domingo, 13 de junho de 2010

COMO SE EU FOSSE FLOR, VOCÊ ME CHEIRA

Eu conheço um homem que foi viciado em drogas por vários anos. Hoje, há cerca de um ano, ele está limpo. Esta postagem é uma forma de escrever sobre o tema - o nosso principal problema de saúde pública no momento - e também de celebrar sua vitória.
Não fornecerei detalhes sobre sua identidade, uma vez que não estou autorizado a isso. Apesar disso, fornecerei todos os detalhes que são realmente necessários.

O vício em drogas é uma doença, adquirida pelo uso contínuo de alteradores de consciência, sejam eles quais forem. Cada viciado tem sua droga de escolha. No caso do homem que conheço, era a cocaína.

A doença tem alguns sintomas comuns a todos: progressiva perda de interesse por tudo o que não seja a droga (ou relacionada a seu uso ou a formas de conseguí-la) e a decadência mental e física. 

A pessoa sobre quem escrevo iniciou o uso há pouco mais de dez anos. No período, ele experimentou ácido, cocaína, maconha, crack, lança-perfume e álcool. 

Mas a sua droga de preferência era a cocaína.

A compra era feita por duas formas principais: um traficante que fornecia a droga aos seus clientes por meio de entregas; e a visita a pontos de venda em vários pontos de São Paulo.   

No começo, o uso era social, mas, com o tempo, a pessoa sobre quem escrevo decidiu que era melhor usar a droga em casa, já que as quantidades consumidas eram cada vez maiores.

O uso de drogas lhe custou amizades, a perda de empregos e, obviamente, dinheiro. 

Há cerca de um ano e meio, com o rompimento de um relacionamento amoroso, ele decidiu parar. Como o seu uso de drogas não era público, e ele não queria que a sua família soubesse disso, a opção por se internar em uma clínica de desintoxicação não era viável.

Assim, ele decidiu cortar a seco. Simplesmente interrompeu o uso.
No primeiro mês, ajudado por um amigo, ele utilizou um medicamento para ajudar a  suportar a abstinência. O uso do remédio foi suspendido ao final deste mês.

Como em todos os casos, os primeiros meses de abstinência (total, uma vez que ele não passou a usar outras drogas) foram os piores; como em todos os casos, aconteceram recaídas.

Com o tempo, o auto-controle voltou e as recaídas pararam, por serem desnecessárias. Hoje, a droga - e nem mesmo a vontade de usar - fazem mais parte de sua vida. 

Infelizmente, apenas parar de usar não é suficiente. Com o tempo limpa, a pessoa normalmente percebe que a sua vida está bagunçada e ela começa a fazer as coisas funcionarem novamente.

Segundo esta pessoa que conheço, dar início à reconstrução da  vida é a melhor parte do processo de recuperação. E ela é permanente, uma vez que se pára de usar drogas.

A droga é um problema de saúde pública hoje. Infelizmente, as autoridades ainda o tratam como uma questão policial. Ou seja, basta apenas prender traficantes e diminuir a quantidade de droga disponível no mercado. Isto, em um mundo ideal. No nosso mundo, que não é ideal, policiais são responsáveis pelo tráfico de drogas. 

A droga - e as pessoas que as vendem - estão apenas satisfazendo uma necessidade. Enquanto as autoridades não perceberem isso, e não partirem dessa premissa para lidar com o problema, a doença seguirá se alastrando.

Hoje, por exemplo, jornais e revistas noticiam que o crack - droga obtida a partir da produção e refino de cocaína - antes consumida apenas por pessoas pobres, é uma das drogas favoritas da classe média.

Isso mostra que o problema está se alastrando.

Soluções como prisões e a criação de clínicas de desintoxicação e grupos de auto-ajuda, como os Narcóticos Anônimos, por exemplo, não resolverão o problema, uma vez que eles atingem apenas o viciado em seus últimos estágios. 

Ou seja, essas soluções atingem apenas o final da equação. 

Ainda assim, Paz e Bem!

Nenhum comentário:

Postar um comentário