quarta-feira, 30 de março de 2011

O RACISMO NOSSO DE CADA DIA


Aqui, no Brasil, nós não temos de enfrentar o flagelo do racismo. O brasileiro não é racista. Segundo o escritor e humorista Millôr Fernandes, nossa “democracia racial” está fundada no fato de que, aqui, no Brasil, “o negro sabe o seu lugar”.

Infelizmente, isso parece ser verdade. Aqui, o negro parece saber o seu lugar na sociedade – e isso facilita as coisas para essa entidade fantasmagórica chamada “elite branca”.

Uma nota pessoal: eu faço parte da “elite branca” por direito de nascença. Sou branco, heterossexual, com formação superior e de classe média alta. Ainda assim, graças aos meus pais, fui educado para abominar qualquer manifestação de racismo.

Ao mesmo tempo, quando percebo que algum comentário ou atitude de minha parte possam ser vistos como racistas, eu tento corrigir isso. 

 
Acredito que isso se pode falar da maioria das pessoas: muito poucos brasileiros são abertamente racistas. Aqui, entre nós, o preconceito deslavado tem outros alvos preferenciais, como a mulher, o gay, o nordestino e o pobre, por exemplo.

Graças a Deus, não somos racistas, certo?

Entretanto, alguns fatos teimam em contradizer o mito da “democracia racial brasileira”, uma terra mágica, na qual, independente da cor de sua pele, todos os homens (e mulheres) são iguais.

Segundo artigo do jornalista Mino Carta, publicado na revista Carta Capital: “Em 2002, foram assassinados 46% mais negros do que brancos. Em 2008, a porcentagem atingiu 103%. Em outras palavras, para cada três mortos, dois tinham a pele escura. Na Paraíba, morrem 1.083% mais pretos. Em Alagoas, 974%. E, na Bahia dos blocos de Carnaval, 440%.”

Ou seja, aqui, a violência policial atinge preferencialmente negros pobres. Eu, que sou branco e uso óculos, passo incólume por blitzes da Polícia Militar.

Recentemente, no dia 28 de março, o programa CQC, da Rede Bandeirantes, divulgou um comentário do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), no qual respondendo à uma pergunta da “cantora” Preta Gil, no quadro “O Povo quer saber”.

Questionado sobre qual seria sua reação se seu filho namorasse uma negra, Bolsonaro soltou a seguinte pérola: "Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados. E não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu."

No dia seguinte, segundo o UOL Notícias:

“Uma representação assinada por 20 deputados do PSOL, PCdoB e PDT foi protocolada na noite desta terça-feira (29), na Mesa Diretora da Câmara, pedindo que a Corregedoria da Casa investigue o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) por comentários racistas feitos em programa de televisão, exibido no último dia 28. Caberá agora ao presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), encaminhar a solicitação à corregedoria.
Na mesma representação, os deputados pedem também que Jair Bolsonaro seja destituído pelo seu partido, o PP, da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. De acordo com a presidente da comissão, deputada Manuela D'ávila (PCdoB-RS), que também assinou a representação, uma pessoa que não defenda os direitos humanos não deve atuar na comissão voltada para esse fim”.

Mas, graças a Deus, nós não somos racistas, não é mesmo?

segunda-feira, 28 de março de 2011

GABRIELA

Hoje, no início da noite, recebi uma mensagem de texto me informado que a minha segunda sobrinha, a Gabriela, veio ao mundo. Filha muito esperada de Diego e Suelen.

Eu, o tio porra-louca, mando beijos e abraços de São Paulo.

Espero que ela tenha toda a alegria e o amor que houverem nessa vida.

Gabi, Bem-Vinda!

Graça, Paz & Bem!

HOMENAGEM A JOSÉ COMBLIN

Faleceu ontem, pela manhã, o teólogo José Comblin, um dos expoentes da Teologia da Libertação. 
Comblin era de origem belga, mas viveu muitos anos radicado no Brasil, no sertão da Paraíba, onde ajudou a organizar movimentos populares ligados às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).
Comblin, que foi um dos líderes na luta contra as ditaduras militares na América Latina, tinha 88 anos de idade.

"A ação cristã vai buscar a pessoa esquecida, a pessoa que não cabe dentro das estruturas e das categorias e coloca essa pessoa no centro da atenção. Trata-se de um descobrimento da pessoa negada pela sociedade estruturada e estabelecida".

"A libertação não consiste numa mudança de estruturas sociais, o que teria por conseqüência a pura substituição de certos grupos dominantes por outros sem mudar o valor fundamental que é a segurança. Uma humanidade livre é uma humanidade que se deixa interpelar por todas as pessoas que não lhe oferecem nenhum interesse, nenhum valor, que não oferecem nenhum poder novo, nenhuma garantia, mas apenas riscos e ameaças de perturbação".
Trechos extraídos do livro "A Ação Cristã", publicado pela Editora Paulus.

MACBETH: UM ESTUDO SOBRE O MAL

Há muitos anos, sou fã do dramaturgo inglês William Shakespeare. Em sua obra, admiro os temas abordados: amor, ambição e ciúme, por exemplo. E também adoro a forma como ele os trata, com palavras inesquecíveis, que ficam gravadas na mente.

Entre os trabalhos de Shakespeare que admiro, está em destaque a tragédia Macbeth, escrita provavelmente entre 1603 e 1607. Nesta peça, temos um estudo sobre o mal que se esconde no coração humano.


A história é razoavelmente simples: depois de uma batalha contra rebeldes, os generais (thanes) Macbeth E Banquo estão retornando à corte de Duncan, rei da Escócia.

No meio do caminho, durante a noite, ambos encontram três bruxas, provavelmente a Hecatae das lendas gregas. As bruxas, então, saúdam o general vitorioso: "Salve, Macbeth, thane de Glamis!", diz a primeira mulher. "Salve, Macbeth, thane de Cawdor", grita a segunda. "Salve, Macbeth, rei da Escócia", completa a última das bruxas. 
Segundo Shakespeare, na época haviam três generais (thanes), que obedeciam a uma ordem hierárquica. Macbeth, como Thane de Glamis, estaria em uma posição intermediária. Acima dele, hierarquicamente, estariam o Thane de Cawdor e o Rei. 

O general Macbeth, que havia retornado de um massacre de camponeses rebeldes, entende a saudação das bruxas como uma premonição de seu futuro. Um dia, ele será Rei. 

Logo em seguida, como que a confirmar as palavras das bruxas, Macbeth é informado de que foi promovido a Thane de Cawdor, uma vez que o nobre que ocupava este posto havia sido preso por traição e executado. 

E isso basta. A partir desse encontro com as três entidades, a mente de Macbeth passa a ser comandada por essa obsessão. Ele se tornará Rei da Escócia um dia, afinal. Este é seu destino.

