João 4
Uma mulher com sede de amor ouviu dos lábios livres de Jesus que a sede que a fazia buscar dessedentar-se em amores sucessivos, indo de peito de homem em peito de homem, casando-se e descasando-se, nada mais era que sede de Deus.
Jesus disse também a ela que Ele tinha a água espiritual que mitigaria sua sede para sempre.
A mulher creu. E em perplexidade correu à cidade de Siquem da Samaria e contou “aos homens”—os quais ela bem conhecia—, tudo o que Jesus dissera sobre ela. E lhes perguntou: “Seria esse o salvador do mundo?”
Os homens da cidade foram ouvir a Jesus. E já chegaram ‘como quem crê’; pois, a perplexidade da mulher lhes fizera crer que algo genuíno e diferente havia sido percebido por ela num homem; e não era de natureza sexual a satisfação que eles na mulher discerniam.
Depois de ouvirem Jesus lhes falar pessoalmente, disseram à mulher: “Já agora não é pelo que disseste que cremos, mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o salvador do mundo”.
Ora, esse milagre da percepção aconteceu porque eles convidaram a Jesus para estar com eles.
Jesus ficou dois dias entre eles.
Para eles foram dois dias ouvindo a Palavra da Palavra.
Palavra encarnada.
Palavra humanizadamente divina e divinamente humana.
Palavra limpa, feita também de gestos.
Palavra pura, sem disfarce.
Palavra doce e cortante.
Palavra des-nudadora e penetrante.
Palavra das Boas Novas da Água da Vida!
Dois dias...
Dois dias sendo iluminados pela Palavra que sai da boca de Deus em Cristo.
Dois dias... e tudo mudou em suas existências.
Dois dias... e eles dizem “já agora não é pelo que disseste a nós, mas porque nós mesmos ouvimos e sabemos...”
Dois dias... e eles discernem por revelação que Aquele era o salvador do mundo.
Dois dias... e eles dizem “já não é mais pelo que disseste, mas por que nós ouvimos e sabemos...”.
E isto simplesmente mostra que eles haviam passado do estado de pessoas impressionadas para o de pessoas conscientes na fé.
Dois dias... e eles já podiam andar com as próprias pernas.
Dois dias... e eles já podiam seguir o caminho tendo ouvido e discernido “por si mesmos” que Jesus era Aquele.
Vejo isto e me assusto!
Assusto-me porque o que vejo a minha volta é muito diferente.
Isto porque conheço muito pouca gente que “já agora” crê não “por causa” da existência de um alguém especial na fé, mas porque eles mesmos têm “ouvido e sabido” que Jesus é Aquele.
Sendo, portanto, o Tudo que tais pessoas esperavam para si mesmas.
Assusto-me porque vejo que a maioria depende da fé de outros.
Precisam do “testemunho” de outrem para o resto de suas existências; do contrário, perdem a fé.
O que vejo são pessoas que não conhecem jamais a Deus para si mesmas e por si mesmas, mas dependem fundamentalmente da experiência de outros a fim de caminharem daqui para ali na existência, sendo que jamais chegam a conhecer a Deus nesta vida... embora sejam “crentes”.
O que vejo são pessoas eternamente dependentes de testemunhos, e que jamais são elas próprias o testemunho.
O que vejo são pessoas que só sabem de Deus por informação de terceiros, e que “crêem”, mas não conhecem para si mesmas aquilo no que confessam crer; pois, quem de fato conhece a Deus para si mesmo, e, por si mesmo, esse ouviu a Palavra diretamente da boca de Deus.
O que vejo é a ‘samaritana’ se tornar garota propaganda de Jesus, e, depois de uns poucos anos já estar pedrada em sem Água da Vida, apesar de ter dado o seu testemunho em muitos jantares, e com muito boa comida.
O que vejo são os ‘homens de Samaria’ ficando na cidade, não saindo para encontrar Jesus, e, ao invés disso, contratando a ‘samaritana’ para lhes dar testemunho; testemunho esse que se corromperá em muito pouco tempo.
O que vejo é a ‘samaritana’ logo voltando a ter sede, só que agora ela não tem mais nem mesmo a liberdade para ser ela própria, posto que já não dorme com os ‘homens da cidade’, mas é contratada deles; e por essa razão tem que ter sede em silencio. A ‘samaritana” prostitui-se no espírito e vendeu a alma, embora cubra o corpo de falso pudor.
O que vejo é a ‘samaritana’ procurando a Jesus apenas para ter o que reproduzir aos ‘homens da cidade’ no sermão do domingo seguinte.
Sim, o que vejo é a Fonte de Água viva ser trocada pelas artificialidades do poço de Jacó; e vejo a ‘samaritana’ vendendo acesso ao lugar da “experiência com Jesus”.
Vejo o poço de Jacó virar “igreja”, templo da saudade, memorial ao que se soube, e já não se sabe mais; e, por fim, vejo-o tornar-se apenas um grande negócio de ludíbrio e engano, no qual Jesus nem água quer beber, posto que tal água não é fria nem quente; por isso acerca da água de tal “poço” Ele diz: “Porque não és nem frio nem quente, mas morno; estou a ponto de vomitar-te da minha boca”.
Pense nisso!
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