Os leitores deste blog já devem ter percebido que, invariavelmente, ao final de cada postagem na qual o texto é de minha autoria, sempre há uma mesma frase de encerramento:
Paz e Bem!
A escolha de uma frase que pudesse, de alguma forma, marcar todos os textos obedeceu a uma necessidade prática. Me explico: normalmente, os textos que publico em Com outros olhos são escritos sem uma grande preocupação com estilo, ou seja, não são revisados e, normalmente, não são elaborados de uma forma a apresentarem uma conclusão ao final.
São apenas textos e comentários, e não artigos ou tratados de qualquer espécie.
Assim, uma vez que eles são elaborados de momento, estes textos normalmente não possuem um grande final; na verdade, eles simplesmente param. E, por isso, eu quis encontrar uma forma de marcar o encerramento de todas as postagens por meio da adoção de uma frase, uma frase de despedida, por assim dizer.
Daí, minha escolha.
A opção por utilizar a expressão Paz e Bem! tem este objetivo: encerrar todas as postagens das quais eu sou autor de uma forma leve e, ao mesmo tempo, honesta.
Um pouco de História
A origem da expressão "Paz e Bem" remonta a Francisco de Assis, ou São Francisco, um dos mais radicais exemplos de seguimento às idéias de Jesus de que se tem notícia.
Pessoalmente, considero que o exemplo de São Francisco - um homem que, após uma crise, abandonou bens e posses e dedicou-se a seguir os ensinamentos de Cristo por meio de um compromisso com a pobreza e a completa dedicação ao próximo - são ensinamentos inspiradores, ao mesmo tempo em que me mostram a pouca consistência do meu compromisso com esses valores.
Abaixo, eu transcrevo um texto que explica a origem da expressão franciscana "Paz e Bem". O texto foi retirado do website da Província Franciscana da Imaculada Conceição, e será grifado em itálico.
No seu Testamento, Francisco revela que recebeu do Senhor mesmo esta saudação. Portanto, ela faz parte de sua inspiração original de vida: anunciar a paz. Muito antes de São Francisco, o Mestre Rufino (bispo de Assis, na época em que Francisco nasceu), já escrevera um tratado, "De Bono Pacis" - "O Bem da paz" e, que certamente deve ter influenciado a mística da paz na região de Assis. Haviam, então, diferentes formas de saudação da paz, entre elas a de "Paz e Bem".
A paz interior como fundamento da paz exterior
Na Legenda dos três companheiros (58), São Francisco dá para seus frades, o significado único para a paz:
"A paz que anunciais com a boca, mais deveis tê-la em vossos corações. Ninguém seja por vós provocado à ira ou ao escândalo, mas todos por vossa mansidão sejam levados à paz, a benignidade e à concórdia. Pois é para isso que fomos chamados: para curar os feridos, reanimar os abatidos e trazer de volta os que estão no erro".
Trata-se da paz do coração que conquistaram. Francisco exorta seus frades a anunciar a paz e a testemunhá-la com doçura, porque este é o único caminho de comunicação para atrair todos os homens para a verdadeira paz, a bondade e a concórdia.
A saudação da paz, como primeira palavra que os frades dirigem aos outros, tem o objetivo de abrir os corações à paz, isto é, à força espiritual interior: a paz interior da bem-aventurança e a paz proclamada e dirigida a todos, constituem uma única e mesma realidade.
O Bem da paz - o "Sumo Bem"
Deus Sumo Bem é a experiência fundamental de Francisco, o ponto de partida de sua espiritualidade. Nela se fundamenta a vida franciscana como resposta de amor, configurando o amado ao Amor. Portanto, "Bem" é Deus-Amor, é a caridade.
Deus, o Sumo Bem, chamou a todos a participarem do seu Ser, não no sentido de "soma de todos os bens divinos", mas Deus, enquanto "bem único". Por isso, a atitude típica de São Francisco é o êxtase adorante e a decisão de estar sempre a serviço deste Deus; um serviço que nasce da alegria da gratidão. É a atitude que projeta em Deus a completude de si mesmo, que leva a renúncia a tudo, até à posse de Deus. Francisco descobre neste "vazio", a presença de Deus, unicamente como "dom".
E é justamente este o sentido da resposta humana, a da conversão ao Bem, ao "Sumo Bem": aceitar Deus como centro absoluto da própria existência, e inserir-se no seu projeto tornando-se seu colaborador. Desta experiência nasce a "doçura", que enche a vida de Francisco, a sua necessidade de entregar tudo a Deus (pobreza), de render-lhe graças e louvá-lo sem cessar. Desta experiência nasce também a confiança de tudo arriscar, sabendo que Deus não o deixará desamparado.
"Paz e Bem" - A paz se constrói pela caridade
Portanto, a saudação franciscana de "Paz e Bem" é um programa de vida, é uma forma evangélica de viver o espírito das bem-aventuranças. Nestas duas 'pequenas' palavras se esconde um dinamismo e uma provocação: saudar alguém com "Paz e Bem" é o mesmo que dizer: o amor de Deus que trago em meu ser, é a mesma pessoa que reconheço nos outros e no mundo e, por causa d'Ele, devemos viver a caridade - o Bem - entre nós.
Daí que, a paz só se constrói por meio da caridade (o Bem), porque a caridade é "forte como a morte" (ct 8,6); à qual ninguém resiste e, quando vem, mata o mal que fomos para que sejamos outro bem. A caridade gera a paz. A caridade está na paz assim como o espírito da vida está no corpo. A caridade sozinha mantém firmemente unidos na paz os filhos da Igreja; faltando a caridade, esta paz se dissolve. A caridade vivifica os membros de Cristo, os une e os faz estar em harmonia num só corpo. Ela é como um cabo, em cuja parte superior foi aplicado um gancho que liga a divindade à humanidade, o cordão que o senhor colocou na terra e com o qual ergueu o homem para o céu" (Mestre Rufino).
Portanto, Paz e Bem!
Nenhum comentário:
Postar um comentário