 Orson Welles como Macbeth

Com suas ambições alimentadas por sua esposa, Lady Macbeth, o general, por fim, assassina o Rei Duncan, seu primo, enquanto este pernoitava em sua casa. A profecia das três bruxas se realiza.

Mas Macbeth, agora Rei da Escócia, não se sente seguro em sua nova posição. Tomado de desconfiança, assassina Banquo, seu amigo, por este saber do encontro com as bruxas. 

Macbeth, depois de assassinar Duncan. 
Cena de Trono de Sangue, de Antunes Filho, com Luis Mello.

E Macbeth continua inseguro, o que resulta em um banho de sangue. E vemos o rei , e antes, sua esposa, serem devorados pela culpa que sentem pelos seus crimes, até o seu final trágico.

Macbeth, a peça, mostra como um homem normal, o general Macbeth pode ser corrompido por uma simples sugestão. E que, uma vez aceita a "necessidade" de se cometer um ato hediondo - no caso, o assassinato de Duncan - o mal se aloja em seu coração definitivamente. 

Gosto dessa interpretação dessa peça de Shakespeare. Macbeth é um estudo literário sobre os mecanismos do mal, sobre a forma como o mal atua em nossas mentes e corações, até nos transformar em pessoas completamente diferentes. 
No caso do general, que, aparentemente, até o primeiro encontro com as bruxas, era um homem razoavelmente decente, bastou uma sugestão para que ele se corrompesse. 

E a peça mostra até que ponto - a que distância - essa corrupção pode chegar.

Para mais informações a repeito da peça, visite http://pt.wikipedia.org/wiki/Macbeth
Graça, Paz e Bem!

domingo, 27 de março de 2011

UM NAZISTA EM ATIBAIA (SP)

Depois do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as potências vencedoras do conflito - EUA, Inglaterra e a ex-URSS - começaram uma nova batalha: caçar, identificar e punir oficiais nazistas envolvidos no massacre de mais de seis milhões de judeus na Europa. Estima-se que a guerra tenha custado mais de 45 milhões de mortes.  

Para escapar da prisão e da provável execução, vários militares alemães emigraram para outros países fora da Europa, onde viveram com nomes falsos. Para o Brasil, provavelmente com o apoio do governo Dutra, um provável simpatizante do nazi-fascismo, fugiram homens como Gustav Franz Wagner, Josef Mengele e Franz Stangl. 

Esses são os conhecidos.

Gustav Franz Wagner, nascido em Viena (Áustria), em 1910,  foi  integrante da Schutzstaffel, ou apenas SS, nazista, e ficou famoso como comandante do campo de concentração de Sobibor, na Polônia, onde morreram 250 mil judeus. Ele era conhecido como "A Besta". 

 Gustav Wagner, "A Besta"

Por sua entusiasmada participação no extermínio de civis desarmados, ato que requer grande coragem, como sabemos, Wagner recebeu a condecoração Cruz de Ferro do regime nazista. Mas, com a derrota alemã na guerra, foi condenado à morte in absentia (apesar de sua ausência), no Julgamento de Nuremberg. 

 Prisioneiros judeus em Sobibor (Polônia)

Mas, a esta altura do campeonato, Wagner, agora conhecido como Gunther Mendel, já criava animais e hortaliças em um pequeno sítio nos arredores de Atibaia, na Grande São Paulo. Ele tinha recebido um visto de residência permanente no Brasil em 12 de abril de 1950. 

 Wagner, já idoso, quando morava em Atibaia (SP)

Wagner, ou Mendel, foi preso pelo Departamento de Ordem Política e Social (Deops) de São Paulo,  durante as investigações sobre uma festa em homenagem a Hitler, da qual teria participado. Depois disso, ele foi reconhecido por sobreviventes de Sobibor. 

Importante ressaltar que o Deops era a polícia política da ditadura militar brasileira e que, em seus porões, centenas de estudantes, trabalhadores, religiosos e membros da luta armada anti-ditadura foram torturados e mortos sem piedade. 

Apesar de Wagner ter sido reconhecido como um dos carniceiros alemães, o governo brasileiro terminantemente se recusou a extradita-lo, apesar das solicitações de Israel, Áustria e da então Alemanha Ocidental. 

Aparentemnte, nós gostamos de torturadores e assassinos em massa.

Em 1980, dois anos depois de ter sido reconhecido por sobreviventes de Sobibor como comandante do campo, Wagner cometeu suicídio.

Em entrevista à rádio BBC inglesa, em 1979, Wagner, quando perguntado sobre se sentia remorsos pelos seus atos - o gerenciamento administrativo do extermínio de 250 mil pessoas - afirmou: "Eu não tinha sentimentos. Aquilo virou apenas outro trabalho. À noite (no campo), nós nunca discutíamos o nosso trabalho. Nós só bebíamos e jogávamos cartas".  

Texto esxrito com informações da revista Época e do website Wikipedia.

sábado, 26 de março de 2011

CAIO FÁBIO FALA SOBRE SEXO

A presente entrevista foi publicada numa revista destinada ao público punk.
Segue na íntegra.
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-----Original Message-----
From: Silas Fiorotti
Sent: quarta-feira, 15 de outubro de 2003 15:37
To: caio fabio
Subject: ENTREVISTA COM CAIO FÁBIO


Olá, rev. Caio Fábio!

Fico muito agradecido por sua atenção. Segue abaixo as perguntas da entrevista.
Lembro o senhor que esta edição do Fanzine vai falar sobre sexo, e caso tenha alguma colaboração extra, pode enviar que será muito útil.

Um forte abraço e que Deus abençoe!

Silas
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ENTREVISTA COM CAIO FÁBIO SOBRE SEXO:

1) Esta edição do Fanzine fala sobre sexo, então é inevitável fazer algumas perguntas. Qual a função do sexo? E qual o lugar que ele deve ocupar em nossas vidas, e que importância ele tem pra nós?

R: Sexo é a expressão da vida como prazer e sabor. É o ápice da capacidade de sentir, trocar e experimentar todos os sentidos em plenitude. Sexo é bem mais que as pessoas imaginam. É mais que a penetração e as trocas físicas. Pouca gente sabe o que é a experiência sexual em plenitude. A objetização do ato quase sempre impede a viagem ao êxtase e à plenitude do prazer. O mergulho nas águas profundas dessa experiência demanda mais do que corpo. Demanda alma e espírito desinibidos e livres.
Sem profunda intimidade e espiritualidade, nunca haverá êxtase no sexo., mas apenas, no máximo, orgasmo.
O sexo mexe com a essência humana, por isso sua objetização nos dissolve e sua supressão nos achata.
Sexo é parte essencial da vida e do crescimento humano de qualquer pessoa saudável. As exceções existem. São os seres celibatários. Tais exceções, não tendo sido estabelecidas pela repressão, devem ser tratadas como vocações a serem respeitadas, desde que haja voluntariedade e espontaneidade.

