sexta-feira, 16 de abril de 2010

BENTO XVI SOB ATAQUE

Há 11 dias, escrevi a postagem Escândalos na Igreja Católica, na qual comentava a questão das denúncias de crimes sexuais entre sacerdotes que estavam surgindo em vários países. Até aquela data, somente neste ano, haviam sido registradas 566 queixas de pedofilia e abuso contra padres.

A origem do meu interesse pelo tema - e em acompanhar seus desdobramentos - está na minha opção profissional e acadêmica, o estudo das Ciências da Religião. Não é um caso de gosto por coisas mórbidas.
A questão dos crimes sexuais perpetrados por sacerdotes, cujas denúncias surgem  em tão grande quantidade, por si só, provavelmente forçará a igreja a rever suas normas para recrutamento e admissão de clérigos. Isso parece quase inevitável hoje, segundo observadores e comentaristas.

A novidade no caso é que, nos últimos dias, o principal alvo das críticas deixou de ser a Igreja Católica enquanto instituição, e passou a ser a própria figura do papa Bento XVI, o ex-cardeal Joseph Ratzinger, que hoje é acusado de ter acobertado os escândalos e de ter protegido os padres acusados desses crimes.

Pela primeira vez em séculos, provavelmente desde da Reforma Protestante, no século XVI - como nos chamou a atenção uma de nossas professoras da PUC - é a figura do Papa que é criticada, colocando em discussão a própria instituição do papado, ou seja, a estrutura de governo da Igreja Católica.

Hoje, a Folha de S. Paulo publicou um artigo retirado da Agência de Informações Ansa, no qual o teólogo suíço Hans Kung critica o pontificado de Bento XVI, acusando-o de ter desperdiçado várias oportunidades desde que assumiu o governo da igreja, cinco anos atrás. Para ler o texto, acesse http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u721424.shtml.

De acordo com Kung, as denúncias de crimes sexuais e as críticas à forma como o assunto é tratado na igreja que, aparentemente, evita punir os culpados, preferindo transferí-los para outras partes do mundo,  (veja http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u721671.shtml) criaram uma enorme crise de liderança na instituição.

Além disso, sempre segundo o suíço, Bento XVI poderia ter avançado no diálogo entre cristãos e judeus e muçulmanos. Outro ponto apontado é a insistência de Roma em criticar o uso de métodos contraceptivos como os preservativos, que, na opinião de Kung, poderia ajudar os povos africanos no combate à AIDS e também em relação à crise populacional que assola o continente.

A verdade é que todas essas críticas a Bento XVI - na verdade, críticas em relação a políticas adotadas pela igreja muito antes do início do atual pontificado - são bastante antigas e vem sendo discutidas pela sociedade há décadas. Obviamente, neste momento em que a igreja está sendo seriamente atacada, esses temas tendem a resssurgir e a serem reapresentados à discussão.

A medida que o tempo for passando, a questão dos crimes sexuais praticados por sacerdotes deixará de ser o principal foco da discussão, que passará a abordar críticas ao atual pontifície, que hoje completa 83 anos de vida, e à própria igreja.

A pergunta que deve ser feita é: em que medida essa onde de descrédito e ataques à igreja poderão forçar o Vaticano, uma instituição completamente contrária à mudanças, a atualizar sua linha de pensamento?

Por enquanto, esta questão ainda não foi colocada.

Paz e Bem!

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