Caio Fábio
Todos nós sabemos apreciar coisas como humildade, mansidão, lágrima amiga, busca de relações justas, intrepidez na perseguição da paz e da reconciliação, e coragem de consciência para suportar o antagonismo, sem ódio, porém com determinação e com o espírito contente por estar andando no mesmo caminho dos profetas que viveram antes de nós.
Bem, isto se a pessoa que encarne esses conteúdos não estiver entre nós e os nossos interesses. Isto porque, do contrário, à semelhança do que nossos pais fizeram, nós também os alijamos de toda possível presença e influência.
Tais pessoas são boas quando é bom pra gente, e ruins quando achamos que é contra a gente. Daí o profeta nunca ter honra em sua própria terra, pois a des-instalação que ele causa é de natureza profunda e visceral demais.
No entanto, quando sentei aqui para escrever, o que me moveu foi o fato de estar pensando como a gente é capaz de gostar da virtude, desde que ela ande bem longe de nós. Aliás, a gente elege certas pessoas como santas e virtuosas a fim de que elas cumpram esse papel pela raça humana, e bem longe de nós. Por isto os seres admirados sempre serem de terras distantes ou épocas remotas. E, assim, nos condenamos naquilo que aprovamos, pois chamamos a esses tais de virtuosos, mas não lhes imitamos o caminhar.
De fato, quem tem alguma coisa contra uma pessoa ser sempre ensinável e sempre pronta a crescer? Bem, dos humildes é o reino dos céus.
Quem se insurge contra a idéia de que seja bom que alguém seja capaz de se conter, e que exerça domínio sobre si mesmo? Ora, os mansos herdarão a terra.
Quem terá alguma coisa contra a pessoa que é capaz de expressar sentimentos e de chorar com solidariedade e com senso de propriedade e de intensidade? O que se garante é que o que choram serão consolados.
Quem desgosta da existência de pessoas boas e justas, e que não conseguem ter nenhuma satisfação pessoal em qualquer ganho que empobreça os outros? Os que têm fome e sede de justiça serão fartos.
Quem se entristece pela existência de gente que olha a vida com olhar limpo e puro, e que não carregue julgamento no coração contra o seu próximo? Ora, está dito que os limpos de coração verão cada vez mais a face de Deus.
Quem se sente mal com o fato de haver pessoas que sempre se empenham pela paz? Ou não está dito que os pacificadores serão chamados filhos de Deus?
Quem se ressente da existência de pessoas que não transigem contra suas consciências em nada do que diga respeito à essência da vida, ainda que o preço seja a perseguição? Acerca desses se diz que devem alegrar-se, especialmente se a resistência tiver sido pela consciência do Evangelho, pois este é o galardão do profeta.
Ora, se é assim, então por que não buscamos viver assim?
Só há uma resposta: É porque não cremos!
De fato, a cada dia mais eu acredito que o caminho da Graça nos leva a andar nessa trilha pela fé, e que à medida em que se caminha, tudo vai se tornando felicidade espiritual. Sim, tudo vira bem-aventurança.
Porém, sem fé no caminho, ninguém dá nenhum passo.
Chegamos naquele ponto da caminhada na qual toda confissão se faz acompanhar Daquela Voz que diz: “Vai, tu, e procede de igual modo”.
Jesus disse que este o modo de ser e ver no Caminho. Quem crê que almeje em fé esse existir. Esta é a vereda da Graça, e que é vivida em verdade somente deste modo.
O fruto da Graça é felicidade, é bem-aventurança no ser. Felicidade espiritual é a promessa do Caminho ao caminhante. A verdade não tem uma cara, mas tem um modo de ser existencial. E o fruto que recebe a bem-aventurança, é esse modo de ser da verdade.
Pense nisto!
Texto retirado de http://www.caiofabio.net/conteudo.asp?codigo=02708
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