2) O senhor foi um dos primeiros evangélicos a falar sobre sexo em seus livros, e com uma linguagem acessível e próxima dos jovens cristãos, e sem ser doutrinária. A igreja evangélica tem se mantido como uma instituição extremamente repressora e vem colhendo muitos frutos contrários aos esperados. Por que os líderes evangélicos (você também se encaixa nisso), não contam suas experiências, percalços e frustrações na adolescência e juventude, e contextualizam a função do sexo para os nossos dias, ao invés de recorrerem a correlações diretas com passagens bíblicas que diziam respeito a sociedade judaica de no mínimo 20 séculos atrás?

R: Meu primeiro livro sobre o tema foi infantil. Foi escrito aos 22 anos de idade e após o "trauma da conversão". Como “antes” eu poderia ser incluído na categoria dos "dissolutos"—minha atividade sexual começou muito precocemente—, com a conversão fiz um movimento inconscientemente pendular. Fui para o pólo oposto. Então saiu um livro meu que eu não recomendo para ninguém, chamado "Abrindo o Jogo Sobre o Namoro". Aquele é um livro que deve ser lido ao contrário: quase tudo o que digo que não pode é justamente aquilo que a "conversão" fizera supressão em mim. Assim, minhas "proibições pessoais" viraram cartilha. Em três anos no máximo eu estava querendo tirar o livro do "mercado". Ele não condizia nem com a Bíblia e nem a condição humana. Depois disso, entretanto, fiz palestras que viraram livros, e que são infinitamente mais próximos do mundo real. Mas tudo foi um processo. Sexo é tema de neurose no ocidente, e na comunidade evangélica ele atinge o clímax de sua expressão como enfermidade.
Eu perdi a virgindade com cinco anos de idade. Minha babá de 13 anos fez o serviço. Daí eu ter crescido sem nunca dissociar a mim mesmo da experiência sexual. O que acontece aos meninos aí pelos 15 ou 16 anos já estava instalado em mim desde sempre. O mais está contado em meu livro "Confissões de um Pastor". Não posso ser acusado de "falta de contextualização" na minha abordagem sobre sexo e sexualidade desde os 25 anos de idade. E, no meu site, o www.caiofabio.net, tais expressões de "contextualização" atingiram sua plenitude até aqui. Quanto aos "frutos" que a igreja evangélica está colhendo, só posso dizer que são coerentes com a lógica da doença que nela se instalou: quanto mais reprimido for o consciente, mais tarado e adoecido será o inconsciente. A igreja evangélica é o “ente social” sexualmente mais enfermo que eu conheço no Brasil.

3) Promiscuidade sexual, relações homossexuais, com animais, objetos, masturbação, enfim; até onde o uso do corpo é normal e sadio, e segundo o padrão de quem?

R: Sobre esses temas eu recomendo uma visita ao meu site, especialmente à seção de Cartas. Lá trato de tudo, e do mais aberto possível, respeitando os limites da mídia em questão, a Internet. Lá só não publico minhas respostas às questões mais cruentas, como é o caso, por exemplo, de pessoas com a fixação em relacionamento com animais. E também poupo as pessoas das respostas sobre os “fetiches” sexuais.
Os limites para o corpo estão estabelecidos não nele mesmo, mas na alma. O corpo aceita quase tudo. A alma não.
Desde o Éden que a mente humana cogita a possibilidade de encontro com animais. Foi Adão quem percebeu a "impossibilidade" de que isso gerasse algo sadio, e também à sua própria altura—conforme o Gênesis, e antes mesmo da Queda.
É interessante que na narrativa bíblica da criação,a mulher vem como resultado do homem não ter encontrado um par que lhe servisse. E não encontrou, sobretudo, porque no sexo há mais que possibilidade de acoplagem de pedaços do corpo. Tem que haver encontro de seres, de almas, de imaterialidades. Violar esse valor trás dês-construção para qualquer alma humana. Pecado é escolher, conscientemente, a doença como modo de viver.
Mas quando mecanismos de "bestialidade", por exemplo, se instalam numa pessoa, nada ajudará tal individuo a sair desse buraco se não for justamente o oposto dele; ou seja: a total dês-tensão, que é o que desmobiliza a compulsão, a tara. Tenho casos de pessoas que buscavam animais para ter relações sexuais—gente de igreja e líderes—, e que só ficaram livres da compulsão depois que foram ajudadas a ver que aquilo não era moral, era psicológico. E que o "pecado" não é contra Deus, é contra elas mesmas.
A noção de pecado só ajuda um ser humano em duas perspectivas: quando ele consegue enxergar aquilo contra ele mesmo e como doença; e, sobretudo, quando ele fica sabendo que pode ter paz para caminhar até entrar na Paz em relação à questão. Ou seja: quando você tira a Lei e apresenta a Graça à pessoa, e ela descansa. Ora, tal descanso não dilui o ser, mas ao contrario, o fortalece para tratar a si mesmo sem os rigores da condenação do inferno, que quando presentes drenam toda sua energia para a construção do que seja bom.
Só então o indivíduo caminha para a pacificação e para a saúde. Nunca a repressão fará uma alma melhor. Somente a consciência descansada promove essa elevação.

4) As campanhas falam para usarmos camisinha , para evitarmos as dst´s. Até onde essas campanhas seriam verdadeiras, e o que deveria ser feito sobre o assunto?

R: As campanhas são importantes. A "igreja" não fala do assunto porque parte de uma lógica farisaica. Ele entende que falar significa estimular. Então, a fim de manter o "moralismo" não ajuda a impedir males bem maiores, e que atentam contra a vida. É o tal do "coem o mosquito e engolem o camelo", acerca do qual Jesus falou. Nosso mundo não é ideal. É apenas real. E enquanto a "igreja" não parar de falar de um mundo que não existe na terra, ela vai estar apenas sendo a mais terrível e desumana participante dos processos que trabalham contra a realidade e a vida. A omissão da "igreja", sempre presa à sua própria imagem, é o pior ídolo que é cultuado dentro dela mesma. A "igreja" cultua a si mesma: sua imagem e sua própria arrogância como "representante" de Deus. Jesus é apenas o pretexto para o culto de si mesma e para o rigor ascético da "igreja". Ele diz glorificar a Jesus, mas não se dá conta de Ele é um estranho para ela, e que se entrasse porta à dentro sem dizer que era Ele mesmo, seria expulso logo a seguir.

5) Muitos cristãos defendem a teoria de que todo casal deve gerar pelo menos um filho para multiplicação da descendência. Essa interpretação das Escrituras já não estaria ultrapassada para os nossos dias, principalmente pela superpovoação do planeta e pela condição sócio-econômica de muitos casais; sem falar na miséria? Não seria muito mais justo a adoção, já que a descendência hoje não implica ter o mesmo sangue?

