respeito do público que utiliza este tipo de serviço.

Pois bem... Já era... 

E já era por um motivo bastante simples: eu conheci uma garota por lá. Sim, pronto, eu admito. Eu saio com garotas que conheço pela internet, por minha conta e risco.

Bom, mas eu tive muita sorte. Ela é ótima. É engraçada, inteligente e supercrente, como se espera de uma pessoa que você conhece em um site dedicado aos cristãos. Ela é linda e beija maravilhosamente bem. 

Gosto principalmente do jeito que me olha com aqueles olhos esverdeados sempre que nos beijamos.

Aos poucos, tento mostrar a ela que me conhecer, ou se envolver comigo, não é exatamente uma grande roubada, apesar de eu ser um cristão bem meia-boca. 

Veremos se consigo.

Paz e Bem!