R: Ora, essa é uma idiotice "católica". Nesse sentido os "evangélicos" são menos neuróticos. Pessoalmente esta sempre foi a minha tese. Gênesis 2: 24-25 nos diz que homem e mulher deixam pai e mãe, se unem, e tornam-se uma só carne. Isto é casamento. O "crescei e multiplicai" foi falado numa terra onde não havia humanos. Nos dias de hoje seria: "Gerai responsavelmente, e adotai generosamente". Eu tenho uma filha adotada. E sei que não existe diferença. O sangue é menos que um detalhe.

6) O senhor teve um caso extraconjugal que lhe rendeu a exclusão do rol dos grandes líderes evangélicos. Eles não mereciam você e escolheram você como um bode expiatório, ou você se entregou para o sacrifício?

R: Eu não tive um caso extraconjugal. Tive um relacionamento conjugal. Meu "casamento formal", aos 19 anos, foi muito mais um caso "extra-conjugal" que o "acontecido", e que "escandalizou" a tantos. Veja como uma coisa é a “aparência” e outra é a “verdade do coração”. Quanto ao "bode" ou ao "cordeiro"—qualquer deles vão para o "sacrifício". Creio que fui um pouco de ambos.
De um lado o "bode" carregou a projeção das doenças e sombras de uma comunidade que fala de luz, mas prefere as trevas; fala de verdade, mas prefere a mentira; fala, mas vive de "imagem".
De outro lado, houve a opção de não deixar a minha vida presa ao circo das imagens, ao presépio das falsidades e das farsas. Ninguém me flagrou fazendo nada. Eu contei. E, pela misericórdia de Deus, sobrevivi até aqui às conseqüências. Mas não há nenhuma "messianidade" no meu ato. O fiz por mim mesmo. Não pedia a Deus que aquele fosse um ato "vicário", e nem tampouco o fiz num acesso de altruísmo, visando abrir caminho para milhões que vivem no jugo da mentira. O que vem acontecendo depois, com milhares e milhares de pessoas me procurando para "abrirem" o coração, é pura continuidade da Graça de Deus. Mas não foi premeditado por mim. Quanto ao "rol dos grandes lideres", nunca estive lá por conta própria. Fui e sou um caso de tirania da Graça de Deus. Passei a vida falando as coisas que aqui digo, e quanto mais as digo, as faço e as falo, mas sou ouvido. Até os meus "inimigos" sabem que o que estou dizendo corresponde à realidade. Eles não gostam apenas porque fazem parte dessa "coisa", não porque possam contestá-la, ou dizer que estou exagerando.

7) Depois de ter seu nome envolvido num escândalo político que denegriu sua imagem, qual a lição que você tirou de tudo isso? E o que você diria pra quem está começando um trabalho social hoje e se vê obrigado a lidar com burocracia e política?

R: Nunca confie em nenhum político. Nem nos melhores. E, especialmente, nos mais ideológicos. Esses são os que mais cultuam as suas próprias imagens, e o deus deles pode se camuflar com as roupagens da "ética"; mas, ainda assim, não passa de culto à imagem. Nesse caso sim, mesmo reconhecendo que um homem com minha consciência não poderia ter si permitido ir até onde me foi insistentemente solicitado, sei que a responsabilidade pelo "desfecho" foi de "alguns amigos", políticos, e que me atormentaram durante meses insistindo em que eu "apurasse" para eles a história. No final fiquei sozinho, e tenho poupado o nome deles até hoje. E por que? Porque aprendi que antes de ser cristão o sujeito tem que aprender a ser homem, e também que cada um faça na vida as suas próprias retratações. As minhas estão feitas. As deles, Deus sabe, ainda estão todas por serem feitas.

8) Valeu pela entrevista e que Deus continue te abençoando. Fale o que quiser.

R: Gostaria que quem quer que deseje aprofundar esses temas e muitos outros, visitasse o meu site www.caiofabio.net. Temos tido um quantidade assombrosa e espontânea de visitações, e há um processo novo sendo deflagrado à partir dele.

Caio

sexta-feira, 25 de março de 2011

MAIS DO MESMO

A inevitável verdade de que fiquei mais velho - e sigo envelhecendo devagar, um segundo por vez - não parece assim tão assustadora. 

Na verdade, eu me prefiro assim, modelo 2011, do que, por exemplo, a versão de 2009. Sem papas na língua, dois anos atrás, eu estava um caco. 

Alguns poucos amigos se lembram disso e, como são bons amigos, não comentam nada sobre isso.

"Nossa, Thiagão! Você está com uma energia boa!", alguns amigos, e amigas, mais espiritualistas, arriscam, de vez em quando. 

Mas, eu decidi me importar com as coisas que realmente fazem diferença de um tempo pra cá.

E, sim, isso é bom!

Graça, Paz & Bem!

quinta-feira, 24 de março de 2011

35 ANOS DEPOIS

Hoje é meu aniversário de 35 anos. Ou seja, nasci em 24 de março de 1976, por volta das 10 horas da manhã, em Santos. 

Não sei se chovia ou fazia sol. E pouco importa. Hoje faz sol. Na verdade, eu acho que vai fazer sol, porque são seis horas da manhã e ainda não amanheceu; o sol apenas se insinua, por enquanto.

Eu gostaria muito de escrever algo profundo e comovente. Ou, que eu pudesse, como Júlio César, o primeiro a tentar construir o Império Romano - tarefa que coube ao seu afilhado, Augustus, afirmar algo como: Vini, Vidi, Vici! (Vim, Vi e Venci, em latim). 

Mas não posso. E não sei se vou poder, algum dia. 

Ao contrário, eu digo, como Bob Marley, um dos meus heróis pessoais: "Lord, I gotta keep on movin". 

Sim, eu tenho de continuar me movendo... Seja pra fente, pra trás, ou em círculos... Mas tenho de continuar me movendo, mesmo quando chega aquela vontade imensa de ficar quieto, em silêncio. 

Dizem que devemos contar nossas bençãos - e agradecer a Deus por elas -  todos os dias, especialmente no dia de nosso aniversário. 

Um coração agradecido é um coração saudável.

Eu tenho as bençãos públicas, coisas sobre as quais eu posso falar e escrever; mas tenho também algumas bençãos particulares, que devem ser mencionadas em solidão, ou para uma ou duas pessoas especiais.

Assim, eu não tenho muito a escrever neste aniversário. Sou um projeto ambulante. E isso é bom...

Ah, sim! Eu estava certo: o sol saiu.

Paz e Bem!

segunda-feira, 21 de março de 2011

domingo, 20 de março de 2011

SE PUDER, LEIA COM OLHOS AMOROSOS

Hoje, pela manhã - na verdade, desde ontem, para ser honesto - eu resolvi romper um relacionamento. 

Os motivos para o rompimento, mesmo que pessoais, podem ser resumidos a uma simples frase: eu não posso e não vou esperar por algo que parece que não vai acontecer.

Ou seja, no fundo, no fundo, o problema tem a ver com a minha impaciência e essa mania de querer ver tudo resolvido assim que possível.

Infelizmente, resoluções nem sempre dependem só de nós. 

Uma nota pessoal: Sei que você lê este blog e sei que você sabe sobre o que estou falando. E eu sinto muito.

Por outro lado, existe uma chance mínima de que a minha impaciência - se vista com olhos carinhosos - possa lhe motivar a fazer algo que, espero, você queira fazer.

Ou não...

Quem sabe, um dia?

Ainda assim, com todo o carinho, Paz e Bem!

A CONVERSÃO DE SAULO

A conversão de Saulo, segundo Michelangelo Caravaggio, pintor italiano do século XVI.

Saulo, mais tarde conhecido como o apóstolo cristão Paulo, era um judeu, da seita dos Fariseus, responsável pela caça e extermínio dos cristãos, que, em sua opinião, eram uma "seita malévola". 

Quando se encaminhava à cidade de Damasco, Saulo foi cegado por uma visão de Jesus - "Saulo, por que me persegues", Ele teria dito - e sua vida nunca mais foi a mesma. 

Eu acredito nessa história, pois ela é improvável. Ou, melhor dizendo, se não tivesse acontecido - e sabemos que a existência de Paulo, como personagem histórico, é inegável - seria impossível simplesmente inventá-la.

Paz e Bem!

sábado, 19 de março de 2011

DO JORNAL AGORA: EDUCAÇÃO TUCANA EM SP

Piora o desempenho de estudantes em português

Caio do Valle

do Agora; matéria publicada em 19 de março de 2011.

Piorou o desempenho dos alunos do 3º ano do ensino médio da rede estadual em língua portuguesa no ano passado, mostram os resultados do Saresp (avaliação do governo estadual) divulgados ontem pela Secretaria de Estado da Educação. 

 Serra durante a greve dos professores. Ele é do Bem!

No comparativo com 2009, a queda foi de 8,9 pontos, passando de 274,6 para 265,7 --a avaliação vai de 0 a 500. Estudantes do 9º ano do ensino fundamental também apresentaram recuo na disciplina: a pontuação deles caiu de 236,3 para 229,2 pontos. 

A tendência de retração nos índices é verificada em quatro das seis pontuações divulgadas pelo governo. 

Além disso, no caso dos estudantes do 3º ano do ensino médio, cresceu o percentual dos que tiveram desempenho considerado "insuficiente" em conhecimentos de português --os que estão nesse nível subiram de 29,5% há dois anos para 37,9% agora.

E, NO CHILE...

DESSERVIÇO PÚBLICO

 A nova cédula vigente na cidade de São Paulo. 
Ela visa facilitar a exploração do povo pelo transporte "público".

DEUS E O DINHEIRO

A proposta deste texto é oferecer algumas considerações sobre as relações entre a Espiritualidade - entendida como um exercício constante em busca de Deus - e o Dinheiro, aqui, visto como o apego ao conforto material, e a consequente busca por acumulação de bens e posses. 

 
Mesmo que esta postagem não tenha como objetivo mais do que oferecer algumas ideiais iniciais sobre o tema, e isso de forma absolutamente despretensiosa, tendo como base apenas reflexões pessoais, sobre as quais eu sou inteiramente responsável, seria interessante o autor se posicionar a respeito. Logo, é o que vou fazer agora.

Minha opinião, estritamente pessoal, tem como base duas premissas. 

A primeira: o dinheiro é malévolo por sua própria natureza. 

E, a segunda: entretanto, apesar disso, não é possível viver sem dinheiro na atual sociedade, em que somos obrigados a sobreviver. 

A primeira premissa é uma afirmação categórica que, neste momento, com base em minha experiência pessoal, não permite contradições.
O dinheiro é malévolo.

Essa premissa contradiz a noção, tão comum hoje em dia, de que as coisas - dinheiro, sexo e distrações, por exemplo - não são ruins em si mesmas, mas o que pode ser pernicioso ou prejudicial seria o uso que se faz delas. 

Infelizmente, essa noção de que o dinheiro pode ser algo bom, dependendo de como dele fazemos uso, penetrou nas mentes e corações de todos. Até mesmo das igrejas "cristãs".
Entretanto, Jesus Cristo, cujos ensinamentos deveriam ser a espinha dorsal de qualquer grupo que se defina como "cristão", afirmou:
"Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem traça nem ferrugem corroem e onde ladrões não minam nem roubam: Para onde está o teu tesouro, aí estará o seu coração também.
Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas". 
(Evangelho de Mateus 6:19-21,24)
O texto citado, que reproduz um discurso de Jesus - e que pode ser encontrado, com pequenas modificações no Evangelho de Lucas, Capítulo 16, Versículo 13 - não permite dúvidas ou interpretações divergentes, por mais que se queira torçer o que o Cristo disse para justificar os nossos pecadinhos.

 O demônio Mamon, segundo o ocultista francês Cllin de Plancy (Século XIX)

Segundo o Wikipedia: Mamon é um termo, derivado da Bíblia, usado para descrever riqueza material ou cobiça, na maioria das vezes, mas nem sempre, personificado como uma divindade. A própria palavra é uma transliteração da palavra hebraica "Mamom" (מָמוֹן), que significa literalmente "dinheiro". Como ser, Mammon representa o terceiro pecado, a Ganância ou Avareza, também é um dos sete princípes do Inferno. Sua aparência é normalmente relacionada a um nobre de aparência deformada, que carrega um grande saco de moedas de ouro, e "suborna" os humanos para obter suas almas. Em outros casos é visto com uma espécie de passáro negro (semelhante ao Abutre), porém com dentes capazes de estraçalhar as almas humanas que comprara.

Ou seja, em sua fala, Jesus identifica o Dinheiro a partir de uma associação com Mamon, um demônio. 

E, o mais importante: para Jesus, o Dinheiro não se parece com Mamon; o Dinheiro não tem características semelhantes ao tal demônio. 

O Dinheiro é Mamon. 

O caráter diabólico, perverso, do Dinheiro pode ser claramente visto no dia a dia, quando passamos por mendigos na rua, quando vemos crianças morrendo de fome, quando nos horrorizamos com guerras, torturas e massacres. Ou trabalhadores escravizados a uma rotina desumana de trabalho, que os transforma em máquinas movidas a pornografia, anti-depressivos, álcool e drogas.

Tudo isso são ofertas ao Deus-Dinheiro. Nós somos o sacrifício.


Mas, apesar do caráter perverso do Dinheiro, tente viver sem ele nessa sociedade! 

Enquanto formos governados pela ideia de que todas as coisas do mundo precisam ser trocadas, enquanto todas as nossas necessidades forem mercadoria, não haverá muita escapatória, infelizmente. 

Ainda assim, Paz e Bem!

sexta-feira, 18 de março de 2011

LA SUPERLUNA



Nos próximos dias, a lua chegará mais perto da Terra, permitindo aos astrônomos - profissionais e amadores - uma melhor visão do astro.

Hoje, sábado, será o dia em que a Lua estará mais perto do planeta. A última vez em que ocorreu o fenômeno - batizado de "Superlua" pelos cientistas - foi em março de 1993.

Esta foto foi tirada por minha amiga Meiry, da Espanha, na cidade de Tordera, nas proximidades de Barcelona.

Paz e Bem!

CAIO FÁBIO: NADA SABENDO, MAS ENTENDENDO TUDO!

NADA SABENDO, MAS ENTENDENDO TUDO!

Caio Fábio

Jesus disse que a revelação do Pai acerca do Reino de Deus, era dada aos pequeninos, aos simples, aos ensináveis na pureza, aos capazes da emoção, aos sem deuses na alma, aos que buscam a paz, aos que não se vergam ante a perseguição, e nem temem a justiça injusta, pois, preferem ser os marginais da vida, a estarem num centro de poder que seja poder da morte, ou daquilo que faz matar a alma daquele que o pratica.

Então Ele diz que os sábios, os entendidos, os escribas, os senhores do saber; tanto religioso, quanto ético, estético, filosófico, político; ou ainda que seja uma suprema inteligência; justamente por tais poderes, a maioria não O conheceu; pois creram tanto no saber que aprende, que se deixaram apreender no aprender, e por isso não conheceram o tipo de saber que só conhecem os humildes; pois deram tanta importância aos seus próprios pensamentos e lógicas, que não se entregaram às asas do imponderável; pois eram tão conscientes do que era justo, que não perceberam que a justiça é singular, e não se deixa produzir em série; pois eram tão ávidos de conhecimento que vieram a esquecer da Fonte de Todo Saber; pois julgaram tanto que eram elevados pela via da elevação de seus próprios valores e interesses, que perderam o simples valor de ser, que é amar.

Assim...

Bem-aventurado seja todo aquele que aprenda sem saber; que cresça sem parar; que pare sem ficar; que trabalhe no descansar; que descanse no seu trabalhar; que faça a paz em seu andar; que perdoe sem se vangloriar; que vença sem declarar; que se levante sem em ninguém pisar; que faça orações que só o Pai conheça; que dê ofertas e faça favores que fiquem ocultos até de sua própria memória auto-meritória; e que veja a Deus em cada carinha humana da Terra; bem como em todos os seres vivos; e em toda a criação.

Amém!

CAIO FÁBIO: GÊNESIS E APOCALIPSE

O GÊNESIS DO APOCALIPSE

Caio Fábio

Gênesis e Apocalipse se parecem muito, pois, tanto o principio quanto o fim, mostram as mesmas coisas, apenas em escalas diferentes.
Deus não tem que fazer nada para julgar o mundo. Ele criou todas as coisas como Natureza; ou seja: como aquilo que é um sistema de auto-renovação, e evolução em total adaptabilidade. Portanto, aquilo que como natureza é vida, também pode ser morte e auto-extinção; pois, se caminha sem intervenções conscientes, vai sempre na direção da adaptação e da reinvenção de si mesma; todavia, quando sofre intervenções conscientes, como a dos humanos, o ciclo natural se quebra, e a natureza desvanece sob nossas vaidades contra ela.
E mais: ela se torna mutante contra nós: nascem cardos e abrolhos; e os partos se enchem de dores, o mundo se complexifica com roupas e coberturas, e o trabalho exaustivo de lavrar a terra com o suor do rosto, acabou por, no curso dos milênios, gerando o quadro anti-natural que hoje se vê.
O fato é que homem e natureza não conseguem se entender; ou melhor: o homem, de um modo geral, nunca enxergou, discerniu ou compreendeu sua dependência fundamental daquilo que se chama Natureza.
Na realidade, é que a capacidade de vê-la “de fora” — que é o que acontece com o homem —, dá a ele a falsa idéia de que como ele a enxerga, ele não faz parte dela. Como se natureza fosse apenas a parte da criação que não manifesta consciência própria.
De fato, a Natureza não tem consciência individual. Todavia, o sistema natural carrega um poder vital inconsciente; o qual, como sistema, é capaz tanto de acolher a harmonia, quanto também tem o poder de abalar, numa revolta que cresce na medida do agravo que contra ela é perpetrado.
No Gênesis é o encontro do homem com uma Natureza Proibida aquilo que o faz cair. Deus não fez nada. Foi a Natureza das coisas — “nossa” e da “natureza” —, aquilo que aconteceu como ira de Deus que julgou os homens; isso pela violação da Natureza Proibida. Assim, foi o homem quem criou sua própria queda, quando decidiu entrar na Natureza Proibida.
Poder comer de tudo, “menos de uma Árvore”, que era de Conhecimento do Bem e do Mal, era poder perceber que há um limite do homem na própria Natureza.
O mais foi desconstrução espiritual e psicológica que a invasão, pelo homem, da Natureza Proibida, gerou tanto na Natureza quanto no próprio homem. Pois, na mente, a Natureza das coisas é que a mente seja governada pela própria natureza da mente. E está é, mais que tudo, psicológica.
Dessa forma, a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal não existia como tal fora do homem, mas apenas na natureza de sua própria mente.
Nesse sentido, pode-se dizer, que nós fazemos sempre, como seres que existem da e na Natureza, aquilo que será nossa própria morte e juízo, sempre que em nossa natureza mental deixamos de obedecer nossos limites na Natureza.
No Apocalipse é assim também. A natureza faz todo o trabalho de juízo conforme o padrão contra ela praticado, apenas porque não sendo ela mesma e sem intervenções anti-naturais (coisa que somente o homem consegue realizar), sua natureza, nesse caso, é se desconstruir; posto que sua harmonia é em si tão grande, que todas as alterações que nela são feitas, acabam por se transformar numa espécie de desígnio do caos.
“Os poderes são abalados!”
No Apocalipse, a maior parte dos juízos são naturais; e são revoltas dos céus agindo na natureza aquilo que carrega a “ira do Cordeiro”. Daí o Apocalipse ser todo marcado por catástrofes naturais no ar, no mar, nos rios, na vegetação, e mediante catástrofes que sacodem a Terra de seu eixo.
De fato três são as denuncias do Apocalipse: contra os que não adoram ao Cordeiro (antes se entregam aos domínios das Bestas humanas e seus sistemas de domínio e morte), contra os que escravizam e manipulam a alma dos homens, e contra os que destroem a Terra.
O fato é que a “ira do Cordeiro” apenas deixa que os “anjos da natureza” (dos rios, dos mares, do ar, e das vegetações—todas essas menções feitas no próprio texto do Apocalipse), potencializem aquilo que sistematicamente os humanos praticam contra a Natureza; ou, no dizer bíblico mais comum, contra a criação.
Assim, no começo, a desgraça se deflagra a partir da invasão humana da Natureza Proibida. E, no final, é uma espécie de revolta sistêmica e ecológica aquilo que carrega o juízo do Cordeiro sobre a raça humana.
Foi a invasão da Natureza Proibida aquilo que tirou do homem toda a capacidade de ser parte da natureza, posto que uma vez que ele comeu da Natureza Proibida, ele foi tomado pelo surto de, como Deus, não ser parte da Natureza; e, assim, a violentou “de fora”, esquecido de que ele é Natureza também, e depende dela para ser quem é na Terra.
Desse modo, a presente devastação é apenas a manifestação com cara apocalíptica do estender de mão que um dia comeu e interviu na Natureza Proibida.
O tal Conhecimento do Bem e do Mal foi o que nos desconectou do sentido natural da vida.
Desse modo, o comer de uma árvore foi o que nos levou a destruir quase todas elas; assim como foi a invasão da Natureza Proibida aquilo que hoje nos volta como Veto da Natureza contra a presença humana na Terra.
A Natureza está gemendo. Fenômenos como o Tsunami e o Katrina, são apenas os primeiros espasmos de um parto que a Natureza não sabe como evitar, pois, esse filho ela quer abortar.
Jesus chamou isto de “principio das dores”. E, sem dúvida, não havendo um arrependimento em relação a Deus, ao que o homem faz ao homem, e quanto ao que ele mesmo faz à Natureza, o resultado inevitável, sem mão divina, mas apenas como conseqüência do homem ser como ele é —, é o próprio juízo que hoje já todos vislumbram.

quinta-feira, 17 de março de 2011

ESSAS POUCAS LINHAS DE HOJE...

Não, anjo!
Hoje, você não vai encontrar nada de novo por aqui; estou cansado, estou calado.
Só umas poucas linhas, curtas e breves, que inevitavelmente eu dedico a você.
"Estou calado"...Não é bem verdade, né?
Para ser honesto, tento até mesmo não falar demais.
Como posso estar calado se penso em você todos os dias, muitas das minhas horas?
Compro um livro pensando em você; escrevo algumas linhas pensando no que você vai achar. Se vai gostar, acabo deixando como está...
Se penso que não, apago e lembro de você de novo, até a inspiração chegar.
As palavras, minhas poucas linhas, são sobre você. Saudade do que tivemos, andamos e dormimos. Saudades do que ainda vamos fazer.
Mesmo longe, mesmo complicada, mesmo difícil, não me parece impossível!
E você?
Será que você...

Paz & Bem!

DA CARTA MAIOR: EMIR SADER E O ANTICOMUNISMO DAS ELITES

O espectro Lula

Emir Sader, na Carta Maior

O anticomunismo é o ultimo refúgio das elites brasileiras em pânico. Cada vez que vêem seus interesses e seus privilégios em perigo, apelam para o expediente do “espectro do comunismo”. Foi em seu nome que se fizeram as piores coisas na história brasileira, incluído o golpe de 1964, perpetrado pelo suposto risco que o comunismo traria para a democracia, para instaurar a pior ditadura que o Brasil já conheceu.

Por que se apela de novo para o “espectro do comunismo”? Porque essas mesmas elites passaram do desespero ao desalento, ao verem seus candidatos serem derrotados pela terceira vez em seguida e se darem conta que o país – que sempre consideraram deles – escapar entre seus dedos.

O fantasma que assusta as elites dominantes se chama Lula. Conseguiram contorná-lo por muito tempo, até que o fracasso do presidente dos seus sonhos – FHC – acabou abrindo espaço para que Lula fosse eleito, em 2002.

Lula começou sob os olhares confiantes dos que consideravam que ele não seria capaz de controlar uma herança econômica de depressão profunda e prolongada, além de descontrole inflacionário, endividamento alto, déficits da balança comercial e de pagamentos, reservas baixas e cartas de compromisso assinadas com o FMI que comprometiam a soberania nacional e a possibilidade de fortalecer o Estado e desenvolver politicas sociais.

Em seguida, quando se deram contra das precauções com que o Lula assumia, passaram a atacá-lo por supostamente tomar de assalto o aparelho de Estado pelos partidos de esquerda, pelos sindicatos. Tentaram a derrubada do governo em 2005, mas ao temer as reações populares, trataram de deixá-lo sangrar até ser derrotado nas eleições de 2006.

Derrotados, o editor chefe de um dos jornais da direita dava murros na mesa enquanto andava, raivoso, em torno dela, na reunião do comitê de redação da empresa, gritando: “Onde é que nós erramos. Onde é que nós erramos?” (O mesmo personagem que tinha interpelado Lula em almoço na redação da sua empresa sobre como ele pensava governar o Brasil, se não sabia falar inglês?)

Tiveram que conviver com o Lula por dois mandatos e, pior (para eles), um presidente que foi recebendo apoios populares de forma crescente e inédita, na mesma medida em que a velha mídia perdia credibilidade e audiência. E passava a diminuir, pela primeira vez, a desigualdade que as elites tinham produzido como característica marcante do Brasil, rompendo com todos os dogmas que essa mesma elite jurava que eram inalteráveis.

O espectro que assusta as elites dominantes hoje, no Brasil, não é outro, senão o espectro Lula. O das camadas populares que passaram a ter seus direitos minimamente garantidos, que passam a ter consciência que um deles pode chegar a governar o Brasil e o faz de maneira incomparavelmente superior do que todos os anteriores representantes daquelas elites.

Lula tira o sono das elites e dos seus ventríloquos na velha mídia. Acreditaram nas pesquisas e se jogaram por inteiro atrás do seu candidato contra Dilma, até que tiveram que se ater à realidade de que o Brasil mudou - apesar deles. Resta-lhes acenar velhos fantasmas como o “espectro do comunismo”, quando o medo deles é do Lula, é medo do povo, é medo da democracia, é medo do Brasil.

quarta-feira, 16 de março de 2011

EU: EGO, CORPO & ESPÍRITO

As antigas tradições espirituais, e algumas delas sobrevivem até os dias de hoje, e continuarão a existir muito tempo depois de palavras como "tecnologia" e "internet" terem se tornado incompreensíveis,  afirmam que o ser humano é composto de três elementos: corpo, alma e espírito. 

O corpo é a criatura material, feita do pó da Terra, formado por ossos, sangue, músculos e carne. E ele deixará de existir um dia, pouco importando os avanços científicos. 
Não somos feitos para durar.

A alma é a combinação de nosso intelecto e de nossos sentimentos, nossas paixões e nossos vícios. E ela também deixará de existir após a morte.


 Se quisermos usar um vocabulário diferente para esta definição, podemos dizer que a alma corresponde ao nosso pequeno e egoísta "Ego".

Já o Espírito, este, sim, permanecerá. Só o Espírito, a face de Deus em nós, continuará a existir depois que tudo mais já tiver perdido sua função, e tiver desaparecido na escuridão. 

Eu não sou meu corpo; eu não sou meu Ego. Mas, infelizmente, eu também não sou o meu Espírito, ainda. 

Segundo grandes mestres espirituais -  pertencentes às mais variadas tradições possíveis, variadade essa fruto do nosso esforço desesperado de nos religarmos a Deus - cabe ao ser humano, seja ele macho ou fêmea, aniquilar o Ego, na esperança de que o Espírito possa surgir.
Sim, o Ego, nossas vontades, nossos desejos, nossas poucas ideias sobre tudo, precisam ser aniquiladas. 

"Aquele que, por amor a Mim, perder a sua vida, salvá-la-á", afirmou o Cristo (Evangelho segundo Mateus, 16:25).

Trata-se de uma escolha, de uma opção, mesmo que nos oferecer escolhas e possibilidades não seja uma das melhores ideias possíveis. 


E toda a escolha nessa arena deve ser baseada na fé, ou seja, na absoluta certeza de realidades que ainda não podemos ver ou entender. E a fé, se cultivada, cresce, como demonstrado alegoricamente por Jesus na Parábola do Grão de Mostarda (Evangelho segundo Mateus, capítulo 13, versículos 31 e 32):

"Jesus propôs-lhes outra parábola: «O Reino do Céu é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. É a mais pequena de todas as sementes; mas, depois de crescer, torna-se a maior planta do horto e transforma-se numa árvore, a ponto de virem as aves do céu abrigar-se nos seus ramos".
 
Ao longo da História humana, as diferentes tradições religiosas criaram sistemas por meio dos quais é possível ao homem progressivamente desligar-se do Ego e partir em busca do Espírito, este comprendido como a verdade última. 

Meditação, contemplação, jejum, oração e serviço aos pobres são alguns dos exemplos de exercícios espirituais propostos para alcançar esse objetivo.
 
Mais, em breve.

Paz e Bem!

segunda-feira, 14 de março de 2011

A IMITAÇÃO DE CRISTO: TENTAÇÕES & DISTRAÇÕES

No início do século passado, o escritor grego Nikos Kazantzakis, autor de A última tentação de Cristo, escreveu em seu prefácio ao livro:  

A substância dual de Cristo, o anseio tão humano, tão super-humano, que o homem tem de alcançar Deus, foi sempre um impenetrável mistério para mim. Minha maior ansiedade e fonte de toda alegria e de toda angústia desde a minha juventude foi o incessante e impiedoso conflito entre o espírito e a carne. E a minha alma é o local onde estas duas armadas se combatem e se encontram.

Aqui, de uma bela forma literária, está descrito o conflito comum a todas as pessoas. Ou pelo menos, a batalha que, em algum dia todos nós teremos de enfrentar.

Segundo a tradição cristã, ancorada na Bíblia, Jesus Cristo Homem enfrentou todas as nossas tentações, entretanto, sem cair em pecado.

Desta forma, Cristo sabe muito bem das nossas lutas e dos nossos esforços contra o pecado - compreendido como um ato que nos separa ainda mais de Deus - assim como está familiarizado às nossas vitórias e derrotas. 

Grande parte das tradições religiosas que existe no mundo de hoje compreende este conflito a partir da necessidade do ser humano de superar a sua natureza animal, relacionada à busca de satisfação de nossas necessidades básicas - alimentação, abrigo e sexo, por exemplo - e a tentativa de alcançar uma esfera superior, onde o ser humano não existe apenas para realizar estas necessidades.

Quando essas necessidades nos dominam e tornam-se o principal combustível da existência, então, estamos diante do pecado. E o pecado se torna real a partir da tentação.


A tentação é de nossa produção: nós lhe damos forma, sabor, perfume e cores, com base em nossos desejos. A tentação nunca é branca-e-preta.

O conflito, então, reside na luta entre nossas duas naturezas: uma animal e outra, espiritual. 

Para ajudar seus devotos a vencerem esta batalha, sistemas religiosos ao longo da História criaram um arsenal de técnicas - de oração e de ascetismo - reunidas em torno do termo genérico "exercícios espirituais".

O Budismo, por exemplo, propõe o desapego e a meditação. O Hinduísmo, em sua versão brâmane clássica, a completa ausência de confortos e bens materiais.

No Cristianismo, religião que tão bem soube aliar sua origem oriental com a filosofia ocidental, criando uma nova visão do mundo, que se tornou política-econômica-militarmente hegemônica, sempre houve a compreensão de que os bens materiais - e o dinheiro, principalmente - eram malévolos. Desta forma, foi possível a existência de movimentos ascéticos ao longo de toda a história da Cristandade.

Alguns grupos cristãos, como os cátaros - grupo que existiu na França medieval, até ser cruelmente exterminada pela Inquisição católica, acusada de heresia - por exemplo, propunham a separação completa entre o devoto e o resto do mundo, ainda que os cátaros vivessem em comunidades. 

Outra possibilidade é o monasticismo, onde o cristão, o monge,  se propõe a buscar a Deus em solidão.

Em última instância, a proposta cristã é de que o devoto - aquele que crê -  busque imitar a Cristo em sua vida cotidiana, em todas as atividades que exerça em seu dia a dia.

Com base em minha modesta experiência pessoal, posso afirmar que isso é extremamente difícil.

No dia a dia, enfrentamos uma série de distrações e outros problemas, que nos ocupam a mente. E a mente ocupada demais, ao contrário do que diz o ditado popular, também pode ser uma forma de derrapar nas estradas da vida.

Entretanto, obviamente, a principal dificuldade que qualquer pessoa enfrenta é a da tentação, aqui entendida como o desejo de fazer aquilo que não se deve fazer. Aquela vontade quase irresistível de fazer aquilo que prometemos a nós mesmos que iríamos manter distância...

No meu caso, que, felizmente, conheço minhas limitações, a resposta é simples: eu não enfrento as tentações; eu fujo delas.

Sei do meu coração. E sei muito bem dos tipos de desejos e vontades que se escondem nele.

Por isso, atravesso a rua quando vejo a tentação sorrindo na próxima esquina.

Paz e Bem!